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Quando Jonathan se tornou professor, queria assumir sua orientação
sexual, mas em uma escola na qual era comum usar a palavra "gay" como
insulto, não estava certo de que fosse uma boa ideia. "Passei por um
dilema... como eu poderia servir de exemplo aos jovens que estavam
enfrentando dificuldades para assumir se eu mesmo não tinha coragem de
assumir minha orientação sexual em classe?", ele conta. Ele estava
trabalhando na escola há aproximadamente um ano quando um grupo de
alunas perguntou se era gay, e ele respondeu que sim.
No começo não houve problemas, e Jonathan se sentiu capaz de ajudar
alunos que estavam questionando a sua sexualidade. Mas o uso de
linguagem homofóbica persistia, em certos casos dirigida pessoalmente
contra ele. O que agravava a situação era a falta de apoio dos colegas e
dos dirigentes da escola. "A direção dizia as coisas certas, mas na
realidade não compreendia algumas das questões. Eu tinha de contestar o
uso de linguagem homofóbica a cada aula. Os alunos faziam comentários
ofensivos constantes, obviamente tentando me irritar ou humilhar".
Enfrentar as perturbações que isso causava dificultava administrar o
comportamento em sala de aula. "Era uma batalha incessante, e isso foi
me desgastando", diz. "Eu sentia muita ansiedade - às vezes me causava
lágrimas ao sair da classe, e havia dias em que eu tinha medo de ir ao
trabalho".
Mas quando Jonathan decidiu confiar seus problemas à sua superior
imediata, não encontrou a reação que esperava. "Ela riu e me disse que
não existia bullying contra professores. Creio que outros funcionários
da escola não compreendiam o motivo para minhas reclamações. Mas se eu
fosse um professor negro desafiando o racismo, ninguém teria questionado
minha postura".
Jonathan se demitiu um ano mais tarde, e diz que a homofobia que
enfrentou foi parte do motivo para sua demissão. As experiências dele
são ecoadas pelas constatações de um relatório de pesquisa publicado
alguns meses atrás pela Stonewall, uma organização que luta pela
igualdade dos homossexuais. O estudo, "The School Report", constatou que
96% dos alunos homossexuais ouviram expressões homofóbicas tais como
"poof" ou "lezza" em suas escolas - e esse comportamento muitas vezes
passa sem contestação da parte dos professores.
De acordo com as organizações que lutam pela igualdade, ter professores
assumidamente homossexuais pode oferecer exemplos de comportamento aos
jovens heterossexuais e homossexuais, mas muitas vezes falta a esses
professores o apoio de que necessitariam da parte de seus dirigentes e
colegas.
Uma pesquisa da Teacher Support Network, em 2006, constatou que dois
terços dos professores homossexuais haviam passado por discriminação ou
assédio moral no trabalho devido à sua orientação sexual. Para 81%
daqueles que sofreram discriminação de qualquer espécie, esta veio dos
alunos, mas 46% dizem ter sido discriminados por colegas e 33% por
dirigentes.
Sue Sanders, da Schools Out, uma organização sem fins lucrativos que
defende a igualdade dos homossexuais na educação, estima que apenas 20%
dos professores gays assumem sua opção sexual diante dos alunos. "Não há
apoio suficiente a eles", diz. "Professores já me disseram que os
diretores de suas escolas não permitem que saiam do armário. É algo que
eles deveriam combater, mas as pessoas se assustam".
É um grande problema que precisa ser enfrentado, disse Wes Streeting, da
Stonewall. "É necessário muito mais trabalho para garantir que os
professores homossexuais possam ser quem são no trabalho", diz. "Nas
escolas, muitas vezes existe a expectativa de que os professores
mantenham suas vidas particulares separadas dos alunos. Há muitos
motivos convincentes para que isso seja a norma, mas é realmente
importante que os alunos tenham exemplos positivos de comportamento. E
as pessoas trabalham melhor quando podem ser quem realmente são".
O legado da Seção 28 - uma lei britânica que proibia "promover" a
homossexualidade nas escolas - persiste, mesmo nove anos depois de sua
revogação, diz Streeting, especialmente porque muitos dos professores
atuais que foram treinados e começaram a lecionar naquela era.
Shaun Dellenty, vice-diretor da escola primária Alfred Salter, no
sudeste de Londres, cujo bem sucedido programa de combate ao bullying
homofóbico atraiu a atenção do Departamento da Educação britânico, diz
que o temor de represálias e a falta de treinamento são os principais
motivos para que alguns dirigentes escolares não se disponham a ajudar
os professores no combate à homofobia.
