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quinta-feira, 6 de maio de 2010

[ARTIGO] O velho feminismo e a nova mulher Contemporânea - Andrezza Almeida

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 Por Andreza Almeida*

Car@s Amig@s,

Coisa difícil nesta vida é ser mulher, a opressão está ai viva, conseguimos muita coisa e muitas outras ainda estão por conquistar, bem como muita coisa ainda precisa se feita para vencer o “monstro do machismo” que esta ai a espreita, só esperando um brecha para avançar sobre nós e nos derrotar, é uma luta cotidiana, feita a cada minuto, é de nós para nós mesmas e de nós para o mundo.

O feminismo tal como o conhecemos e talvez tal como o reproduzimos precisa passar por sérias atualizações, e hoje não existem impedimentos institucionais para que mulheres ocupem espaços de poder, cargos em direções, virem chefes, presidentes, diretoras, sejam legisladoras, executivas, líderes sindicais, mães, amantes, mulheres, avós, tias e ainda resolvam os problemas da casa, são mil poderes e temos tempo para todos eles.

O poder está ai e cada dia mais o feminino ganha espaço e algumas mulheres conseguem representar muito bem anseios de milhões de mulheres, mas eu lhes pergunto é suficiente?  

Alguns aspectos realmente precisam ser ressaltados, aproveito a proximidade do dia das mães para refletir sobre o que eu aprendi que era ser mulher, e como o mundo  nos faz mulheres outras, que não aquelas esperadas pelas criações, que nos tomam por vítimas de um sistema opressor, criador de fragilidades, determinadas por estarem diante de um poder muito maior que é o poder que tem parido e criado o mundo.

E como coisas belas, raras e caras, são destinadas aos cofres e cativeiros, ainda os vivemos, não mais de pedra e ferro, mas desta vez grades virtuais, que são rompidas por algumas companheiras, mas continuam a existir ali, invisíveis e reais, aprisionando tantas outras.

É preciso que se diga, são dependências emocionais, fragilidades sociais, dificuldades estruturais e contingências ancestrais, os determinantes dos nossos parâmetros de conduta, são nossos afetos em relação á nós enquanto “mulheres & expectativas” e o nosso ser agente transformador da realidade e a quase impossibilidade de separarmos uma coisa da outra.

O que é necessário compreender é que precisamos passar por uma re-leitura do nosso feminismo, talvez  da grande teoria feminista que nos colocou imersas nas pautas de medo dos padrões de consumo, da maternidade, da libertação sexual e do exercício da multiplicidade dos afetos.

Nosso feminismo é hostil e distante das fragilidades que os homens, não os machos, impuseram e nós aceitamos, talvez por serem em alguma medida confortáveis, afastam-nos da necessidade da luta, do uso do nosso poder e da necessidade de enfrentarmos demônios íntimos e coletivos todos os dias.  

Esse outro mundo que a emancipação feminista forjou a custa da luta de algumas mulheres, precisa ser de todas as mulheres, criamos ícones de luta, forjamos referencias de luta, mas não investimos verdadeiramente na idéia de sermos livres e companheiras. 
O nosso feminismo também julga algumas mulheres mais importantes que outras, também estabelece parâmetros para maquiagens, roupas, padrões sexuais. Quando sabemos que o problema da sociedade igualitária não é esse.

 Esse novo feminismo que queremos tem dois pés dentro da diversidade sexual, é o respeito ao peito, o respeito aos excessos e as singularidades, como dizem meus companheiros de luta dentro do movimento de Diversidade Sexual é preciso Fechar! Aparecer, empoderar-se, sempre e isso é tanto uma luta intima dentro de nós vencend,o informações defasadas e fazendo cada vez mais livres os nossos corpos, as nossas mentes e as nossas vontades.

Precisamos deixar que as mulheres tirem de dentro de si o que quiserem, como os filhos que não escolhemos como virão, mesmo que já possamos decidir, se, quando e quantos teremos.

Falta-nos uma visão libertadora dos parâmetros de comparações entre formatos, modelos, enquadres e encaixes, a verdadeira feminista é livre dos rótulos e poupa-se de colocá-los.

E lhes digo esse novo modelo de feminismo não é heterossexual, ele é múltiplo, é  simplesmente sexual tendo em vista que concede o direito ao corpo e o exercício da cidadania, é o nosso julgamento sobre as vontades alheias, é o nosso olhar de reprovação que dificulta que , de fato, muito mais mulheres estejam por ai a empoderar-se  garantir os avanços de nossas pautas e quem sabe a extinção do debate do antagonismo de gênero, fruto da extinção desse antagonismo.

Queremos nosso corpo livre? Façamos! Livre de quem? Quem está aprisionando nossos corpos? Quais as amarras que lhes prendem? Temos medo da industria de cosméticos? Por que temos medo de envelhecer?  Tememos os padrões que consumimos e legitimamos.

E definitivamente esse não é o foco do debate.

Creio realmente que o cerne do debate é sermos livre, livres de medos próprios, livres da condenação nossa de cada dia, das cercas com as quais impomos para nós mesmas e para outras companheiras e mundos tacanhos.

Um novo feminismo e a nova mulher pós-moderna. A Mulher pós-moderna (com perdão da má palavra), talvez ao contrário do homem pós-moderno, é engajada, trabalha, consome, vive sozinha, separou-se, fez sexo sem compromisso, deu por amor e por vontade, abortou ou nunca engravidou, realizou desejos e fantasias sexuais, sente-se bem com o próprio corpo, sem-vergonha, por que a mulher pós-moderna sabe que seu corpo lhe pertence e não pode e não deve ser alvo de ameaças ou constrangimentos, sejam eles físicos ou morais. A mulher pós-moderna, age e reage, dá, doa e recebe.  

A liberdade sexual, a superação da imposição dos valores e a compreensão dos novos modelos de família e sexualidade são fundamentais para uma atualização do movimento feminista que ganhe mulheres não somente para suas pautas, mas para o poder, o poder de lutar por creches para as companheiras com filhos, por mais acesso á saúde, por jornadas menores para mães de filhos pequenos, pela regulamentação dos vários direitos ao corpo, o poder de lutar por melhores condições de trabalho, de inclusive casarem-se com outras mulheres.

Nós não queremos igualdade entre os sexos, mas antes sim o respeito  e o reconhecimento às diferenças e singularidades que compões as sexualidades, sejam elas hormonais ou subjetivas.

É preciso camaradas começar a construir um novo jeito de ser feminista, menos preocupado com como é que se deve ser mulher e mais envolvido com a necessidade premente de que as mulheres tornem-se mulheres, libertem-se de ser machistas, tomem as rédeas de seus destinos e possamos caminhar juntas e juntos reconhecendo nossas diferenças e respeitando nossas singularidades.

Assim que quando mais tarde nos procurem diremos, nos libertamos de nós mesmas, dos nossos próprios preconceitos,  e dos monstros debaixo e em cima de nossas camas, ai sim! nos tornamos verdadeiramente livre!

Mas até lá temos muito trabalho pela frente e muita ainda por dizer...


* Mulher, bissexual, solteira , sem filhos, filha de mãe solteira, criada com vó.

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