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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Em ato histórico, estudantes marcham contra a homofobia no centro de SP

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Manifestação teve início na portaria da Universidade Mackenzie e seguiu espontaneamente por mais 4 km, até a Avenida Paulista. Jovens pediam o fim da discriminação e a aprovação da lei que criminaliza a homofobia.

Por Leandro Rodrigues
Quinta-feira, 25 de novembro de 2010
  Fotos de Eduardo Ogata

O que era para ser um ato de repúdio às declarações homofóbicas do chanceler da Universidade Mackenzie acabou tornando-se a concentração de uma histórica marcha contra a violência e a discriminação. Desde as 16h30 desta quarta-feira (24), centenas de pessoas compareciam na portaria principal da instituição para protestar contra a carta-aberta publicada pelo reverendo presbiteriano Augustus Nicodemus, que pretendeu orientar a academia para se opor ao Projeto de Lei (PL) 122/06, que visa criminalizar a homofobia no país. Após o ato, os manifestantes seguiram da Rua Itambé para a Rua Maria Antônia e, de forma espontânea, caminharam cerca de mais 4 km, até o número 777 da Avenida Paulista, onde um rapaz foi agredido por um grupo de estudantes, no último dia 14. Durante o trajeto, outras centenas de adeptos se juntaram à manifestação, que acabou por volta das 21h e mudou a rotina da capital.

No horário marcado, pouco mais de 30 pessoas já estavam no local, preparando faixas e cartazes com os dizeres “Um homossexual é morto a cada 2 dias. Abaixo a homofobia” e “Queremos uma educação laica. Chega de inquisição”. Cinegrafistas e fotógrafos ainda preparavam as câmeras, enquanto apitos e panfletos eram distribuídos por estudantes e um carro de som tocava “Apesar de você”, de Chico Buarque. Em menos de meia hora depois, uma multidão já interditava a portaria da universidade e a CET (Companhia de Engenharia e Tráfego) teve que desviar o fluxo de carros que se dirigiam para a região.

O protesto se formava, em maioria, por estudantes de diversas universidades, como a PUC-SP, USP, UNESP e a própria Mackenzie, mas também contou com o apoio de lideranças do movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) e representantes de entidades sociais. Drag queens e bandeiras do arco-íris – ícones máximos da militância LGBT – davam cores e alegria para uma manifestação pacífica e harmoniosa.

Às 17h30, o microfone foi aberto e o estudante de arquitetura Leonardo deu início às falas, representando os alunos do Mackenzie. “Todos os alunos se sentiram ofendidos [com as declarações do chanceler]. Isso não é uma igreja, é uma universidade!”, gritou Leonardo, que questionou: “Quando prestamos vestibular, não havia nenhum requerimento ou pré-requisito sobre nossa orientação sexual. Não queremos cercear a liberdade de ninguém, mas esse ato é de luta por nossa liberdade”.

Familiares de homossexuais comparecerem para reivindicar por dignidade e proteção. “LGBT tem pai, mãe e família. Nossos filhos e filhas estão sendo mortos e achincalhados. Somos pais e mães que vêm aqui dar um grito de alerta. Queremos nossos filhos vivos!”, disse, emocionada, uma mãe de aluno.

A estudante de Ciências Sociais da PUC-SP e integrante do movimento Evangélicos Pela Justiça, Tabita, ressaltou que “infelizmente, os evangélicos esquecem que já foram chamados de protestantes”. “Antes, eles que eram perseguidos e jogados nas fogueiras da inquisição. Hoje, eles é que ateiam o fogo. Como provisão maior, devemos levar o amor ao próximo”, proclamou a estudante.

De batina, o reverendo anglicano Arthur Cavalcante impressionou ao pediu a palavra. “Violência não é de Deus, não está na pregação de Jesus Cristo. Devemos lutar contra a homofobia”, disse o religioso, e afirmou que nem todos os cristãos são contra a aprovação do PL 122/06.

O militante do PT e coordenador do Grupo Identidade de Luta pela Diversidade Sexual, Paulo Mariante, endossou que o chanceler do Mackenzie feriu a Constituição ao promover a discriminação e o preconceito. “Por desrespeitar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, vamos solicitar ao Ministério da Educação que puna o chanceler. Vamos encaminhar uma representação ao MEC para que abra uma sindicância e que apure o caso”, disse o ativista.


“Até a Paulista!”

Ao final do ato em frente à portaria da universidade, estudantes propuseram que a manifestação continuasse na Rua Maria Antônia, por ter sido o palco do conflito em 1968 entres estudantes do Mackenzie ligados ao Comando de Caça aos Comunistas (CCC) e alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Neste momento, moradores do condomínio número 15 da Avenida Higienópolis (esquina com a Rua Itambé), jogaram ovos nos manifestantes.

Mas o fato, assim como o congestionamento intenso que se formava, não intimidou os participantes, que seguiram com os cartazes e entoando as palavras de ordem: “Contra a homofobia, a luta é todo dia!”. Este era o início de uma jornada que levou o grupo a realizar, em anos, a primeira manifestação de rua espontânea liderada por jovens motivados a transformar os conceitos morais da sociedade.

Ao chegar à esquina da Maria Antônia com a Rua da Consolação, aproximadamente às 19h, um grupo liderou o coro que repetia ritmicamente “Até a Paulista!”. A caravana prosseguiu em direção à Rua Caio Prado e depois entrou na Rua Augusta, onde a marcha tomou uma faixa e passou a ganhar adeptos e simpatizantes. Até então, não era sabido qual seria o ponto final da parada, que tomava proporções inesperadas.

Eram visíveis os esforços da CET e da Polícia Militar em garantir a segurança dos manifestantes, bloqueando as vias em pleno horário de pico e monitorando qualquer sinal de violência contra o ato.

Às 20h15 a marcha ocupou a Avenida Paulista, parando a circulação de automóveis na via sentido bairro. Todos prosseguiram sem destino certo, mas instintivamente em direção ao número 777, onde, na madrugada do dia 14, quatro jovens agrediram um homossexual com socos, chutes e duas lâmpadas fluorescentes no rosto. Os objetos novamente foram usados na manifestação desta quarta, mas simbolicamente estavam manchados de vermelho e eram levados por um estudante que reivindicava justiça deste e dos demais casos de violência contra LGBT.

4 km depois do início, às 21h o ato foi encerrado com um minuto de silêncio em memória das vítimas de discriminação, seguido de uma salva de palmas aos seguranças do local, responsáveis pela prisão em flagrante dos agressores e o socorro a vítima, espancada gratuitamente.

Talvez não tão repercutida com o mérito que lhe era devido, uma página importante da história do movimento social, estudantil e por direitos humanos do Brasil foi escrita nesta última quarta feira, 24 de novembro de 2010.
 
Fonte: PT de São Paulo

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