Formado por 18 milhões de brasileiros, público consumidor gay que o IBGE vai, enfim, retratar faz empresários abandonarem o conservadorismo para lucrar alto
POR ALINE SALGADO
Rio - Antes invisível para a sociedade civil e o mundo dos negócios, o público gay e simpatizante (GLS) vem superando as barreiras do conservadorismo e ganhando a atenção de empresários e do poder público. Este ano, enfim, o Brasil terá a real noção de quanto da população é formada por casais homossexuais. O Censo 2010, coordenado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), pretende mapear a diversidade presente no País — até o último levantamento, estimava-se que eram 18 milhões.
Mais refinado no consumo, exigente e com alto poder aquisitivo, o público gay é responsável por cerca de 20% do crescimento econômico brasileiro. Estudos da Associação de Empresários GLS do Brasil apontam ainda que aproximadamente R$ 200 bilhões são injetados por essa parcela dos consumidores no mercado nacional anualmente. No Rio de Janeiro, só as paradas gays já movimentaram R$ 145 milhões.
Turismo, lazer, moda, beleza. O chamado “Pink Money” está em todos os segmentos e começa atrair empresários ávidos por lucrar. Mas, apesar das potencialidades, o investimento das empresas brasileiras nesse mercado ainda é tímido.
Ou, segundo define Franco Reinaudo — autor do livro ‘O mercado GLS’ e chefe da Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual da Prefeitura da Cidade de São Paulo — é ainda um segmento “incompreendido pelos homens de negócio do nosso País”.
“Pesquisas indicam que 10% da população são homossexuais. Mas há ainda os 20% a 30% que se identificam com o público gay, como os bissexuais e os agregados, filhos e parentes. É um mercado gigantesco, que gera em torno de R$ 200 bilhões por ano. Mas não é necessariamente um setor reconhecido fisicamente”, afirma. Segundo Franco Reinaudo, faltam investimentos no preparo e em pesquisas que revelem melhor esse segmento, além dos estereótipos.
“O grande erro dos empresários é tentar traduzir pesquisas de mercado hétero para as questões homo. É um público bem diversificado, com padrões socioeconômicos diferentes que só tem em comum a orientação sexual, mas que privilegia não só a qualidade do produto ou serviço, como também a postura da empresa”, explica o especialista.
Ana Quaresma viu no segmento GLS uma boa oportunidade de negócios. Há um ano, lançou uma loja de roupas voltada exclusivamente para o público gay. “Foram mais de 10 meses trabalhando no conceito da marca, que teve inspiração na Califórnia” conta a empresária, que é heterossexual.
Turismo GLS deve crescer 9% mais que o hétero
Pioneiro, o setor de turismo e hotelaria vem se esforçando para se adaptar à nova demanda. Estudos da Abav/SP (Associação Brasileira de Viagens de São Paulo) mostram que o turismo GLS cresce mais que o segmento tradicional. Para este ano, a expectativa é que o setor alavanque em 34% as atividades em todo o País — 9% acima do convencional.
“Bons serviços, preço e qualidade. São os principais quesitos buscados pelo público GLS. E o setor, por seguir tendências internacionais, é um dos mais desenvolvidos”, afirma Clovis Casemiro, ex-presidente da Associação Internacional de Turismo GLS.
ACEITAÇÃO E TOLERÂNCIA NO CONSUMO
FÁBIO MARIANO, professor da ESPM
Professor da Pós-Graduação em Ciências do Consumo Aplicadas da ESPM/SP, Fábio Mariano acredita que o mito do consumidor gay associado ao consumo de luxo contribuiu para a maior tolerância, por parte da sociedade, do grupo GLS. Mas a aceitação da diversidade ainda é obstáculo a ser vencido na democracia brasileira.
1. Qual é o perfil do consumidor gay e quais sãos as potencialidades do setor?
Realmente, eles possuem um poder de compra maior ou equiparado ao dos casais convencionais. Mas o que os empresários esquecem é que há tons diferentes dentro desse arco-íris. Existe uma diversidade de tipos de consumidores nesse mercado crescente.
2. O Brasil ainda enfrenta entraves para o desenvolvimento do mercado GLS?
O mercado para o público gay é mais evoluído e organizado nos países em que, de fato, há o reconhecimento da cidadania, do direito do homossexual. Se há ainda direitos não reconhecidos, como a pessoa vai entrar em uma loja que é gay? Há ainda o medo do preconceito por parte dos empresários de se posicionarem como simpatizantes. Além disso, falta pensar e desenvolver produtos, serviços e propagandas adaptados a esse público.
Fonte: O Dia
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