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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Pesquisa revela que jovens de 13 a 17 anos ingressam no mercado do sexo financiados por madrinhas

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Nem polícia, nem clientes violentos. O que mais assusta os travestis adolescentes aliciados pelo mercado do sexo é "tomar um doce" ao voltar de mãos vazias da jornada de programas. Na gíria deles, levar um "doce" ou "grude" é sofrer uma punição severa da cafetina pela falta de pagamento. Pode ser uma surra com pedaço de tábua, afogamento ou o corte forçado de suas cabeleiras - humilhação que eles mais temem por afugentar automaticamente a clientela. Leia a seguir a matéria assinada por Chico Otavio e Tatiana Farah.

A., de 17 anos, ergue as mãos para mostrar, sorrindo, o tamanho da madeira que o TRAVESTI Iarley, cafetina de Copacabana, usava para dar "um doce" nos jovens abrigados em seu apartamento, quando alguém quebrava as regras do lugar, entre elas pagar o michê diário (que variava de R$ 150 a R$ 250) pelo direito a uma vaga no calçadão do Posto Seis e no muquifo. A., que faz programas com o pseudônimo de "Nicole Kidman", é um das "travinhas" ou "ninfetinhas" que circulam pelas ruas das cidades brasileiras. Travestis de 13 a 17 anos, eles são a face menos conhecida da prostituição infantil no país.

Durante oito meses, o assistente social Alan Loiola circulou por 14 pontos de prostituição frequentados por jovens travestis no Rio. Em "Garotos sem programa: estudo sobre exploração sexual comercial de adolescentes do sexo masculino na cidade do Rio de Janeiro", dissertação de mestrado defendida no ano passado, Alan descortina os guetos das "travinhas" e a rede organizada que as financiam.

Para debutar no mercado, muitos garotos contam com a ajuda das "madrinhas", como chamam os travestis mais velhos, alguns com passagem pela Europa, que financiam a transformação do corpo dos meninos com implante de cabelos, aplicação de silicone e consumo regular de hormônios femininos. Parte destas madrinhas ajuda por diletantismo, mas outras agem como cafetinas e exploram os afilhados, obrigando-os a repartir o lucro de jornadas de até seis programas por noite.

Dificuldade para oferecer ajuda

O primeiro contato de Alan com o assunto aconteceu na Fundação da Infância e Adolescência, ONG onde ele estagiava.

O então estudante percebeu que, ao contrário dos casos mais frequentes, como violência sexual doméstica, os técnicos tinham dificuldade para auxiliar travestis mirins.

Encaminhar para onde, se fora das calçadas há uma rejeição quase generalizada aos jovens que transformam os corpos? Do embaraço nasceu o tema da dissertação.

Em vez de esperar um novo caso, Alan seguiu a equipe do Serviço de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual da prefeitura carioca no atendimento a meninos explorados pelo mercado do sexo na cidade.

Nas visitas aos principais pontos de prostituição destes jovens, ele descobriu duas redes: a dos michês e a dos travestis mirins.

- Ambas são organizadas.

Aos michês, o mercado do sexo oferece cocaína, viagra e anabolizantes. Aos travestis, abrigo em repúblicas, aplicação de silicone nos seios e nas nádegas, e hormônios femininos, incluindo ANTICONCEPCIONAIS - observou.

A busca do desejado corpo feminino mobiliza desde "bombadeiras" - travestis que fazem aplicação artesanal de silicone- a médicos de clínicas clandestinas.

Geralmente pobres e discriminados em casa e na escola, de onde acabam se afastando, os jovens homossexuais são convencidos por suas "madrinhas" de que a melhor opção é mudar o corpo e cair na vida.

Neste momento, eles descobrem que cada calçada da cidade, da Praia de Copacabana à Quinta da Boa Vista, tem um dono. E, para exercer o ofício, é preciso pagar.

- As vítimas já entram devendo na rede pelo processo de montagem do corpo e pelas viagens. E nunca param de dever.

O problema é que elas não se reconhecem como vítimas.

Só percebem isso quando estão presas, quando são deportadas, quando estão na sarjeta- afirma Anália Ribeiro, do Escritório Paulista de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Seres Humanos (Secretaria Estadual de Justiça).

Cada calçada tem o seu dono

Localizado pelo Globo no Instituto Padre Severino (RJ), onde cumpre a medida privativa de liberdade por furto, A. se enquadra neste perfil. HOMOSSEXUAL declarado, de 17 anos, desde os 6 fora de casa, ele descreve a divisão das calçadas da prostituição: - Quem manda em Copacabana é a Iarley (o TRAVESTI Ulisses Menezes da Mota, preso no ano passado), que cobra até R$ 250 por dia de cada TRAVESTI.

A dona da Quinta da Boa Vista é a Maranhão, que cobra R$ 100. Na Lapa, que pertence à Pimentel, o preço é R$ 80.

O pesquisador Alan Loiola apurou que o projeto de todo TRAVESTI mirim é embarcar um dia para a Europa, como fizeram suas "madrinhas". A. já sonhou com isso, mas abandonou os planos depois de cair no vício do crack e levar três tiros quando furtava na Barra da Tijuca: - Hoje, o que mais quero é fazer um curso de aderecista e trabalhar com o carnaval.

Fonte: O Globo

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