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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Revista Época: "É gay, e tudo bem"

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Pessoas,

Matéria desta semana na Época. Fora o fato de continuarem tratando drags e travestis com o artigo masculino, a matéria tá interessante e até cita a palavra maldita "lésbica", traz a porcentagem de assumid@s (17,5%) no programa e fala de direitos, de diferença, além de promover o Dicesar.

Minha pulga atrás da orelha é só quanto às verdadeiras intenções da GLOBO em dar tanta visibilidade a L, G, e T no horário nobre, nas edições do programa, no site oficial e até na revista Época.

Tá aí a matéria, que está disponível para assinantes, mas eu consegui um acesso básico e tô repassando.

Há braços

Daniela Novais
Militante LGBT baiana independente




22/01/2040 - 22:28 - Atualizado em 22/01/2010 - 2
2:08

É gay, e tudo bem

O homossexual extrovertido do BBB cria um novo espaço de tolerância às minorias na TV

Nelito Fernandes

  Reprodução
“LOUCUGA”
Menino pobre, maquiador e drag queen, Dicesar traz o mundo gay para um dos programas de maior audiência da TV

Nasce uma “estguela”. De língua presa e franga solta, o drag queen Dicesar, que troca o “r” pelo “g”, trocou também o preconceito pela simpatia e está quebrando tabus na TV brasileira. Nesta décima edição do Big Brother Brasil, 17,5% de seus participantes são gays assumidos, em comparação a uma velha estimativa de 10% da população em geral. O programa já teve todo tipo de gays: dos enrustidos aos de identidade masculina, como Jean, vencedor de uma das edições. Mas, desta vez, o armário está escancarado.

E de lá saíram dois homossexuais festivos, que se autodenominam “bibas”, e uma lésbica, Angélica. Reunidos no grupo de “coloridos”, tr
ouxeram o mundo gay para um dos programas de maior audiência da TV brasileira e, diante das câmeras, já trocaram até um selinho, aquele mesmo que nunca foi ao ar na novela das 9. O big brother Biba é uma loucura! Ou loucuga, como diria Dicesar.

Na edição de terça-feira, o BBB fez pela aceitação das minorias sexuais muito mais do que milhares de artigos acadêmicos em defesa dos direitos dos homossexuais. Ao comentar sem rodeios a participação dos gays, o apresentador Pedro Bial usou de forma simpática o termo “bichice” e perguntou por que a sigla GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) mudou para GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transgêneros) : “E os simpatizantes?”. Elenita, professora de linguística que mantém uma comunidade simpática a gays no Orkut, explicou: “Não tem mais simpatizante (na sigla) porque todo mundo tem de ser simpatizante. Os gays têm de ter direitos iguais a todo mundo”. Os big brothers aplaudiram. Em seguida, foi exibido um clipe com os homens sarados da casa usando roupas gays, dançando como gays e imitando gays. “A televisão brasileira tem uma dívida com a cidadania gay, que está sendo resgatada. Pela primeira vez, estão sendo mostrados gays reais e felizes, sem aquela carga problemática e contida”, disse Cláudio Nascimento, do grupo Arco Íris.

Na semana retrasada, Dicesar e Sérgio, outro gay assumido, deram um selinho durante uma festa na casa. E assim, do nada também, foi-se um tabu. Dramaturgos, durante anos, tentaram fazer personagens gays se beijar. A má repercussão conservadora acabava adiando a cena. “E não é que o Boninho (diretor do programa) promoveu o primeiro selinho gay? Aquele que eu não pude mostrar. Valeu, Boninho”, escreveu a autora Glória Perez em seu Twitter, referindo-se ao beijo entre os personagens de Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro que ficou de fora da novela América. “A presença de homossexuais na TV brasileira não é novidade”, diz Bial. “Inovadora talvez seja a naturalidade com que estamos lidando com o assunto, potencialmente explosivo, com extremistas em todo canto.”

‘‘Eu era só a bichinha da família. Depois de aparecer na TV, virei artista’’
DICESAR, participante do BBB

Paranaense de 44 anos, Dicesar Ferreira dos Santos mora em São Paulo desde os 22. Durante o dia, ele é maquiador num salão de cabeleireiros; à noite, se apresenta em boates como Dimmy Kier, alter ego de enorme peruca ruiva, longos cílios postiços, sobrancelhas pintadas em formato “cara de má” e jeitão de cantora de banda punk. O drag queen teve uma infância difícil. Seu pai, que era dono de um cartório em Sertanópolis, no interior do Paraná, faliu por causa de dívidas em jogos de azar. Sem dinheiro e com credores em seu calcanhar, ele abandonou a mãe de Dicesar com os três filhos. Ela não tinha como sustentar as crianças e acabou deixando Dicesar num orfanato aos 8 meses de idade. O garoto virou a atração do lugar. Dançava para as freiras, fazia imitação de cantoras e chamava a atenção dos interessados em adotar crianças por sua alegria. “Um casal de estrangeiros quis levá-lo, mas eu não deixei. Era pobre, mas sabia que ia conseguir um dia criar meus filhos”, disse a mãe. Ele ficou lá até os 7 anos, com um irmão, até que sua mãe finalmente pudesse levá-lo de volta para casa. Aos 13 anos, quando trabalhava como entregador de farmácia, Dicesar soube que seu pai fora assassinado.


SELINHO

Dicesar (à esq.) e Sérgio trocam o selinho que não aconteceu na novela. Gays felizes, sem “problemática”

O trabalho como transformista serve para complementar o trabalho com maquiagem que começou por acaso. Maquiador de vários travestis de São Paulo, foi convidado em 2001 a participar do programa de Jô Soares. Com o sucesso da entrevista, Dicesar resolveu fazer shows “montado”, como diz. “Até aquela hora eu era a bichinha da família, depois de aparecer na TV virei artista.” Nas boates, além de fazer dublagem de músicas famosas, Dimmy também canta seus “hits”. Em geral, são músicas dance em que ele fala algumas frases com a famosa língua presa. “Podegooosa”, grita ele, “magavilhosa”, “toda fina, joga glitter e ilumina!”. Na noite, é considerado “top drag”, cujo cachê pode chegar a R$ 500 por noite.

Quando soube que tinha sido escolhido para participar do BBB, Dicesar anunciou que, se ganhar, comprará uma casa para a mãe e sairá da noite. “Tirando a peruca, sou uma pessoa normal como todo mundo”, diz. Essa talvez seja sua maior conquista. Mostrar aos espectadores que os diferentes são iguais e, assim, quebrar as resistências e o preconceito. “Você vai sair daqui 5% enveadado”, disse Dicesar a seu único desafeto na casa, o lutador Dourado, que usa um samurai nazista tatuado no braço. Dourado, que diz participar do “orgulho hétero”, duvidou. Mas, depois deste BBB, é certo que o Brasil sairá um pouco mais gay. Ou, no mínimo, menos antigay.

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