O preconceito aberto, bem como os erros continuados de percepção que
continuam a existir na sociedade, vinculando homens gays a pedofilia,
também influenciam, ele diz. "Os diretores estão preocupados com a
possibilidade de que os pais e os conselhos pensem que estão promovendo a
homossexualidade. Um professor me contou que seu diretor o havia
instruído a não sair do armário porque 'não poderei apoiá-lo se algo de
errado acontecesse'".
Felix, que trabalha em uma escola primária operada pela Igreja
Anglicana, ficou horrorizado com a resposta de seu diretor quando o
informou de que planejava assumir sua homossexualidade diante de seus
alunos de quarta série. "Ele disse que eu precisava pedir a permissão do
conselho. Tive de rebater que sair do armário era meu direito". Os
alunos foram maravilhosos quando foram informados, ele conta. Depois de
algumas expressões de "nojinho", eles iniciaram um diálogo sobre o que
significava ser gay, e uma menina explicou aos colegas que o significado
era simplesmente "homem e homem" em vez de "homem e mulher", recorda
Felix.
Mas passados alguns meses, os problemas ressurgiram. Ele conta: "O
diretor e o vice me disseram que um pai os havia procurado para afirmar
que muitos pais de alunos acreditavam que eu tivesse efeito
desestabilizador sobre a escola e que estava solapando o espírito
cristão da instituição. Depois, disseram que assumir a homossexualidade
em uma escola primária não era apropriado devido à idade dos alunos. Foi
devastador perceber que eu não contava com apoio pleno dos meus
superiores".
O treinamento tem papel vital a desempenhar, diz Dellenty, que vem
trabalhando com o National College for School Leadership (NCSL), a
organização setorial de desenvolvimento de dirigentes escolares; ele
conduziu uma oficina para dirigentes escolares sobre como superar as
questões que impedem que reajam à homofobia. Embora ele não atribua a
culpa pelos problemas automaticamente aos dirigentes escolares - que
muitas vezes não receberam treinamento adequado, diz -, o necessário é
uma abordagem estratégica comandada pelo governo para mudar o
treinamento inicial dos professores e dirigentes escolares quanto a essa
questão.
"Há 10 anos, muitos dos diretores de escola estavam preocupados com o
racismo porque temiam que dizer a coisa errada agravasse o problema.
Muita gente agora sente o mesmo no contato com os homossexuais", afirma.
Um porta-voz do NCSL disse ao "Guardian" que a organização já tomou
medidas para enfrentar o problema, entre as quais renovar o conteúdo do
manual nacional de qualificação profissional de dirigentes escolares,
que ajuda os dirigentes a reconhecer e enfrentar bullying causado por
preconceitos. E nem todas as notícias são más. Há, é claro, exemplos de
escolas em que os professores assumiram sua sexualidade diante dos
alunos e tiveram experiências positivas.
Bob McKay, professor de idiomas em Kent, acredita que os alunos de sua
primeira escola o respeitaram por revelar que estava noivo de um homem.
"Você tem um relacionamento muito mais fácil com os alunos se eles
sentem que existe um lado humano em você, e caso você seja gay e não
revele o fato, se torna difícil falar de sua vida, porque não pode falar
da pessoa com quem é casado".
Mas as condições precisam ser corretas, diz Suran Dickson, cuja
organização, Diversity Role Models, trabalha com as escolas britânicas
para rebater estereótipos negativos. "Os dirigentes escolares precisam
estar do seu lado; você precisa saber que a escola não aceita homofobia.
E você precisa estar confiante em sua situação pessoal".
Kate, professora de educação física, diz que às vezes sente vontade de
que os alunos perguntem sobre sua orientação sexual, porque isso a
pressionaria a assumir. Mas ela também teme a reação dos alunos e
colegas, e não sabe se está pronta para assumir a responsabilidade
adicional. "Parte de mim sente que eu poderia ser um exemplo positivo de
comportamento, mas isso mudaria completamente a dinâmica de minhas
aulas - e como professor você já tem tanto a lidar que é difícil tratar
de assuntos que nada têm a ver com as aulas".
Jonathan decidiu que não revelaria aos alunos de sua nova escola que é
gay. Ele desconfia que assumir sua orientação não causaria problemas, no
novo ambiente, mas a experiência anterior o preocupa. "Amo ensinar, mas
o que aconteceu me fazia não querer trabalhar", diz. "É uns escândalos
que ainda existam professores que não possam assumir abertamente sua
sexualidade".
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