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terça-feira, 10 de abril de 2012

[ARTIGO] Uma Travesti Presidenta? SIM! É Keila Simpson, orgulho da Bahia! - Ricardo Santana*

1 comentários
Esse foi um pedido feito por Caetano Veloso à Jô Soares, no dia 04/09/2008:

"Meu querido Jô Soares, faz uma entrevista com a Keila Simpson, a principal informante do trabalho feito sobre o travestismo no Brasil pelo antropólogo americano Don Kulick; ela, Keyla, é uma pessoa incrivelmente articulada e tem muito a contar sobre a realidade da vida dos travestis brasileiros (vive em Salvador mas já viveu em Milão e sabe de tudo: está ligada a organizações de humanização da condição das travestis)! - e o livro “Travesti” acaba de sair traduzido em português;"


Hoje, esta pessoa incrivelmente articulada e com muita história para contar foi eleita Presidenta do Conselho Nacional de Direitos LGBT (CNCD/LGBT).


Mas a história dessa Travesti, com T maiúsculo, não pode passar despercebida pelas Lésbicas que ainda sentem vergonha da sua sexualidade, pelos Gays que insistem em esconder seu amor por outros homens, pelos Bissexuais que continuam escondidos. Por fim, as Travestis e Transexuais do Brasil precisam conhecer um pouco mais da história de Keila Simpson. É um exemplo de vida e uma lição de dignidade que este país precisa.


Foi em tempos de ditadura militar que Keila chegou do Maranhão, o centro da cidade de Salvador era o seu local de trabalho. Suas colegas de pista a apelidavam de "Gordinha Elegante", nesta época, a polícia descia o sarrafo, a delegacia de jogos e costumes perseguia Keila e suas colegas, batiam nelas como se estivessem batendo em homens, tratavam-nas como escória, mas nunca faltou homem casado e heterossexual de fachada que pagava bem pela satisfação sexual. Keila e suas colegas viveram a cumplicidade da rua e salvaram suas vidas, apesar dos perigos da violência policial e do auge da epidemia de infecção por HIV. Elas tinham um ponto em comum: eram Travestis, nem homem, nem mulher, TRAVESTI, seja na época da ditadura, seja atualmente, elas são alijadas dos métodos adequados e por isso injetam silicone industrial para modificar seus corpos e assumem uma identidade de gênero diversa, subversiva, inquietante, uma atitude corajosa e arriscada.


Ruas escuras, fétidas e inseguras foi o ambiente que Keila vivenciou em sua chegada à Salvador, vê-se que nada mudou! As Travestis da Orla e da Carlos Gomes continuam tomando garrafadas e pauladas dos transeuntes, como em tempos atras, é corriqueiro vê-las nas páginas policiais sendo brutalmente assassinadas. Sim, para a grande maioria das Travestis e Transexuais de Salvador a prostituição ainda é a única forma de conseguir alimento, já que os pais expulsam-nas das suas casas, a Escola as rejeita e ridiculariza e o Estado finge que elas não existem. Estas trabalhadoras assassinadas tem cor, idade e categoria social: são negras, jovens e em sua maioria oriundas da periferia de Salvador ou de outras cidades do Brasil.


Nossas Travestis e Transexuais são carne barata no mercado nefasto de exploração sexual e tráfico de pessoas, Keila conheceu a vida no exterior e suas aventuras, ela fala italiano e bajubá e se comporta com a mesma simplicidade, seja com uma Travesti em seu local de trabalho, seja com uma autoridade governamental, deve ser por causa desse seu talento em se fazer compreender pelos humildes e pelos doutos que hoje Keila assume um desafio de todos nós.


O tempo passou e cá estamos em 10 de abril de 2012. A história do movimento LGBT deste Estado não pode ser contada sem a participação de Keila Simpson, para a Bahia esta data é histórica e motivo de grande orgulho. Ela conseguiu dar um novo ânimo à militância de Travestis e Transexuais dentro do movimento LGBT da Bahia e como uma boa gestora ela formou novas lideranças que atualmente cumprem um papel fundamental na condução do Comitê Estadual LGBT, na construção do Fórum Baiano LGBT e na ATRAS, Associação de Travestis de Salvador.


E estejam seguras e seguros, todos vós: A eleição de Keila não foi apenas para dar visibilidade à uma Travesti negra e nordestina, sua eleição é resultado direto de sua experiência, ela não fez faculdade, não tem diploma, mas sabe como ninguém ensinar o que aprendeu com a vida e não foi pouca coisa. Keila é referência para todas e todos nós, em tempos de perseguição do fundamentalismo religioso, ela é a prova de que devemos ter ORGULHO da nossa sexualidade e não podemos ter medo de exercê-la de forma saudável e cidadã.


Keila Simpson é um sinal de alerta e um puxão de orelha para qualquer pessoa que ainda acredita que as Travestis estão relegadas à rua, à vulnerabilidade, à morte. Ela é prova que os tempos são outros, ainda que velhos vícios do passado ainda sejam sentidos na pele. Os desafios desta nova Presidenta do Conselho Nacional LGBT são muitos, tenho certeza que Keila vai contar a sua história para a Presidenta Dilma, vai sentar com o Governador da Bahia e dos outros Estados para articular políticas públicas e combaterá o bom combate, como sempre fez!


Bom trabalho Keila, conte conosco!


*Ricardo Santana é
Mestre em História - UEFS e Professor da SEC-DIREC31.
Milita no KIU! - Coletivo Universitário pela Diversidade Sexual e no Fórum Baiano LGBT

1 comentários:

Anônimo disse...

Só quem conhece ela sabe do que você estar falando Ricardo... Essa mulher travesti é uma pessoa que sabe onde anda, sabe o que fala e o mais importante, sabe pra quem falar a coisa certa na hora certa!!!

Deus te ilumine mais e mais Keila, Ricardo nao preciso te fala nada mais né, te amo irmão!!

Jhuvenal Lima

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