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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Globo: quem se vê por ali?

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Pesquisador analisa como a homossexualidade brasileira é retratada nas novelas da maior e mais influente emissora de televisão do país

“Não é cê-u-ésse, é CUS, mesmo”, costuma frisar Leandro Colling ao se referir ao grupo de pesquisa que coordena, em Cultura e Sexualidade. Ele é professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), presidente da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura e estuda como é retratada a homossexualidade nas telenovelas da Globo. Mas, afinal: uma trama novelesca (seja um beijo gay no SBT ou a decisão de tesourar certas histórias) muda alguma coisa? Nessa entrevista, ele aponta que os padrões propagados pela emissora  é um dos principais “motores da falta de respeito à diversidade sexual e de gênero”.

Que gay é esse retratado nas telenovelas brasileiras?
Em primeiro lugar, preciso dizer que estudo apenas as telenovelas exibidas na Rede Globo e nelas existem pelo menos três formas hegemônicas de representar os gays. Essas três formas às vezes se misturam. Uma delas relaciona os gays com a criminalidade/marginalidade, a outra com o conhecido estereótipo da “bicha louca”, afeminada, cheia de trejeitos que, muitas vezes, provoca risos perversos no telespectador. Nos últimos 10 anos, o gay masculinizado, bem inscrito dentro de um modelo heteronormativo, começa a ser retratado com frequência, o que nos leva a pensar na criação de um outro estereótipo.

Mas o senhor acredita que as novelas têm poder de formar opiniões e pautar debates? Elas ajudam ou prejudicam a visibilidade dos homossexuais?
Os pesquisadores da área da comunicação há décadas nos dizem que não devemos pensar que a mídia tem um poder absoluto sobre os consumidores das mensagens. O poder é limitado, mas nem por isso menos importante. Se ajudam ou prejudicam? Creio que ora ajudam e ora prejudicam. Ajudam ao dar visibilidade ao tema, quando humanizam os personagens LGBT, e prejudicam quando os tratam como abjetos, sem dignidade, sem vida sexual ativa e dentro de um padrão heteronormativo. É justamente esse padrão um dos principais motores da falta de respeito à diversidade sexual e de gênero.

Houve um aumento da presença de personagens homossexuais nas novelas?
Sim, a nossa pesquisa aponta que houve um crescimento, em especial a partir de meados da década de 90.

E a que se atribui esse crescimento?
Creio que pode ser atribuído a diversos fatores, mas eu citaria os seguintes: o crescimento das paradas LGBT, a proliferação da visibilidade em outros tipos de mídia, o início das discussões de políticas públicas para essa população no Brasil, as notícias sobre alguns avanços na conquista de direitos em outros países.

Alguns movimentos gays ameaçam processar autores e a emissora por apresentar homossexuais caricatos nas telenovelas. Ou então tecem elogios quando aparecem personagens “sem afetações”. Isso não seria olhar a homossexualidade normativamente? Ou a questão seria mais por uma pluralidade de visões na televisão?
Além de pesquisar as novelas, nós também sempre verificamos a repercussão desses personagens LGBT na mídia. E realmente verificamos que o movimento social, quer dizer, alguns militantes desse movimento, que é bem diverso também, elogiam os personagens bem enquadrados em um modelo heteronormativo (sem afetações, querem casar e ter filhos, são monogâmicos, não se diferenciam dos personagens heterossexuais) e criticam as “bichas” afeminadas e as lésbicas masculinizadas. Às vezes é preciso criticar sim essas personagens, quando elas são motivos de chacota e provocam risos perversos nos telespectadores. Mas outras vezes o humor delas é libertador, é aquele humor característico de quem sabe rir de si mesmo e encara a vida com alegria. Nesses casos, creio que não cabem críticas. Penso que muitas vezes alguns militantes não percebem essa diferença.
  
Blog Coletivo Outras Palavras

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