Nunca
antes o movimento LGBT em Salvador esteve tão forte. E
não foram os gays os protagonistas. Assim como as travestis têm ajudado a
politizar atividades e espaços mistos do movimento LGBT, as lésbicas têm
encontrado um caminho efetivo de combate à lesbofobia via mobilizações
de
visibilidade. É, assim, por exemplo, nas diversas caminhadas lésbicas
que
atraem os movimentos sociais e conscientizam a sociedade, diferenciando
qualitativamente da carnavalização das paradas LGBT. E foi assim na
Semana da
Visibilidade Lésbica, de 29 de agosto a 3 de setembro de 2011 em
Salvador.
Organizações como o Coletivo de Lésbicas e Mulheres Bissexuais (LesBiBahia), o Grupo Felipa de Souza e a Rede Afro LGBT uniram-se a militantes independentes e construíram diversas mobilizações, entre cafés-da-manhã, mostras de filmes, uma sessão especial e uma festa das mulheres. As lésbicas negras, pela primeira, se destacaram politicamente, apesar de desde sempre representarem a maioria (não apenas nesse movimento). A participação plural construiu uma inédita unidade das lésbicas e mulheres bissexuais e as alçou a um novo patamar.
Não, claro, sem uma resistência do machismo, do racismo e da lesbofobia de plantão. Se a hegemonia masculina e heterossexual no movimento negro e a hegemonia branca e heterossexual no movimento de mulheres aplaudiram e se solidarizaram diante da mobilização das mulheres lésbicas, e das lésbicas negras, no movimento LGBT foi diferente. Os homens gays, em geral brancos, reagiram furiosamente com acusações, ameaças e, acredite, puxões-de-orelha! Tudo isso via listas de internet.
A resposta das mulheres foi um silêncio ensurdecedor. Até seus apoiadores, depois de algumas defesas, começaram a afirmar que só se responderiam após o pronunciamento delas. E logo perceberam que o silêncio era o pronunciamento, uma demonstração inequívoca do quanto o movimento lésbico avançou na politização.
O silêncio nas listas pode ser lido de diversas formas possíveis. Deslegitimou as posturas machistas e racistas dos homens brancos, e dos brancos homens, ávidos por “ensinar” as mulheres a agir “como devem”. Também garantiu a visibilidade das mobilizações, que seriam facilmente subtraídas pelas disputas políticas. As mulheres sabiam que descer ao nível da briga despolitizaria o movimento social e a luta das lésbicas. E sabem que listas de internet são importantes para repassar informações e mobilizar segmentos, mas não disputam a sociedade. Para isso, é preciso ir para às ruas, às salas-de-aula e ao poder público.
E elas foram. A resposta aos desmandos foi mais mobilizações e uma energia que não cessou na semana da visibilidade lésbica. Os homens que se preparem. Elas querem o poder e sabem como conquistá-lo.
Nilton Luz
Blog do Fórum Baiano LGBT
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