Um levantamento realizado pela Secretaria de Direitos Humanos revelou  que foram registrados ao menos 278 assassinatos relacionados à homofobia  em 2011. Também foi constatada a ocorrência de 6.809 denúncias de  violações aos direitos humanos de homossexuais durante o ano passado.
   Parte do levantamento, ainda inédito, foi antecipada nesta  quinta-feira, Dia Internacional da Cidadania LGBT (Lésbicas, Gays,  Bissexuais, Travestis e Transexuais), pela ministra Maria do Rosário (foto). É a  primeira vez que um órgão do governo federal divulga oficialmente  números ligados à violação dos direitos dos homossexuais, identificados a  partir de denúncias feitas aos serviços Disque Direitos Humanos (Disque  100), Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), de dados do  Ministério da Saúde e por meio de notícias publicadas pela imprensa. Até  agora, a principal fonte de informações sobre o assunto era o Grupo Gay  da Bahia (GGB), cujo último relatório, divulgado em abril deste ano,  contabilizava 266 mortes violentas durante o ano passado.
   O levantamento aponta que, na maioria dos casos de agressão (61,9%), o  autor é alguém próximo à vítima, o que pode indicar um nível de  intolerância em relação à homossexualidade. Cerca de 34% das vítimas  pertencem ao gênero masculino; 34,5% ao gênero feminino, 10,6%  travestis, 2,1% transexuais e 18,9% não informado. Foram identificadas  ao menos 1.713 vítimas e 2.275 suspeitos.
   O coordenador geral de Promoção dos Direitos LGBT da secretaria,  Gustavo Bernades, disse que o fato de 49% das vítimas de homicídios  serem travestis indica que este é um dos grupos mais vulneráveis à  violência homofóbica, junto com os jovens negros. "Há também uma  violência doméstica que nos preocupa muito, porque é difícil para o  Estado interceder nestes casos. E a violência contra lésbicas também é  pouco denunciada".
   O levantamento mostrou ainda a existência de um grande número de casos  em que a família rejeita os jovens que revelam sua orientação sexual.  "Há, nestes casos, a violência dos pais que abandonam ou negligenciam  seus filhos. Tudo isso demonstra que precisamos de políticas públicas de  enfrentamento à homofobia, especialmente para os jovens, em particular  para os jovens negros".
   Pouco após divulgar os dados, a ministra anunciou a proposta de  incentivar a criação de Comitês Estaduais de Enfrentamento à Homofobia.  De acordo com Maria do Rosário, os comitês serão criados em parceria com  governos estaduais, com o Conselho Federal de Psicologia e com outras  organizações da sociedade civil.
   Os grupos servirão para monitorar a implementação de políticas  públicas, acompanhar ocorrências de violências homofóbicas, evitando a  impunidade, e sensibilizar agentes públicos responsáveis por garantir os  direitos do segmento. Também está em estudo a criação de um comitê  nacional que se responsabilize por coordenar a ação dos demais comitês.
   "É preciso compreender que um crime contra um homossexual atinge não  só a pessoa, mas a família e a sociedade como um todo. É assim que nós  sentimos no governo brasileiro", disse a ministra, adiantando que a  proposta de criação dos comitês ainda está sendo desenhada e vai  depender de parcerias. "Há uma vontade política inabalável do governo  federal de constituir mecanismos que mobilizem a sociedade contra a  violência homofóbica. Acreditamos que, com as parcerias, os recursos  necessários não serão tão grandes. O principal valor investido será a  mobilização permanente da sociedade", disse.
   O presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais,  Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, comemorou o anúncio da  ministra em pleno Dia Internacional da Cidadania LGBT, mas lamentou os  números do levantamento. "Este posicionamento político de estabelecer o  comitê nacional e os estaduais é muito importante. Já vínhamos  denunciando a situação, mas hoje temos um dado oficial. É o governo  brasileiro quem está reconhecendo que houve 6.809 violações dos direitos  humanos de pessoas homossexuais", disse Reis, prometendo que as  associações não-governamentais irão apoiar qualquer proposta da  Secretaria de Direitos Humanos que vise a combater a homofobia,  sobretudo a criação dos comitês estaduais.
Fonte:  Agência Brasil
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