Da Redação
A Rede Afro enviou documentos aos 11 ministros do STF, na qual critica a cobertura da mídia sobre o caso da licença médica do ministro Joaquim Barbosa. Leia a íntegra da nota abaixo.
A Rede Nacional de Negras e Negros Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais é um fórum nacional que agrega militantes do movimento negro e LGBT na luta contra o racismo, o machismo, a lesbofobia, a transfobia e a homofobia. Manifestamos nosso veemente repúdio à cobertura da imprensa ao caso do ministro Joaquim Barbosa, fotografado em um bar em período de licença médica solicitada no Supremo Tribunal Federal, pelas insistentes “sugestões” de comportamento indevido – que beiram acusações e julgamento público. Os grandes jornais derammanchete ao caso e, sem ouvir o ministro, faziam ilações que não cabem à cobertura isenta dos fatos. Após a resposta do Dr. Joaquim Barbosa, a mídia destacou um “ataque” à equipe da matéria inicial da Folha de São Paulo.
Fica nítida, ao analisar as reportagens, a intenção de enfraquecer o ministro Joaquim Barbosa. A imprensa brasileira, acostumada a defender abusivamente os interesses da elite, não se preocupa em disfarçá-lo mesmo que comprometa sua dita “independência”. No caso, os interesses são 1) os privilégios da elite branca que domina as redações e outros espaços de poder e 2) a impunibilidade dessa elite, que o ministro tem afrontado em sua atuação no STF.
Por que a imprensa não critica Gilmar Mendes pelos diligentes “habeas corpus” produzidos quando um banqueiro ou qualquer representante da classe dominante é preso sob graves acusações? Por que a imprensa não investigou o suposto esquema de grampeamento do mesmo ministro, da ministra Ellen Gracie e outros, em mais um caso “denunciado” pela Veja com participação ativa?
Se o ministro usou indevidamente sua licença médica, é uma questão que deve ser analisada no STF após consulta ao médico dele – e possivelmente a outros profissionais de saúde, para comprovação. Não cabe aos jornais emitir opinião a respeito de um elemento subjetivo, ainda mais sem pedir informações aos profissionais competentes. A intenção desse documento não é defender o ministro de qualquer acusação. Isso ele mesmo pode fazer.
Ao contrário, os movimentos negros que assinam este documento repudiam as práticas abusivas de um jornalismo parcial e irresponsável. O que se torna notável no julgamento midiático do ministro é a intenção de questionar a competência do único negro do Supremo. É uma realidade conhecida de qualquer homem ou mulher negra em algum espaço de poder, que precisa provar diariamente
que de fato pertence àquele lugar. No caso de Joaquim Barbosa, tem um fator especial: pela importância e visibilidade do cargo, atingi-lo afeta a toda a comunidade negra e suas perspectivas de ascensão social. O ministro é um exemplo positivo para a minoria de estudantes de direito e jovens advogados negros. Um perigo indesejável para o status quo!
Como resume a militante Deise Benedito, militante da organização Fala Preta e referência do movimento negro brasileiro, “Simplesmente o Dr. Joaquim Barbosa, até o presente, enfrenta com dignidade o Império que contra-ataca a insuportável existência de um ‘ser’, e este ser é um negro fora do lugar onde os negros devem permanecer nesta sociedade, que ergueu-se às custas do sangue e suor da carne negra importada da África para as Américas”.
A imprensa tem um papel fundamental no exercício da democracia e das liberdades individuais e coletivas. No entanto, ao vincular sua atuação à defesa de interesses de grupos sociais dominantes, torna-se instrumento de incentivo e manutenção das desigualdades. É o que ocorre nesse caso, posicionando-se contra um ministro negro, apoiador das cotas raciais e correto na aplicação da justiça para a elite econômica. O movimento negro continuará observando os “deslizes” desse tipo de cobertura jornalística e denunciando seus abusos.
Rede Nacional de Negras e Negros LGBT
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