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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Diretor Geral da ABC responde a articulista do A Tarde

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Caro jornalista Oscar Paris,

li atentamente seu artigo "Adrenalina do mal", no jornal A Tarde desta terça-feira, dia 23 de fevereiro de 2010 (caderno Esporte Clube, pág.2), e ele contém afirmações preocupantes para com os homossexuais.

Entendo sua indignação perante as cenas de violência de torcedores do Palmeiras e São Paulo antes e depois do clássico do último domingo, no Palestra Itália. Faço da sua indignação a minha e de todos(as) que viram as imagens nas TVs.

Concordo que a violância das torcidas organizadas é fruto da ação de pessoas irrracionais. Em suas palavras "gângsteres das arquibancadas", "animais disfarçados de seres humanos" ou "torturadores frios e sanguinários" .

Entretanto, em suas análises, você chega "a duas conclusões", sendo que é da primeira que quero tratar.

Segundo o senhor: "A primeira delas [conclusão] é que estes caras não gostam de mulher, pois do contrário não dariam a vida para ficarem grudados em homem. Mas como morrem de medo de sair do armário, descontam a frustração distribuindo porrada". E emenda: "São esses que, ao se verem no papel passivo que tanto execram, acabam matando os parceiros com requintes de crueldade".

Essa afirmação é absolutamente descontextualizada. O que quer dizer com "ficam grudados em homem"? Refere-se às ser integrante de torcida organizada ou de participar de brigas? Nos dois casos qual a relação entre "não gostar de mulher" ou "morrer de medo de sair do armário"?

Parece absurdo o desenvolvimento da sua ideia, qual seja: esses homens (membros de torcidas organizadas) não gostam de mulher PORQUE dão a vida para ficar grudados em homem E, sendo homossexuais enrustidos, ou seja, não saem do armário, são frustrados e distribuem porrada. Repare que falta lógica no raciocínio, principalmente com a questão em si: violência das organizadas. Quer dizer que se trata de gays frustrados? É essa a "conclusão"?

É sabido que existem muitos casos de violência homofóbica em que o parceiro não se reconhece como homossexual, faz o papel passivo e 'vinga-se' assassinando o ativo da relação, que seria homossexual assumido.

Mas repare que sua frase está desconectada com a própria "conclusão' a que você tenta chegar (sim, porque não consegue de fato): de que passividade o senhor se refere afinal? De onde tirou a ideia de eles "se veem no papel passivo"?

Caro jornalista Oscar Paris sabemos das forças das palavras. Como colunista deves saber mais que eu da responsabilidade de se tratar delas, dado que é a sua profissão. Nesse sentido, como jornalista do maior jornal baiano, é um desserviço enorme para com a comunidade homossexual baiana e brasileira afirmações de que homens violentos de torcidas organizadas assim o são porque 'não gostam de mulher', 'ficam grudados em homem' ou "morrem de medo de sair do armário".

Sabemos que a homofobia é causa do preconceito, da discriminação e da violância para com os homossexuais. A cada três dias uma homossexual é assassinado no Brasil.

Repercussões negativas da homossexualidade, como as do seu artigo em questão, contribem com a ideia de que a homossexualidade é um mal, dessa forma contribuem para a banalização da homofobia.

Muitos são os/as homossexuais que apreciam o futebol. Eu mesmo conheço aos montes. Eu mesmo sou frequentador de estádio, acompanho os campeonatos e leio a parte de esportes dos jornais. Como eu muitos ficaram estarrrecidos com a sua 'conclusão'.

Acredito que o senhor deve um pedido de desculpas aos homossexuais pela comparação feita.

Estaremos aguardando.

Saudações esportivas e homoafetivas.

Wesley Francisco da Silva
Diretor Geral Associação Beco das Cores - Educação, Cultura e Cidadania LGBT
Salvador - Bahia

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