"Casamento para todos” e adoção homoparental. Eis a primeira batalha de
François Hollande, uma das promessas de seu programa. O projeto de lei
será analisado pelo Conselho de Ministros na quarta-feira 7. Mas o
debate será no mínimo longo, visto que deverá continuar no Parlamento e
não escasseiam cidadãos favoráveis a um referendo.
O quadro é tão “explosivo”, escreveu um editorialista do semanário Journal du Dimanche,
que o projeto “Casamento para todos” (que inclui a adoção homoparental)
tem sido comparado com a abolição da pena de morte, em 1981. Uma
comparação no mínimo grotesca que demonstra o conservadorismo francês.
Nenhum país civilizado – inclusive os Estados Unidos – deveria exercer a
pena capital. Por outro lado, o “Casamento para todos” é um direito de
casais homossexuais.
No entanto, o problema principal para os franceses, que abordam esse
debate pela primeira vez com décadas de atraso, não é tanto a união
oficial de gays e lésbicas – e sim a adoção homoparental.
Segundo uma enquete realizada pela BVA para o vespertino Le Parisien,
58% dos franceses são favoráveis ao casamento homossexual, ante 63% no
ano passado. Por outro lado, 50% entre eles não são contrários à adoção
homoparental, ante 56% no ano passado.
A diferença entre os dois tópicos parece banal: no primeiro caso, as
pessoas têm o direito de exercer sua sexualidade e com os devidos
direitos de um casal homossexual. No segundo caso, numerosas pessoas se
indagam: de que forma evoluem crianças criadas por pais gays ou mães
lésbicas?
Em entrevista para o website Mediapart, a socióloga Martine Gross,
pesquisadora do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e
presidente de honra da Associação de pais gays e mães lésbicas, disse
que “o incessante argumento avançado pelos oponentes da adoção
homoparental é que uma criança deve ser criada por um pai e uma mãe”.
Mas Gross argumenta que desde os anos 1970 associações
norte-americanas de psicologia, psiquiatria e pediatria provam que não
há diferenças entre crianças de famílias homoparentais e aquelas
oriundas de lares heterossexuais.
Enquanto a esquerda se inquieta com a situação, a direita ainda não
se posicionou claramente por temer ser chamada de homofóbica.
Mais determinado, o cardeal André Vingt-Trois, o chefe da Igreja
Católica, tenta mobilizar os cristãos contra o projeto do governo.
Segundo ele, tudo não passaria de uma questão de “equilíbrio”, visto que
a espécie humana dependeria “da distinção entre os dois sexos”.
“Não seria um ‘Casamento para Todos’, mas sim um casamento de algumas
pessoas imposto por todos”, acrescentou o cardeal. Ele alertou, ainda,
que, se aprovado, o novo projeto criaria uma discriminação entre
crianças de casais heterossexuais e homossexuais. E vai saber quais
outros bichos-papões o cardeal vai inventar na sua cruzada contra
homossexuais.
Fonte: Carta Capital
0 comentários:
Postar um comentário