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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Jovens contam como reagiram quando seus pais assumiram a homossexualidade

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Da Agência de Notícias da Aids

Reportagem publicada hoje na Folhateen, do jornal Folha de S. Paulo, traz depoimentos de jovens sobre a experiência de ter um pai gay. O adolescente Jorge* de 15 anos que foi adotado por um casal de homossexual disse em entrevista ao jornal que nunca se importou com a orientação sexual dos pais. "Se eles se sentem felizes, por que vou me incomodar?"  

Leia a seguir:

Famílias fora do armário

Há quatro anos, Aléxia Gaspari, 16, estava no carro com seu pai, Alexandre, quando ele começou: "Olha, aquele amigo do papai não é só um amigo, entende? Ele vai morar lá em casa."

"Na hora, levei numa boa. Mas, quando vi os dois se beijando, fiquei muito mal e tive uma crise de choro. Na teoria, é fácil aceitar. Na prática, é diferente."

Com o tempo, a situação melhorou. "Hoje, somos uma família normal", diz.

Na semana do Dia dos Pais, o Folhateen conversou com jovens criados por pais que "saíram do armário".

As famílias homoafetivas ainda não figuram nas estatísticas do Brasil (os primeiros dados começaram a ser levantados ontem, no Censo 2010), mas elas existem e levantam uma questão para os adolescentes de hoje: como você reagiria se seu pai dissesse que é gay?

Flávia*, 17, por exemplo, "costumava xingar homossexuais na rua". Quando o pai e, depois, a mãe assumiram que eram gays, a garota entrou em parafuso. "Fiquei transtornada. Não conseguia acreditar. Tudo virou de pernas para o ar", lembra.

Flávia começou a culpar a mãe pelos porres que tomava. Tentou fugir de casa. E tinha vergonha de apresentar os amigos aos pais.

Ela se refugiou nas letras e começou a escrever contos.

"Amo meus pais e, quando vi que não tinha mais volta, passei a aceitá-los. Eu me coloquei no lugar deles e entendi o quanto deve ser difícil se assumir", explica.

O desafio desses jovens é aplacar, de uma vez, o ciúme e o próprio preconceito.

"O jovem pode achar que "ser gay" é uma forma de traição, e isso gera angústia", explica Ana Cláudia Bortolozzi Maia, professora de psicologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e autora do livro "Adoção por Homossexuais" (ed. Juruá). "Eles têm de entender que o pai não deixou de amá-los, só está tentando ser feliz", diz.

HORA CERTA

"Não deve ser fácil contar que é gay para o filho", diz Natália*, 15, cujo pai vive com outro homem há quatro anos. "Eu pensava: "Por que não me contou antes?". Acho que foi para me poupar."
Existe hora certa para contar? Para Bortolozzi, em geral "a criança assimila melhor esse tipo de situação do que um jovem".

E é uma boa falar sobre isso com os amigos? Matheus Mattos, 15, só contou que a mãe, Viviane, é gay para o melhor amigo. "O grupo social é importante para o jovem, mas pode ajudá-lo tanto a aceitar quanto a discriminar", diz a psicóloga.

Certa vez, um garoto xingou o pai de Aléxia na escola. Desconcertada, ela pediu conselhos ao pai, que a ajudou a lidar com a situação. "Mas isso nunca mais aconteceu. Todas as minhas amigas adoram meu pai", conta.

ADOÇÃO

No mês passado, a Argentina aprovou uma lei que permite o casamento entre homossexuais e a adoção de crianças por eles.

O Brasil está atrás dos "hermanos" na questão dos direitos dessa minoria. Nem casamento nem adoção são regulamentados por aqui. O jeito encontrado por eles foi o improviso: há 15 anos, Jorge*, 15, foi adotado por dois homens, mas foi registrado no nome de apenas um deles.

Na Câmara, o deputado Zequinha Marinho (PSC-PA) propôs uma alteração no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) para proibir que casais gays adotem crianças. Sua justificativa: isso "exporá a criança a sérios constrangimentos", como não conseguir explicar aos colegas por que tem dois pais ou duas mães.

Jorge diz que nunca se importou com a orientação sexual dos pais. "Se eles se sentem felizes, por que vou me incomodar?", questiona.

Segundo Bortolozzi, ao contrário dos mitos que rondam as famílias de pais homossexuais, "a única diferença é que os jovens criados por eles tendem a ser menos preconceituosos e mais tolerantes com as diferenças".

Flávia faz o resumo da sua própria ópera: "Apesar dos maus bocados por que passamos, meu pai nunca deixou de ser meu melhor amigo. O que menos importa é se ele é gay ou se é hétero".
(*Nomes fictícios)

Análise

Os pais que você tem, do jeito que eles são

ROSELY SAYÃO COLUNISTA DA FOLHA

"Adolescência é o fim!" A frase, tão verdadeira em seu sentido literal, foi dita por uma garota de 15 anos para expressar o descontentamento com a relação com seus pais e seus pares. E talvez consigo mesma também. A adolescência é o fim de um ciclo da vida e o começo de outro. Um processo de maturação sexual física acompanhado de muitas outras novidades. Algumas boas, outras nem tanto.

É a hora em que você busca saber quem é, quem gostaria de ser e constata, pouco a pouco, quem realmente é. Por isso, um luto é necessário: a perda dos pais. Sabe aqueles pais poderosos, quase perfeitos? Pois é: essa imagem vai-se na adolescência para ceder espaço aos pais que você realmente tem. Do jeito que eles são. Aí a coisa pega para muita gente. Como estabelecer uma identidade, sexual inclusive, em meio a pais de mais ou pais de menos? A boa notícia é que você tem grandes chances de sobreviver a esse período.

Seus pais? Você precisa aprender que a conquista da autonomia passa inevitavelmente pelo processo de separação entre você e eles, isto é, eles lá com seus problemas, e você cá com os seus. Desenvolvimento do mundo é isso: a fila anda.

Fonte: Folha de S. Paulo

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