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segunda-feira, 22 de abril de 2013

A praxe perversa e recorrente de culpabilizar a vítima LGBT

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Itamar Ferreira Souza era um jovem de 27 anos, estudante de Produção Cultural da Universidade Federal da Bahia, que seguia com determinação o caminho de construir seu futuro. Querido por seus familiares e amigos, era tido como alguém de constante e contagiante bom humor.

Na manhã do último sábado, 13 de abril, Itamar foi encontrado morto, em uma das fontes do Campo Grande, em Salvador, com sinais de violência que apontaram para um homicídio cruel. Um detalhe, porém, definiu os contornos e os rumos da investigação policial e da cobertura da mídia: o jovem assassinado era homossexual.
Uma notícia veiculada no jornal Correio da Bahia, na segunda-feira, 15 de abril, trazia a seguinte manchete: “Sexo grupal atraiu aluno da Ufba para emboscada no Campo Grande, diz delegada”. De acordo com a versão divulgada pelo jornal, Itamar estaria bebendo com um amigo em um bar no Beco dos Artistas e, segundo declarações da titular da 3ª Delegacia de Homicídios que acompanha o caso, teria lá encontrado os criminosos e os atraiu para o Campo Grande, em busca de sexo.
Sem nenhuma declaração da segunda vítima, que conseguiu sobreviver, as apurações do Correio da Bahia e da polícia baseiam-se exclusivamente na versão dos criminosos, apressam-se a descartar qualquer traço de homofobia no crime praticado e atribuem convenientemente àquele que não mais pode se defender a responsabilidade pela tragédia que se abateu sobre ele próprio, numa perversa e recorrente inversão de papéis e valores que transforma vítima em algoz.
Comentários à notícia feitos na versão online demonstram a eficácia dessa estratégia. Ali se vê varias opiniões de leitores que culpam Itamar pelo ocorrido. Tomando a versão divulgada como definitiva e verdade inquestionável, a polícia, a mídia e a sociedade perpetram um segundo crime de morte: a da reputação da vítima.
Assim se constrói tijolo por tijolo o discurso homofóbico impregnado de pesada carga de preconceito, mentiras, inconsequência, desumanidade, crueldade e muito ódio. Assim também se escreve a sangrenta história de um Brasil recordista em homicídios motivados por homofobia, com uma morte a cada 26 horas, segundo dados do Grupo Gay da Bahia.
No caso em tela, não restam dúvidas sobre as consequências nefastas da homofobia institucional (da polícia e do jornal) que, oriunda de formadores de opinião com capacidade de ampla difusão de suas ideias, engrossarão o caldo da homofobia cultural de uma sociedade fundada na intolerância, na ignorância, na cegueira, na falta de senso crítico.
Por tudo aqui exposto, o Fórum Baiano LGBT, entidade estadual que reúne 84 grupos de todo o Estado que lutam por direitos humanos e por direito à livre orientação sexual e identidade de gênero, põe-se frontalmente contrário a práticas irresponsáveis que incitam o ódio e a violência contra a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.
 
Fórum Baiano LGBT

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