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sábado, 16 de outubro de 2010

Toni Reis está otimista com nova configuração do Congresso Nacional

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Do site Terra

Pelo menos 154 deputados federais e 20 senadores eleitos em 2010 são favoráveis à defesa dos direitos dos homossexuais, segundo estimativas da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transexuais (ABGLT). Eles irão compor, em 2011, a chamada Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT, cujo rol de objetivos inclui a aprovação de leis que ajudem a diminuir o preconceito contra essa população, entre eles, o Projeto de Lei da Câmara 122 (PLC 122/2006), que criminaliza a homofobia.

Apesar de a quantidade de senadores ter se mantido no mesmo patamar e a de deputados federais ligados à frente ser, por ora, inferior a verificada na legislatura anterior (eram 224), o presidente da ABGLT, Toni Reis, está otimista. Ele aposta que novas adesões virão.

- É preciso deixar claro que é um levantamento preliminar. São pessoas que já eram da Frente Parlamentar e foram reeleitas, pessoas que assinaram o termo de compromisso (durante a campanha, a ABGLT lançou o Projeto Aliadas, que convidava os candidatos a assumirem compromisso com propostas voltadas para a cidadania da comunidade LGBT. Dos 254 que assinaram, 53 se elegeram). Mas não conversamos ainda com os 513 eleitos. Deve aumentar muito esse número.

O diálogo irá acontecer, conforme adianta Toni, inclusive com a bancada evangélica, que, na Câmara, saltou de 43 para 71 parlamentares. A ideia é "evitar deturpações".

- Dizem, por exemplo, que queremos o casamento religioso. Não é nossa demanda. Não achamos que se deve legislar sobre casamento religioso. Queremos a união estável, que são os direitos civis. Não queremos destruir a família de ninguém. Queremos construir a nossa... Não queremos instaurar uma guerra santa no Congresso nacional. Só queremos cidadania plena.

E completa, justificando a tentativa de aproximação:

- Acho que não podemos afastar e rotular as pessoas. É preciso conversar. Há colegas meus, do movimento, que dizem que é perda de tempo conversar com os evangélicos. Eu tenho encontrado muita gente boa.

Confira a entrevista.

Terra Magazine - Nos cálculos de vocês, em 2011, a Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT contará com 154 deputados federais e 20 senadores.
Toni Reis -
É preciso deixar claro que é um levantamento preliminar. São pessoas que já eram da Frente Parlamentar e foram reeleitas, pessoas que assinaram o termo de compromisso (durante a campanha, a ABGLT lançou o Projeto Aliadas, que convidava os candidatos a assumirem compromisso com propostas voltadas para a cidadania da comunidade LGBT. Dos 254 que assinaram, 53 se elegeram). Mas não conversamos ainda com os 513 eleitos. Deve aumentar muito esse número.

Eu pretendia perguntar justamente sobre a queda de deputados federais ligados à Frente. Antes, eram 224...
Desses 224, 100 não concorreram à reeleição ou concorreram a outros cargos. O que nós fazemos? Começou a próxima legislatura, vamos visitar gabinete por gabinete para explicar qual é nossa demanda. Estamos muito contentes, porque quando se fala em evangélico, as pessoas associam a preconceitos. Não, nós temos muitos evangélicos aliados. Temos que evitar o preconceito às avessas. Por exemplo, o senador (eleito) da Bahia Walter Pinheiro (PT) sempre apoiou os nossos direitos humanos. A Benedita da Silva (PT), do Rio de Janeiro, é evangélica. Isso para dar exemplos.
Então, vamos conversar com todos, inclusive com os da frente evangélica, para evitar deturpações. Dizem, por exemplo, que queremos o casamento religioso. Não é nossa demanda. Não achamos que se deve legislar sobre casamento religioso. Queremos a união estável, que são os direitos civis. Não queremos destruir a família de ninguém. Queremos construir a nossa.

Sobre o mais polêmico, que é o PLC 122, sempre estivemos abertos à discussão. Inclusive, o projeto foi modificado. Não é só sobre a homofobia. Tem a questão de não discriminar o idoso, a mulher, o gay... Não discriminar as pessoas por alguma das suas características.

Estamos abertos ao diálogo. Não queremos instaurar uma guerra santa no Congresso nacional. Só queremos cidadania plena.

Falando em parlamentares evangélicos, a bancada evangélica saltou de 43 para 71 deputados. Mesmo diante do posicionamento menos radical de alguns parlamentares, você acha que esse aumento pode dificultar a aprovação de projetos como a PLC 122?
Não vejo assim. Como disse, nem todo evangélico é preconceituoso. Inclusive, tem uma pesquisa do Senado que diz que 55% dos evangélicos apoiam a causa LGBT. E 73% dos católicos apoiam nossos direitos. Então, dessa bancada de evangélicos... Tenho conversado com pastores e bispos. Vejo que muita gente apresenta visão conservadora, mas com outros dá para conversar. Dentro do processo político de conquista e de apoio através do diálogo e da negociação.

