Na mostra mais recente de aumento do poder da extrema direita, veto de líder radical holandês derruba governo e acirra crise mundial
Considerada uma ameaça à democracia por incitar ao racismo e à xenofobia, a extrema direita adaptou seu discurso e, diante da crise financeira europeia, chegou ao poder nos últimos anos em vários pontos da Europa. Nove países europeus já têm partidos de extrema direita em suas coalizões de governo central ou como peças fundamentais nos Parlamentos.
Em diversos outros, prefeituras são ocupadas por políticos desses partidos. A base de apoio, na maioria dos casos, vem justamente dos jovens, desempregados ou temerosos em relação a seu futuro.
Na Holanda, conhecida por sua tradição liberal em diversos campos, os extremistas de direita do Partido da Liberdade fizeram a Europa prender a respiração nesta semana. Seu líder, Geert Wilders (foto), recusou-se a dar apoio a um pacote de austeridade e obrigou o governo de Mark Rutter a entregar sua demissão. O que mais surpreende os especialistas é a expansão de seu partido em menos de uma década. Em 2006, tinha apenas nove assentos no Parlamento. Hoje, é o terceiro maior partido do país, com 15% de apoio.
Wilders acusa Bruxelas de ser uma "ditadura" contra os interesses nacionais holandeses e, nos últimos anos, multiplicaram-se propostas de controlar a entrada de muçulmanos, banir o Alcorão do país e até mesmo retirar a cidadania holandesa de muçulmanos. No restante da Europa, sua atitude também causa polêmica. Wilders foi contra a participação da Holanda no resgate da Grécia e criou uma crise ao levar para a embaixada grega em Haia uma nota de dracma, a antiga moeda de Atenas, num sinal de que pedia para a Grécia abandonar a Europa.
Um percurso similar foi registrado pelo partido Verdadeiros Finlandeses, em Helsinque. O grupo viu quadruplicar o número de eleitores em 2011. Liderado por Timo Soini, o partido também recusa-se a apoiar o resgate a países europeus em dificuldades. Terceira força política na Finlândia, a legenda propõe regras mais duras para a concessão da nacionalidade local e sugere que mulheres estudem menos para ter tempo de dar à luz "verdadeiros finlandeses".
Na Hungria, os ultranacionalistas chegaram a mudar a Constituição, revogar direitos de estrangeiros e promover uma série de leis que deixaram a UE e a ONU apreensivas. Bruxelas ameaçou suspender a ajuda financeira a projetos na Hungria se os planos fossem mantidos. Budapeste abandonou alguns deles. Mas o grupo se manteve no poder, determinado a continuar com sua agenda política.
Fronteiras. Na Dinamarca, o Partido do Povo é considerado peça central em qualquer negociação para a aprovação de novas leis. No ano passado, o país foi o primeiro da Europa e recuperar os postos de fronteira que haviam sido desmontados na criação do mercado comum europeu. Em seu programa de governo, a mensagem é clara: "A Dinamarca nunca foi um país de imigração. Portanto, não aceitamos a transformação para a uma sociedade multiétnica. A Dinamarca pertence aos dinamarqueses".
Noruega, Suíça, Suécia e mesmo a Itália têm também partidos de extrema direita com a capacidade de influenciar cálculos políticos. Na Grécia, a queda da administração de George Papandreou deu lugar a um governo de coalizão que, para existir, foi obrigado a chamar para compor o gabinete políticos da extrema direita.
Na Áustria, a existência da extrema direita no cenário político não é nova. Mas pesquisas mostraram que a conquista da prefeitura de Viena pelos extremistas no ano passado ocorreu graças ao voto dos jovens. Um fenômeno semelhante ao constatado entre os eleitores de Marine Le Pen, na França. "Porque é que os austríacos precisam pagar pelos erros dos países do sul da Europa?", questionou Heinz-Christian Strache, chefe do Partido da Liberdade da Áustria.
Perfil. Segundo um levantamento feito pelo instituto de pesquisa britânico Demos com 10 mil simpatizantes do movimento de extrema direita na Europa, o que prevalece entre os eleitores desses partidos é a forte presença de jovens e a noção de que o continente precisa ser protegido. Seja de imigrantes ou, mais especificamente, de muçulmanos. "O antissemitismo era o que unia esses partidos de extrema direita nos anos 20 e 30. Hoje, é a islamofobia que os une", diz Thomas Klau, do Conselho Europeu de Relações Exteriores.
A pesquisa foi publicada pouco tempo depois do massacre de Anders Breivik na Noruega, justificando suas ações pela necessidade de proteger a cultura norueguesa. A maioria dos partidos de extrema direita insiste que não aprova tal ação e prefere o jogo democrático, principalmente em um momento que ganham eleitores e eleições.
"Há milhares de pessoas desiludidas na Europa hoje", afirmou Jamie Bartlett, que conduziu o estudo. "Estão frustrados com os partidos tradicionais, com as instituições e preocupados sobre seu futuro pessoal", disse. "Encontram portanto em partidos ativos e motivados respostas simples para seus problemas. Políticos europeus precisam começar a escutar essas vozes e dar respostas", completou. Para analistas, outra constatação é que o discurso desses partidos de extrema direita se sofisticou. Mas não deixou de ser racista.
"Partidos estão tentando apresentar a oposição à imigração de uma forma aceitável à maioria das pessoas", alertou Matthew Goodwin, da Universidade de Notthingham. "A nova mensagem é de que não é racismo se opor aos imigrantes se o eleitor está fazendo isso do ponto de vista da defesa dos valores locais", explicou.
"O resultado é a explosão de apoio a esses países nos últimos cinco anos, incluindo Escandinávia, onde aparentemente a sociedade estava imune a essa tendência", completou.
Fonte: Estadão.com.br
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