'Para mim, venceu o preconceito', diz advogada do Vôlei Futuro, Miriam Cristina Simões. Clube mineiro escapou de pena máxima do STJD por ser réu primário
O Cruzeiro terá de pagar uma multa de R$ 50 mil por conta dos insultos da torcida ao central Michael, do Vôlei Futuro, que marcaram o primeiro confronto entre as equipes, válido pela semifinal da Superliga e disputado em Contagem. Nesta quarta-feira, o caso foi a julgamento e, por decisão unânime, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) do vôlei decidiu que o clube não deveria receber a pena máxima, de R$ 100 mil, por ser réu primário.
A Procuradoria do STJD denunciou o Cruzeiro no artigo 243-G (praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência), parágrafo 2º do Código Brasileiro de Justiça Desportiva que diz respeito a torcedores. O Vôlei Futuro queria participar do processo como terceiro interessado, oferecendo denúncia no mesmo artigo, só que relacionado ao parágrafo 1º, que diz respeito ao envolvimento de dirigentes. Desta forma, a perda do mando de campo seria uma das possíveis punições. No entanto, o pedido foi indeferido.
- O clube está extremamente decepcionado. É inadmíssivel que só caiba multa num caso tão grave, porque a discriminação foi absurda. Pedimos participacão, mas todos os nossos pedidos foram negados. Para mim, venceu o preconceito - disse a advogada do Vôlei Futuro, Miriam Cristina Simões, que ainda não sabe se o clube poderá interferir no processo.
O Cruzeiro, por sua vez, irá recorrer da decisão. A equipe mineira acredita que a pena aplicada foi muito severa, visto que já o valor mínimo da multa é de R$ 100, e as medidas preventivas para o próximo confronto, dia 15 de abril, em Contagem, já foram tomadas. Enquanto isso, ninguém no clube comentará o caso para evitar novas polêmicas.
Comissão disciplinar lamenta episódio
Os representantes da comissão disciplinar ressaltaram a importância de uma punição exemplar por se tratar do primeiro caso envolvendo denúncia de homofobia no vôlei. Citaram, inclusive, a Constituição Brasileira, afirmando que o meio de rede do Vôlei Futuro teve sua dignidade e honra violadas.
Os representantes da comissão disciplinar ressaltaram a importância de uma punição exemplar por se tratar do primeiro caso envolvendo denúncia de homofobia no vôlei. Citaram, inclusive, a Constituição Brasileira, afirmando que o meio de rede do Vôlei Futuro teve sua dignidade e honra violadas.
- Era visível que o atleta teve o desempenho prejudicado. Foi uma manifestação generalizada e agressiva, que provocou constrangimento e humilhação. Assisti ao jogo, e em determinado momento vi o Ricardinho e outro jogador dando apoio ao Michael. O vôlei tem um público cada vez maior no Brasil, e é preciso que haja uma punição severa – disse o relator do processo, Luiz Tavares.
- Recebi a denúncia com tristeza. É difícil ver, em 2011, atitudes como esta em um país que vai receber a Copa e as Olimpíadas em alguns anos. Quando vemos um caso na Europa em que brasileiros sofrem discriminação, todos se envolvem, até sofrem. O Vôlei cresce a cada ano, e precisamos extirpar este tipo de comportamento logo – disse o procurador Fábio Lira.
A estratégia da defesa
Sem correr o risco de perda de mando de campo, o Cruzeiro tentou desqualificar os insultos proferidos a Michael alegando que, no dia 1º de abril, data da partida contra o Vôlei Futuro, o jogador ainda não havia assumido publicamente sua opção sexual. Desta forma, os gritos proferidos pela torcida não se enquadrariam em ato discriminatório.
Sem correr o risco de perda de mando de campo, o Cruzeiro tentou desqualificar os insultos proferidos a Michael alegando que, no dia 1º de abril, data da partida contra o Vôlei Futuro, o jogador ainda não havia assumido publicamente sua opção sexual. Desta forma, os gritos proferidos pela torcida não se enquadrariam em ato discriminatório.
- A defesa entende que não houve ação discriminatória porque ninguém no estádio sabia da opção sexual do atleta, que só se pronunciou publicamente a este respeito no dia 5 de abril. Como poderia haver discriminação se os torcedores não sabiam? Ele é um excelente atleta, mas não é um Giovane, um Ricardinho. Ninguém o conhecia antes deste episódio, muito menos sua opção sexual. Isto acontece em todos os estádios. Não houve qualquer repercussão imediata nem do clube nem da mídia porque todos acharam normal. Não tem como colocar 2 mil mordaças na boca de cada um – alegou Henrique Saliba, advogado patrocinador do clube mineiro e representante no caso.
O advogado fez questão de frisar que sua defesa foi técnica e que o clube abomina qualquer manifestação desrespeitosa com os atletas adversários. Para a próxima partida, medidas especiais de segurança estão sendo tomadas. Além das câmeras de transmissão do evento, o ginásio terá outras quatro vigiando os torcedores. O efetivo da Polícia Militar também será reforçado. Além disso, o marketing mineiro promeve uma campanha educativa.
- Cartilhas serão distribuídas e o ginásio terá faixas pedindo a colaboração da torcida. O locutor também irá se manifestar caso haja necessidade. Estamos atuando no intuito de prevenir qualquer outro episódio. E a polícia recebeu a orientação de identificar qualquer infrator.
O último confronto entre Cruzeiro e Vôlei Futuro na Superliga 2010/2011 acontece às 20h30m desta sexta-feira, no Ginásio Poliesportivo do Riacho. A semifinal está empatada em 1 a 1, e quem vencer este jogo enfrenta o Sesi na final. Todos os dois mil ingressos já foram vendidos.
O último confronto entre Cruzeiro e Vôlei Futuro na Superliga 2010/2011 acontece às 20h30m desta sexta-feira, no Ginásio Poliesportivo do Riacho. A semifinal está empatada em 1 a 1, e quem vencer este jogo enfrenta o Sesi na final. Todos os dois mil ingressos já foram vendidos.
Fonte: Globo Esporte
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