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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Carta de repúdio do Fórum Baiano LGBT à revista Veja

3 comentários
Salvador, 14 de novembro de 2012.

Senhor(a) Editor(a)-chefe da revista Veja,

O Fórum Baiano LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), entidade estadual que reúne 71 grupos de todo o estado da Bahia que lutam por direitos humanos e por direito à livre orientação sexual e identidade de gênero, repudia o artigo “Parada Gay, cabra e espinafre”, assinado por J. R. Guzzo e publicado nas páginas 116 a 118 da edição de 14 de novembro de 2012, por se tratar de um arsenal de vitupérios homofóbicos, preconceituosos e difamatórios, sustentados por argumentação frágil, ignorante e desqualificada.

Esclarecemos que o sentimento de indignação aqui exposto é compartilhado por militantes, jornalistas, articulistas e blogueiros que tornaram pública, em diversos veículos de comunicação em todo o país, idêntica reprovação à postura vil assumida por essa revista quando da divulgação do referido artigo. Além disso, temos a convicção de que muitos entre os leitores e assinantes dessa revista não apenas não compactuam com tais opiniões, como também as condenam de forma veemente.

O primeiro traço de ignorância ou – muito mais provável – má-fé observa-se na insistência do autor do artigo em usar o termo “homossexualismo” para se referir à orientação sexual daqueles que ele tenta, a todo custo, desqualificar. Será mesmo necessário lembrar que o termo de uso corrente é “homossexualidade”? O outro, de preferência do articulista, era adotado em épocas remotas para designar uma doença, mas foi definitivamente banido da lista do Código Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde desde 1990. É sob essa ótica que ele insiste em ver a homossexualidade?

Aliás, a teimosia em ver a homossexualidade como doença fica bem clara quando J. R. Guzzo afirma que a doação de sangue não é um direito ilimitado e que também é proibido àqueles que tenham uma história clínica de diabetes, hepatite ou cardiopatias. O que ele não sabe (e não nos causa espanto perceber mais essa ignorância) é que doação de sangue por pessoas LGBT não pode ser coibida e, caso seja, tal atitude pode e deve ser sempre denunciada.

Sim, somos obrigados a concordar com Guzzo que “já deveria ter ficado para trás no Brasil a época em que ser homossexual era um problema”. Mas lamentavelmente não ficou, e a lesbofobia, homofobia, bifobia e transfobia persistem como cânceres sociais, tornando a expressão da homossexualidade um risco de vida cada vez maior. Sobre isso, convenhamos que confrontar 300 assassinatos de pessoas LGBT no país ao longo de um ano com os 50 mil homicídios em geral no mesmo período é a mesma artimanha leviana usada por tantos reacionários que desejam mudar o enfoque dos crimes homofóbicos na tentativa de transformar os fatos cruéis em um delírio coletivo. Os 300 assassinatos de pessoas LGBT referem-se exclusivamente aos crimes de ódio motivados pela orientação sexual ou identidade de gênero. Se somarmos a ele os registros de pessoas LGBT vítimas fatais de arrastões, sequestros-relâmpago e assaltos nas ruas, por exemplo, esses índices aumentarão sobremaneira. De resto, desconhecemos registros de crimes contra qualquer pessoa pelo simples fato de ser heterossexual.

Também alegar que o movimento gay é uma fábula, uma invencionice, uma ficção é, na melhor das hipóteses, desconhecer a história, ou seja, sinônimo de burrice. Se considerarmos a revolta de Stonewall, ocorrida em Nova York, no dia 28 de junho de 1969, como marco inicial do movimento em favor da luta por direitos dos homossexuais, só aí já se vão 43 anos! Será mesmo necessário relatar tudo que foi feito desde então ao redor do mundo em forma de luta social?

Homossexuais não devem ser tratados como um bloco só por que são distintos entre si? E qual grupo social é formado pessoas homogêneas, indistintas ou robôs? Como afirma Jean Wyllys no artigo “Veja que lixo!” (http://jeanwyllys.com.br/wp/veja-que-lixo), “a comunidade LGBT existe em sua dispersão, composta de indivíduos que são diferentes entre si, que têm diferentes caracteres físicos, estilos de vida, ideias, convicções religiosas ou políticas, ocupações, profissões, aspirações na vida, times de futebol e preferências artísticas, mas que partilham um sentimento de pertencer a um grupo cuja base de identificação é ser vítima da injúria, da difamação e da negação de direitos!”. Apesar de distintos, temos uma causa comum. Isso é o que constrói um movimento social. Não, os preconceitos dos quais somos vítimas não são imaginários e os direitos pelos quais lutamos não são duvidosos.

Sobre a “brilhante” comparação entre o casamento igualitário e as relações entre homens e cabras, é preciso lembrar que pessoas LGBT não são cabras nem qualquer outro animal irracional. Aliás, a diferença entre nós e o articulista é exatamente essa: nós pensamos. Sabendo disso, devemos lembrar que as leis estão aí inclusive para serem modificadas, pois a sociedade evolui e não pode ficar escrava de uma letra morta. Imagine se fôssemos obrigados a seguir ao pé da letra o Código Civil Brasileiro instituído em 1916 e que vingou por longos 86 anos. Se o casamento, por lei, é a união entre um homem e uma mulher, é isso que nós queremos e podemos mudar, justamente por que buscamos igualdade de direitos com qualquer outro cidadão brasileiro. Não estamos muito dispostos a ter que declarar heranças em testamentos para garantir 50% dos nossos bens a companheir@s, visto que são muitas as histórias de batalhas judiciais desfavoráveis a pessoas LGBT por pura e simples homofobia institucional.

Fórum Baiano LGBT

3 comentários:

deboraaranha disse...

Apoiada a nota de repúdio do Fórum Baiano LGBT à Revista Veja. Boicotemos esses veículos de comunicação que desinformam e deseducam a população. Como podemos obter o direito de resposta? A revista pode simplesmente ofender abertamente uma parte considerável da população?

Anônimo disse...

Uma parte considerável da população... COMO?!!! Ora, moça, vai catar coquinho...

Unknown disse...

Revista Veja Chama Chalita de veado e o destrói:

https://caioares1.wordpress.com/2014/10/01/novo-escandalo-com-a-veja-forcou-gabriel-chalita-a-renunciar-a-politica-parte-2/

https://caioares1.wordpress.com/2014/12/20/caio-ares-veja-chama-chalita-de-veado-e-o-destroi-3/

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