Na manhã do último sábado,
13 de abril, Itamar foi encontrado morto, em uma das fontes do Campo Grande, em
Salvador, com sinais de violência que apontaram para um homicídio cruel. Um
detalhe, porém, definiu os contornos e os rumos da investigação policial e da
cobertura da mídia: o jovem assassinado era homossexual.
Uma notícia veiculada no
jornal Correio da Bahia, na segunda-feira, 15 de abril, trazia a seguinte
manchete: “Sexo grupal atraiu aluno da Ufba para emboscada no Campo Grande, diz
delegada”. De acordo com a versão divulgada pelo jornal, Itamar estaria bebendo
com um amigo em um bar no Beco dos Artistas e, segundo declarações da titular
da 3ª Delegacia de Homicídios que acompanha o caso, teria lá encontrado os
criminosos e os atraiu para o Campo Grande, em busca de sexo.
Sem nenhuma declaração da segunda
vítima, que conseguiu sobreviver, as apurações do Correio da Bahia e da polícia
baseiam-se exclusivamente na versão dos criminosos, apressam-se a descartar
qualquer traço de homofobia no crime praticado e atribuem convenientemente
àquele que não mais pode se defender a responsabilidade pela tragédia que se
abateu sobre ele próprio, numa perversa e recorrente inversão de papéis e
valores que transforma vítima em algoz.
Comentários à notícia feitos
na versão online demonstram a eficácia dessa estratégia. Ali se vê varias
opiniões de leitores que culpam Itamar pelo ocorrido. Tomando a versão
divulgada como definitiva e verdade inquestionável, a polícia, a mídia e a
sociedade perpetram um segundo crime de morte: a da reputação da vítima.
Assim se constrói tijolo por
tijolo o discurso homofóbico impregnado de pesada carga de preconceito,
mentiras, inconsequência, desumanidade, crueldade e muito ódio. Assim também se
escreve a sangrenta história de um Brasil recordista em homicídios motivados
por homofobia, com uma morte a cada 26 horas, segundo dados do Grupo Gay da
Bahia.
No caso em tela, não restam
dúvidas sobre as consequências nefastas da homofobia institucional (da polícia
e do jornal) que, oriunda de formadores de opinião com capacidade de ampla difusão
de suas ideias, engrossarão o caldo da homofobia cultural de uma sociedade
fundada na intolerância, na ignorância, na cegueira, na falta de senso crítico.
Por tudo aqui exposto, o
Fórum Baiano LGBT, entidade estadual que reúne 84 grupos de todo o Estado que
lutam por direitos humanos e por direito à livre orientação sexual e identidade
de gênero, põe-se frontalmente contrário a práticas irresponsáveis que incitam
o ódio e a violência contra a população de lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais.
Fórum Baiano LGBT
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