Gays e outros HSH são mais escolarizados, têm maior poder aquisitivo e acessam mais o serviço público de saúde do que os homens em geral
Estudo do Ministério da Saúde realizado em 10 cidades brasileiras mostra que essa população realiza testes com maior frequência do que a média dos homens. Gays e outros HSH também acessam mais preservativos na rede pública de saúde
Entre os gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) entrevistados em 10 cidades brasileiras, o nível de escolaridade é mais alto do que os homens em geral. Dos 3.610 homens que responderam ao levantamento, 52,2% possuem 11 anos ou mais de escolaridade. Pesquisa sobre Comportamento, Atitudes e Práticas Relacionadas às DST e Aids da População Brasileira de 15 a 64 anos de idade (PCAP), de 2008, mostra que, entre os homens em geral esse índice é de apenas 25,4%. Entre eles, o maior percentual varia de 4 a 7 anos de estudo (40,1%). Os dados foram divulgados hoje durante o VIII Congresso Brasileiro de Prevenção das DST e Aids e o I Congresso Brasileiro das Hepatites Virais.
Nos últimos 12 meses, 23,5% dos gays e outros HSH fizeram o teste de HIV. Segundo a PCAP 2008, menos da metade (11,2%) dos homens em geral foram testados no mesmo período. Chama a atenção o maior percentual de gays e outros HSH que realizam a testagem nos serviços públicos de saúde: 66,7% deles receberam o diagnóstico para o HIV em centros de testagem e aconselhamento ou na rede pública de saúde. Na população masculina em geral, segundo a PCAP 2008, esse percentual é de 40,6%.
Questionados sobre sua percepção de risco, os outros HSH também demonstram maior nível de informação. Entre aqueles que se testaram alguma vez na vida, 53,9% o fizeram porque achavam que tinham algum risco de ter se infectado ou por “curiosidade” de saber sua condição sorológica. Entre os homens em geral, 32,7% procuraram o serviço de diagnóstico por essas razões.
Utilizando-se de metodologia em que cada entrevistado funciona como “semente” e leva o pesquisador a outros entrevistados, o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde realizou estudo com o público HSH em: Manaus, Recife, Salvador, Curitiba, Itajaí, Santos, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande e Brasília. O critério para a participação na pesquisa foi possuir 18 anos ou mais e ter tido pelo menos uma relação sexual com um homem nos últimos 12 meses. O levantamento foi coordenado pela pesquisadora Ligia Kerr, da Universidade Federal do Ceará.
Os gays e outros HSH também utilizam com maior frequência os serviços de saúde para testes de HIV e acesso a preservativos do que a média da população masculina do país. Em relação a acesso ao preservativo, 76,9% dos gays e outros HSH declararam ter recebido camisinhas gratuitamente nos últimos 12 meses. Sessenta e seis por cento dos HSH tiveram acesso ao preservativo em um serviço público de saúde, 10,7% em uma organização não governamental e 9,9% na escola. Entre os homens em geral, esse índice é bem menor (33,9%).
A pesquisa comprova que o Projeto Saúde e Prevenção nas escolas (SPE) é um dos canais de acesso do jovem ao preservativo. O SPE é um projeto do Ministério da Saúde em parceria com o Ministério da Educação e consiste em levar ações de prevenção às instituições de ensino do país.
Uso do preservativo - Entre os gays e outros HSH de 25 a 64 anos, 78,9% usaram preservativo na primeira relação sexual, contra 21,6% dos homens em geral, na mesma faixa etária. Entretanto, o uso da camisinha na última relação sexual (nos últimos 12 meses) com parceria casual cai para 59,6%, praticamente o mesmo percentual dos homens em geral, que é 56,9%.
Em relação à população mais jovem, a pesquisa traz um alerta. Os jovens gays e outros HSH utilizam o preservativo em menor proporção que os jovens homens em geral: 53,9% deles utilizaram a camisinha na primeira relação sexual, enquanto 62,3% dos jovens homens em geral a usaram na primeira vez.
Nas relações nos últimos 12 meses com parceiro fixo, 29,3% dos jovens gays e outros jovens HSH utilizaram o preservativo. Nos jovens em geral, a média é de 34,6%. Em relações com parceiros casuais, os jovens gays e outros HSH fizeram uso do preservativo em 54,3% dos casos, resultado similar ao encontrado nos jovens em geral (57%).
Os resultados da pesquisa corroboram os últimos dados epidemiológicos lançados no final do ano passado pelo Ministério da Saúde. Na faixa etária de 13 a 19 anos, entre os meninos, há mais casos de aids por transmissão homossexual (33,5%) do que heterossexual (28,3% ).
Prevalência - A taxa de prevalência do HIV na população de gays e outros HSH com mais de 18 anos das 10 cidades pesquisadas foi de 10,5%. O dado encontrado é consistente com estudos anteriormente realizados em algumas cidades do Brasil e característico de uma epidemia concentrada. Nos Estados Unidos, por exemplo, a prevalência na população HSH é de 9,1%, bastante similar à brasileira. A prevalência na população masculina brasileira de 15 a 49 anos é estimada em 0,8%. A taxa de prevalência de sífilis durante a vida encontrada na pesquisa com gays e outros HSH foi de 13,4%.
Estigma e discriminação - Os resultados da pesquisa realizada com os gays e outros HSH evidenciam que o preconceito está presente na vida dessa população. Um total de 29,6% dos entrevistados afirmou já ter sofrido discriminação por causa da orientação sexual alguma vez; 44,5% disseram ter sido xingados e 12,4% já foram agredidos fisicamente. Mais da metade deles (51,3%) disseram já ter sido discriminados no trabalho, 28,1% na escola ou faculdade e 13% em algum ambiente religioso.
Fonte: Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais
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