As supostas realidades sociais vêm se mostrando mais frágeis aos olhos daqueles que trilham as suas vidas pautadas no que vem sendo debatido e chamado de uma “heterossexualidade compulsória” que não só reproduz, mas também produzem nos corpos, maneiras consideradas normais e ideais de se relacionar afetiva e sexualmente.
Fato este que acontece mediante o ganho da visibilidade de comportamentos que fogem das inúmeras formas de padronização do corpo e do desejo desenhados pela percebida existência de travestis, transexuais, transgêneros, gays e lésbicas, ao qual se busca hostil e sutilmente enquadrar e categorizar dentro de uma suposta normalidade.
Além das lutas de aproximadamente, 40 anos de expressão dos movimentos LGBT, estes fatores acabam interferindo diretamente na visão de mundo, de uma sociedade contemporânea que por um lado ainda apresenta seu lado conservador muito forte, mas que ao mesmo tempo não pode negar as repercussões das vozes que até então eram silenciadas pelo medo e pela opressão, vozes estas que buscaram o aumento incessante dos “decibéis” de suas necessidades.
Isso é notório, pois já no começo desse novo ano podemos perceber o foco da mídia e dos debates políticos do recente plano de governo nacional voltados para assuntos polêmicos como o casamento gay, mudança do nome social para os transexuais, luta contra homofobia, a utilização da técnica de reprodução assistida por homoafetivos, além de vários destaques do público LGBT em novelas, filmes e reality shows.
De fato esse bombardeio de informações até então restrita a população LGBT e seus afins, acabam configurando na atualidade, questões e reflexões a respeito do ser humano como um todo, da maneira de sermos e existirmos no mundo, porque querendo ou não, estamos vivendo uma época onde a demarcação do desejo de mulheres e homens têm se confrontado diretamente, seja nas relações sociais ou nas relações consigo mesmo.
Não podemos prever ou determinar o que será daqui a alguns anos, mas acredito que podemos pensar no momento presente, onde a humanidade sempre dinâmica e nunca estática nos mostra que ser humano no século XXI é estar aberto à diversidade, seja ela em qualquer campo, principalmente no que diz respeito ao desejo.
Por outro lado, apesar das conquistas, ainda assistimos a atitudes violentas a supostos homossexuais, como os que vimos recentemente numa das principais avenidas do Brasil, a Av. Paulista (SP), além de contar com números significativos de homicídios derivados de possíveis casos de homofobia. Tristes fatos que fazem com que percebamos que ainda tem muito a ser feito.
Somos seres passíveis a múltiplos desejos desde o nosso nascimento (pensamento este demarcado pela análise de Sigmund Freud na virada do séc. XIX para o séc. XX), por isso demarcar esse campo é muito arriscado, porque mesmo com o avanço da tecnologia, ainda não somos máquinas e por isso não podemos ser tratados como tal; onde se é pré-destinado ou determinado a certas coisas, como robôs.
A demarcação do campo do desejo em heterossexuais e homoafetivos limitam as possibilidades de existência de uma humanidade que tem provado sua complexidade desde os primórdios; além de impossibilitar e negar a singularidade e a liberdade de cada um.
Por isso, a visibilidade e as discussões a respeito dessas temáticas, têm, num primeiro momento, nos revelado a imparcialidade de um conservadorismo ainda muito presente que não busca mais “normalizar” através de prisões ou de internações em hospícios como se fazia há alguns anos atrás, mas sutilmente determinar padrões de comportamentos heteronormativos para aqueles ditos como anormais e desviantes através de papeis de gênero bem demarcados e delimitados.
E, em um segundo momento, o movimento LGBT tem se apropriado de tal estratégia de uma maneira que, mesmo dentre tantas dificuldades, ainda tem alcançado um espaço que oscila entre conquistas efetivas, novos desafios e visibilidade para brigar pelos seus direitos, não apenas civis, mas de existência e felicidade.
Portanto, provavelmente 2011 será mais um ano em que o campo do desejo será focalizado pelos holofotes da mídia, da sociedade e de sujeitos que buscam conhecer sua própria verdade e assumi-la com coragem, tendo um único objetivo: buscar melhorias na dor e a alegria de se viver.
*Rogério Melo, Graduando em Psicologia na Universidade Paranaense – UNIPAR, membro do Grupo de Pesquisa de Estudos em Políticas Públicas em Saúde-( GEPPS) e do Grupo de Pesquisa Bioética, Direito e Cidadania e, membro da ONG Expressões, Direitos Humanos, Cultura e Cidadania.
**Fábio Morelli, Graduando em Ciências Sociais na UNESP/Marília e membro do Grupo de Pesquisa e Estudos Sobre Sexualidade (GPESS).
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