Nós, historiadores e professores, dedicados ao estudo da Inquisição em Portugal e no Brasil, dirigimos esta moção à sociedade brasileira e aos Poderes da República, em defesa da tolerância, da laicidade e da democracia em nosso país.
O Brasil atual assiste a contínuas e crescentes manifestações de intolerância, discriminação e preconceito, muitas vezes fomentadas por movimentos e grupos organizados, que trazem à lembrança práticas dos tempos da Inquisição.
Tais manifestações ameaçam a democracia e as liberdades civis, sociais e políticas, conquistadas a duras penas em passado recente.
As vítimas preferenciais da intolerância, discriminação e preconceito são as mulheres, os índios, os negros, os judeus, os homossexuais, os nordestinos, os seguidores de religiões afro-brasileiras, os ateus e, em menor grau, os estrangeiros.
O Estado brasileiro, por meio dos órgãos que constituem os poderes executivo, judiciário e legislativo, tem agido de modo ambíguo face ao crescimento da intolerância, da discriminação e do preconceito. Ora se coloca em defesa das vítimas, ora silencia e compactua tacitamente, quando não o faz de forma explícita, com os algozes.
Neste momento em particular, recrudescem-se as idéias, os movimentos e os comportamentos que exprimem as intolerâncias de diferentes tipos.
Cabe ao Estado brasileiro pôr fim às ambiguidades de suas ações, em consonância com sua natureza laica e democrática, assegurada pela Constituição da República. É imprescindível que os Poderes da República, de forma clara, coerente e tenaz, combatam toda a sorte de discriminação, de intolerância e de preconceito. Nenhum recuo pode ser admitido nessa luta, sob o risco de vermos ressuscitados o terror dos tempos de arbítrio e opressão do passado.
Se a Inquisição dizia agir sob o lema “Misericórdia e Justiça”, hoje há movimentos e ações que, em nome da “democracia” e da “liberdade”, ceifam os direitos civis, sociais e políticos. O Brasil não pode curvar-se a essas manifestações, sendo sua obrigação reafirmar sua soberania como Estado laico, democrático e tolerante, defensor de direitos civis, sociais e políticos iguais para todos, das maiorias às minorias.
Colóquio Internacional Religiosidade, Tribunal do Santo Ofício e Minas Setecentistas, organizado pela UFMG, UFSJ, UERJ, UFJF e Universidade Nova de Lisboa / Centro de História do Além-mar (http://www.fafich.ufmg.br/his/site/index.php/coloquio/coloquio/Pagina-Inicial/Organizacao-e-Local)
Tiradentes, MG, 3 de Junho de 2011
1 comentários:
Muito bem!!!
Sonho com o dia em que o Brasil não mais se pautará nos dizeres de alguns grupos, especialmente os que se dizem "cristãos" (que de cristãos não têm nada além do nome) e será, enfim, um país verdadeiramente livre e democrático.
Postar um comentário