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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Transexual de Jacareí luta por cirurgia para mudança de sexo

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DIÁRIO DE JACAREÍ

A cabeleireira, ‘Babalu’ (foto), tenta junto a órgãos públicos e programas de televisão custear as despesas de cerca de r$25 mil para a cirurgia

Com os cabelos longos e loiros, maquiagem e unhas sempre em dia, e ‘modelitos’ baseados em saias e meia calça, a cabeleireira ‘Babalu’ é uma figura conhecida na cidade pela irreverência e espontaneidade. Aos 45 anos, a transexual pleiteia uma cirurgia que a torne uma mulher completa: a de mudança de sexo.

‘Babalu’ conta que já recebeu inúmeras promessas de apoio feitas por políticos da cidade durante campanhas eleitorais, mas nenhuma delas foi cumprida. Neste mês, ela conseguiu utilizar recursos técnicos da Câmara Municipal para realizar um vídeo, no qual relata o seu desejo que, para ela, é uma ecessidade. “O meu lado homem é como se fosse uma obrigação. Comomulher, eu me realizo. Eunasci errado, a minha almaé de mulher. O meu sonho é ir ao ginecologista”, ressalta.

Com a mídia em mãos, ela teria conseguido ser atendida pelo secretário de Saúde, Antônio de Paula Soares, o qual a teria orientado a buscar o mbulatório para travestis e transexuais de São Paulo. No entanto, ‘Babalu’ diz precisar de auxílio de transporte e teme enfrentar a fila de espera para a cirurgia. “Eu já tenho 45 anos e não posso esperar mais, porque depois dos 60 é muito arriscado[fazer a cirurgia]. Eu também não posso pagar R$25 mil pela cirurgia. Queria que as autoridades de Jacareí interferissem a meu favor, fosse com um médico da cidade, enfim, qualquer caminho. É só falar de operação que todo mundo foge do assunto”, diz ela, que também já escreveu diversas cartas para programas televisivos em busca de ajuda.

Registrada como Jurandir Martins de Oliveira, a cabeleireira assumiu o nome de ‘Babalu’, depois de uma personagem da novela global ‘Quatro por Quatro’ (1994). Ela conta que, aos 12 anos descobriu a homossexualidade, mas somente depois dos 16 anos é que conseguiu assumir seus desejos femininos. “Deixei o cabelo crescer, a unha, comecei a usar calcinha. Eu me libertei. Dei o grito de independência e me livrei dos meus traumas”, afirma.

Ao longo de sua história, ela diz ter enfrentado muito preconceito e ter sofrido abusos e agressões, mas hoje tem uma única certeza: quer ser mulher. “Aos 12 anos eu já tinha ‘vozinha’ de gay e meu irmão me batia muito. Depois, fui trabalhar em uma fábrica e eu era como uma bola de futebol na mão dos peãos. Eu sentia atração por homens, mas não qualquer um. Hoje, sou loira e louca por natureza. Também, com tanta pancada, a pessoa cresce ‘biruta’. Por ter sido muito repreendida, eu grito, me descabelo. Necessito que o mundo saiba que eu sou mulher, o que falta é a operação”, desabafa.

OUTRO LADO – Em reposta à reportagem do Diário de Jacareí, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Jacareí nega que tenha havido alguma promessa de custear a cirurgia de ‘Babalu’. Segundo a Secretaria de Comunicação, foi enviado um ofício sobre a solicitação da cabeleireira à direção regional da Secretaria Estadual de Saúde.

A Assessoria de Imprensa da Secretaria Estadual de Saúde confirma que foi contatada pela Prefeitura e diz que, ainda esta semana, deve receber o encaminhamento em nome de Jurandir Martins de Oliveira, como ‘Babalu’ foi registrada.

BOX 1
A CIRURGIA
conhecida por cirurgia de redesignação sexual ou genitoplastia de feminilização, a técnica que Babalu tanto deseja é basicamente a reconstrução dos genitais. No caso dela e de outras mulheres transexuais, há a construção de uma ‘neovagina’, mas a próstata e a glândula bulboretral (responsável pela secreção do fluído préejaculatório) são mantidas para possibilitar que esta neovagina tenha alguma lubrificação natural. Desde 2008, a cirurgia vem sendo realizada pelo sUs (sistema Único de saúde), conforme a Portaria gM/Ms nº 1.707, de 18 de agosto de 2008, que define as diretrizes
nacionais para o chamado ‘Processo transexualizador’.

A professora de idiomas, carla Machado, de 38 anos, realizou a cirurgia há um ano e meio. em entrevista ao Diário de Jacareí, a paulistana, que descobriu o transexualismo com 30 anos, conta que esperou durante seis anos para entrar na fila da operação, mas acabou optando por realizá-la em uma clínica particular, depois de vender um carro.

Ao acordar mulher por completa, ela diz que passou a de fato viver a vida. De lá para cá, arranjou quatro namorados e acabou de ser pedida em casamento, pelo atual companheiro, com quem está há três meses. “Aos 12 anos, eu me achava uma aberração, achava que esse mundo não era para mim. Eu queria passar pela operação e sabia que pior do que estava não iria ficar. Quando passei pelo primeiro exame ginecológico, comecei a chorar de alegria, de emoção. Um mês depois tive a primeira relação e depois dessa tive muita segurança. Contei para o meu namorado [sobre a cirurgia] há um mês. Para ele foi um choque, mas depois disse para eu esquecer e se apaixonou ainda mais. No dia seguinte, me levou para conhecer toda a família”, comemora.

No entanto, carla aconselha que os transexuais que queiram fazer a cirurgia busquem auxílio médico e psicológico para ter certeza de que sofrem de transtorno de identidade de gênero e que, de fato, rejeitam a genitália ‘original’. “É muito importante que a pessoa busque um bom profissional para evitar uma frustração posterior. Não é um milagre para todas. Tem algumas pessoas que não se incomodam com o seu órgão sexual e podem ter uma frustração se realizam a cirurgia, podendo até cometerem suicídio, como acontece. É por você que tem que fazer a cirurgia, não pelo outro”, pondera Carla que agora sonha em casar, adotar dois filhos e conseguir a documentação que aponte: Carla Machado – sexo feminino.

São Paulo tem ambulatório para travestis e transexuais 
Há um ano está em funcionamento o primeiro ambulatório de saúde do Brasil dedicado exclusivamente a travestis e transexuais. Inaugurado em junho de 2009, o centro contabiliza mais de quatro mil atendimentos.

O ambulatório, que está localizado na Vila Mariana, em São Paulo, conta com profissionais especializados, preparados para lidar com as dificuldades e demandas específicas desses grupos sociais. O centro oferece assistência integral a travestis e transexuais, e conta com atendimento especializado em urologia, proctologia e endocrinologia (terapia hormonal), avaliação e encaminhamento para implante de próteses de silicone e cirurgia para redesignação sexual. As demandas foram estabelecidas com base nas solicitações mais recorrentes observadas nos serviços de saúde e apontadas também pelos movimentos sociais que atuam no setor.

A Secretaria de Saúde enfatiza que a orientação sexual e a identidade de gênero são fatores determinantes para a saúde, não apenas por implicarem em práticas sexuais e sociais específicas, mas também porque podem significar o enfrentamento cotidiano de preconceitos e violações de direitos humanos.

O ambulatório está localizado no Núcleo do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids. O funcionamento é de segunda à sexta, das 14h às 20h. O CRT/Aids está localizado na rua Santa Cruz, nº 81, na Vila Mariana, São Paulo.

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