Mas há uma irrefutável dificuldade para aprovar projetos ligados às causas LGBT. A união civil é um exemplo. A matéria está há anos no Congresso.
Há 15 anos... Mas olha, minha amiga, nós evoluímos muito. Na Idade Média, éramos queimados na fogueira. Depois, passamos a ser tratados como criminosos até 1824. Depois, fomos tratados como doentes até dia 17 de maio de 1990. De pecador, que merece ser morto, de criminoso e doente, evoluímos muito. Estamos discutindo com frente parlamentar. O (Albert) Einstein já dizia: "É mais fácil quebrar um átomo do que o preconceito". Com nossas paradas, a partir de 1995, conseguimos apoio muito grande. Você não vê mais um jornal fazendo uma reportagem que prejudique nossa imagem. Temos alguns setores dos humoristas, dos programas evangélicos e policiais que ainda prejudicam nossa imagem. Hoje nós temos um Programa Nacional de Cidadania LGBT, envolvendo 18 ministérios. Não sei se é minha idade, minha vivência, mas estamos caminhando. Todo esse debate é importante. Não podemos cair na descrença de que nada vai mudar. Só o fato de hoje estarmos discutindo de igual para igual com outros setores da sociedade, isso é maravilhoso.

Você está otimista em relação à nova composição do Congresso?
Vejo que há caras novas, muita gente conservadora não se elegeu. Muitos fundamentalistas...

Em compensação, no Senado, por exemplo, alguns parlamentares com posicionamento mais conservador, como Magno Malta (PR-ES) e Marcelo Crivella (PRB-RJ), se elegeram.
O Crivella fez uma declaração, dizendo que nenhum presidente homofóbico merece ser eleito. Falou isso porque o Indio (da Costa) falou uma besteira e depois negou no Twitter. Com relação ao Magno Malta, tem uma travesti vereadora no Espírito Santo que marcou uma audiência com o senador. Ela é do mesmo partido. O Magno Malta falou que nunca discriminou, só que ele queria ver os termos do PLC 122, que falava que as pessoas não podem incentivar a violência e a discriminação.

Acho que a gente não pode afastar e rotular as pessoas. Tem que conversar. Há colegas meus, do movimento, que dizem que é perda de tempo conversar com essas pessoas. Eu tenho encontrado muita gente boa.

Quais são os principais projetos defendidos pelo movimento LGBT?
São três: criminalização da homofobia, união civil estável e nome social para as pessoas trans (permite que utilizem em documentos nomes pelo qual são chamados). Talvez, nossa demanda altere. Vamos ter um congresso em 2011 para definir quais serão as demandas.

O discurso religioso tem sido marcante no debate eleitoral do segundo turno da disputa presidencial? Como você vê isso?
Acho que há um moralismo muito grande. Teríamos que estar discutindo qual projeto de país queremos. É complicado entrar nessa seara religiosa. Todas as religiões devem ser respeitadas, assim como os ateus. A questão do aborto deve ser tratada como questão de saúde pública, sem moralismo.
Temos o pastor, que é o (Silas) Malafaia, um fundamentalista de carteirinha, que disse que não se pode votar nas pessoas que querem que os homossexuais tenham direitos. Isso é absurdo, sem nexo com a Constituição Federal e, inclusive, com a própria Bíblia.

Acho que esses temas religiosos não pegam bem durante a campanha. Temos dois candidatos super inteligentes. Dilma tem história de luta contra a ditadura. Serra também. E, de repente, estão entrando nessa discussão...

Para finalizar, eu quero te perguntar sobre o senador eleito pelo Paraná, Roberto Requião (PMDB). Vi que o nome dele está na lista da Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT. Em 2009, quando governador, ele fez um comentário polêmico, relacionando o aumento da incidência de câncer de mama em homens às paradas gays.
Ele está na lista. Maravilhoso. Eu converso com Requião direto. É do meu estado. Ele falou aquilo e, depois, falou outra besteira. Ele conta muita piada, os discursos dele sempre são recheados de humor e, muitas vezes, fala besteira. Outro dia, falou sobre uma foto do Ronaldo (Fenômeno), que estava abraçado com o Serra e com o Fernado Henrique Cardoso. Aí, ele comentou assim: "Já falei para esse menino que ele tem que parar de sair com travesti".

As travestis do meu estado ficaram fulas da vida. Liguei para nosso querido deputado (Dr.) Rosinha (PT-PR) e falei que precisavámos conversar com o Requião, porque senão teríamos que fazer uma manifestação contra ele. O Requião respondeu: "Mande as travestis que eu falo com elas". Tem uma foto, inclusive, dele com as travestis. Depois da conversa, as três vieram e falaram: "Vou votar no homem". A piada sobre o câncer de mama foi infeliz.

Na ocasião daquela declaração, o movimento pensou em tomar uma providência?
Fomos falar com ele. Foi tudo esclarecido. Requião não tem papas na língua. Ele não é um Beto Richa (governador eleito no Paraná, PSDB), que é um gentleman. Requião é daquelas pessoas espontâneas. É como o Lula. Na espontaneidade, muitas vezes você fala o que não deve.

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