DOIS TERÇOS
Maria, que sonha em ter a carteira de trabalho assinada, é diarista, porém tem um grande diferencial no seu público. Ela trabalha exclusivamente para casais homossexuais há exatos 10 anos e não abre mão disto de jeito nenhum.No meio de suas tarefas, Maria deu um tempo em seus afazeres e nos recebeu para contar um pouco desta longa história cheia de alegrias e satisfação profissional.
DT - Quando você começou a trabalhar para o público gay?
ML - Entrei no mercado através de uma cliente e amiga, que me fez o convite para trabalhar na casa dela. Não pensei duas vezes e fui. Logo em seguida outros casais de mulheres começaram a solicitar o meu trabalho e com isso o tempo foi passando e novos clientes foram aparecendo. Sempre trabalhei para as meninas, porém nos últimos meses venho descobrindo o mundo dos meninos, que eu não conhecia. Cada novo trabalho é diferente, além ser muito bom. Cada dia descubro coisas novas.
DT - Você acha melhor trabalhar para os casais gays ou heteros?
ML - Não trabalho com casais heteros. Meus clientes são todos gays e estou muito feliz com eles. Não é fácil trabalhar na casa de casais heteros, eles querem sempre explorar o nosso trabalho. É uma ordem atrás da outra, meninos chorando... isso é muito cansativo e o dinheiro não compensa. Na casa dos meus gays, eles vão trabalhar e já sei o gosto deles. Arrumo tudo e não tem ninguém cobrando nada. Estou na casa deles para trabalhar, deixo tudo um luxo!
DT - Você prefere trabalhar para os rapazes ou para as moças?
ML - Não tenho preferência, pois todos eles são muito bons. Eu tenho que respeitar cada um deles com seu modo de ser, como eles respeitam o meu trabalho. Saio de casa com a certeza que vou trabalhar e ter um dia muito feliz com a alegria e as brincadeiras deles.
DT - Você aceitaria um filho gay?
ML – Sim. Por que não deveria aceitar? Somos todos iguais. Antes de conhecer o mundo gay eu já era uma pessoa que acreditava que cada um de nós tem o direito de escolher como deseja ser feliz. Só porque ele é gay, não merece respeito? Não concordo com isso. Eu vejo a luta diária deles, sem falar no caráter e respeito. Isso pra mim é muito importante. O resto é preconceito de quem não conhece.
DT - Como sua família vê sua escolha em trabalhar para os gays?
ML – Normal. E não tem porque agirem de outra maneira, pois é um trabalho como outro qualquer. Na minha casa ninguém ousa falar dos meus clientes, aliás meus filhos foram criados com muita dificuldade, como a maioria das famílias brasileira, mas nunca deixei de ensinar a cada um deles, que nós, seres humanos, temos que ser respeitados . Somos humildes, porém o respeito e a educação estão em nossa família.
DT - Você está no mercado há 10 anos. Qual o segredo deste sucesso todo?
ML - Acredito que o maior segredo, além de muito trabalho, é a confiança que cada um deposita em mim. Eles sabem que vão trabalhar e na volta encontram suas casas arrumadas e com tudo no lugar. Tenho clientes que viajam e deixam as chaves da casa na minha mão para continuar cuidado mesmo na ausência deles. Neste tempo todo nunca tive problemas, eles esquecem que estou em casa e continuam vivendo a rotina deles. Faço meu trabalho com muito carinho e isso também é muito bom. Para eles e para mim. Tem uns meninos que ficam fechando comigo dentro de casa é um babado e muita alegria. Sou tratada muito bem... Isso é muito bom!
DT - Neste tempo todo de convivência com os gays, você já teve vontade de conhecer algum espaço gay?
ML – Claro! Vi no jornal que tem uma boate no Rio Vermelho e de um bloco no carnaval. Ainda vou um dia pra dançar a noite inteira. No dia que pintar o convite só vou avisar em casa: quero ficar até o dia amanhecer. Deve ser muito bom. Ainda vou realizar esse sonho.
Fotos: Genilson Coutinho
Para os que se interessarem em contratar os serviços de Maria Lúcia, basta entrar em contato pelo e-mail doistercos@globo.com
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