O regulamento do Ministério de Saúde argentino restringe a doação de sangue por parte de homossexuais masculinos
Os avanços acerca dos direitos civis dos homossexuais na Argentina foram relevantes. A presidente Cristina Kirchnerimpulsionou o projeto no Congresso Nacional, e a Argentina foi o primeiro país latino-americano a aprovar o casamento gay. Foi um passo importante, mas não concludente. O preconceito continua.
Assim como no Brasil, o regulamento do Ministério de Saúde argentino restringe a doação de sangue por parte de homossexuais masculinos.
Para os homens, levanta-se a questão acerca das relações sexuais obtidas com parceiros do mesmo sexo, nos últimos 12 meses. Para as mulheres, pergunta-se se sobre as relações sexuais que elas tiveram com um homem que por sua vez, teve relações com outro homem. Quem responde sim a essas perguntas não pode doar sangue.
Facundo Nicolás García, secretário de Diversidade Sexual do Partido Socialista, é exemplo do reflexo do preconceito embutido no questionário.
Facundo estudou Ciências Sociais na Universidade de Buenos Aires e, desde cedo, é ativista do movimento LGBT na Argentina. Aos 17 anos contou para a família sobre sua orientação sexual, e diz ter recebido apoio desde então.
Recentemente, a mãe dele adoeceu, precisando submeter-se a uma cirurgia de emergência, na qual ela teria de receber transfusão de sangue. No entanto, pelas regras do Ministério da Saúde, Facundo não podia doar sangue para a própria mãe porque era homossexual e tinha vida sexual ativa.
Tive que mentir para poder doar sangue à minha mãe. Não somos uma família numerosa, e tendo consciência do meu estado de saúde, quis doar. Faço exames regularmente e estava tranquilo, conta. Mas sempre gera raiva se deparar com esses tipos de pergunta. São discriminatórias.
Todo doador de sangue deve ser saudável, isso é inquestionável. Os exames laboratoriais são imprescindíveis para garantir uma doação segura. No entanto, os hábitos sexuais de cada doador deveriam ser mais importantes do que o sexo de seus parceiros, uma vez que os homossexuais não são mais o único grupo de risco. A infecção cresce também entre mulheres e pessoas com mais de 50 anos.
O último informe do ministério da Saúde da Argentina diz que as relações sexuais desprotegidas seguem como principal via de transmissão do vírus. Entre 2007 e 2009, 84% das mulheres e 88% dos homens diagnosticados tinham se infectado assim. No caso dos homens, 49% foram infectado através de uma relação heterossexual, e 36% por uma relação homossexual.
Facundo defende que seja observada a prática de risco e não mais grupos de riscos. O conceito de grupos de risco é anacrônico. Os agentes de saúde hoje falam em práticas de risco: as perguntas devem apontar a profilaxia nas relações sexuais. Não interessa com quem se tem relações sexuais, sim o uso de preservativo.
Este ano, na província de Río Negro, no Sul da Argentina, o modelo de questionário foi reformulado, e as perguntas sobre orientação sexual foram cortadas. O Partido Socialista portenho propõe reformular o questionário em todo o país.
No texto do projeto - já aprovado pela comissão de Saúde da Câmara de Deputados - o partido defende que ao incluir este tipo de perguntas sobre a opção sexual dos doadores, o Ministério da Saúde invade a esfera de privacidade das pessoas e impõe um critério raso e claramente discriminatória: A doação de sangue é um ato de solidariedade e de responsabilidade social, e hoje, sem nenhuma razão válida, estamos privando essa possibilidade a um importante número de pessoas.
Fonte: Mundo Mais
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