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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

BA: Antropólogo rebate ecologistas e quer encontro de jegues

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Claudio Leal


Encontro do Jegue de Cueca com a Jega de Calçola: "um amor probido" (Foto: Fátima Fróes/Divulgação)

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o jegue coordenaram- se e novamente se desencadeiam sobre o Carnaval da Bahia. As entidades ambientalistas Terra Verde Viva e Célula Mãe, informam os jornais baianos, resolveram pedir a proibição do uso de animais - quadrúpedes, quadrúpedes - no tradicional desfile de protesto da Mudança do Garcia, em Salvador. E na cidade onde já troteou Ruy Barbosa, a Ordem dos Advogados do Brasil, seção Bahia, resolveu assinar conjuntamente o pedido ao Ministério Público.

Além da Mudança, a Lavagem do Bonfim sofreu semelhante medida higiênica, e por princípio contrária aos maus tratos dos carroceiros. As manifestações mais escrachadas do Carnaval baiano podem, dessa forma, perder suas intimoratas carroças, seus cavalos alazões e, especialmente, seus afamados jegues. Como diria outra vez o carnavalesco Gegê: e não lhes dão o direito de defesa.

Mas uma voz se levanta, às duas horas da tarde, na Bahia: o antropólogo Roberto Albergaria, doutor pela Universidade de Paris III, que não tinha entrado na história, enviou a Terra Magazine um libelo em defesa de um dos encontros mais líricos do reinado de Momo: o do Jegue de Cueca com a Jega de Calçola (vale a troca de peças íntimas). Albergaria se lança tão dramático quanto o Padre Vieira em socorro aos jumentos. Escutemos o sermão.


As artes do jegue travesti

Por Roberto Albergaria

As ideias de jerico tomam conta dos ecochatos xiitas da Bahia, através das lideranças espiroquetas mais culturalmente desinteligentes. Agora, combatem a presença de animais nos blocos carnavalescos. Em Salvador, a península de Itapagipe ainda mantém o espírito pícaro do velho Entrudo - que está presente nas "brincadeiragens" (bricadeiras + libidinagens) do nosso Carnaval popular. É assim que realizamos aqui, há várias décadas, o nosso tradicional Encontro do Jegue de Cueca com a Jega de Calçola. Festança que representa a abertura oficial da patuscada momesca para o conjunto da macharada e do abundoso veadeiro local.


O cortejo do nosso irmão encuecado sai do arrabalde do Uruguai e o da sua noiva encalçolada lá das buraqueiras da Massaranduba. E o casalzinho orelhudo se encontra, nupcialmente, no Largo do Papagaio - seguindo o "rapaz" e a "moça" com seus padrinhos, depois, para um animado banho de mar na praia da Boa Viadagem.

No ano passado propus à "Comissão Desorganizadora" que ventilasse um pouco mais a tradição, promovendo o encontro de dois jeguinhos ou de duas jeguinhas, ao invés do surrado casal hétero (representando a "moral de jegue" da enganosa família baiana de antanho?). Seria uma forma, já pós-moderna, de homenagear a alegria da metade gay da península, agora mais numerosa e ativa que a nossa sisuda metade chifruda.

Infelizmente, a "Comichão" não aceitou minha sugestão, alegando que o padre Walter, do Bonfim, iria excomungar todos os bípedes e quadrúpedes de todos os confusos sexos cá da Cidade Broxa inteirinha... Mas o Diabo não quer nada perfeito! O fato é que, quando o cortejo da jeguinha chegava lá no largo da Madragoa, a lindinha pediu para fazer xixi. E para não molhar a graciosa calçolinha cor-de-rosa, os patuscos se apressaram em abaixar seus airosos paninhos-de- bunda.

Surpresona! O que viram, pasmos, foi o documento (do tamanho-de-um- jegue!) de um "rapagão" virilíssimo - e não as partinhas mimosinhas da "mocinha", fantasiada de Carmen Miranda, que vinham beijando e apalpando no caminho.

O bloco foi enganado pelo patife do carroceiro que alugou o suposto casalzinho - e que recebeu o dinheiro adiantado, "lavando a jega". Convocada a depor, a dona dos animais explicou a troca: a sua jega estava grávida e não poderia ganhar a avenida.

Pois bem: passado o choque visual inicial, os patuscos encachaçados evoluíram de opinião imediatamente. .. Daí que logo estavam enxodozados pelo novo companheiro de farra.
Tudo normal no Carnaval, pois cabeça de bêbado não tem dono nem sexo certo. E jegue (nosso "avatar machulino"?) não tem juízo mesmo. Graças ao Deus Momo e a São Cornélio!

Roberto Albergaria é colhudeiro antropólogo & arteiro jególogo baiano.

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