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domingo, 29 de abril de 2012

MPE desarticula esquema de extorsão chefiado por evangélicos

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Sem comando, presídio em Cuiabá é controlado por detentos; agente denuncia descaso de secretaria

Jesus liberta?
O presidente do Sindicato dos Servidores do Sistema Penitenciário de Mato Grosso (Sindspen), João Batista de Souza, revelou ao MidiaNews que a atual situação do Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC) envolve situações bem mais graves do que a cobrança de dízimo e extorsão por parte de algumas igrejas evangélicas. 

Souza afirmou que o caos dentro do presídio é tão grande que quem comanda a carceragem, na verdade, são os presos.

Na semana passada, o Ministério Publico Estadual (MPE) desarticulou um sistema de extorsão promovido por membros de igrejas evangélicas - entre elas, a Universal do Reino de Deus, do "bispo" Edir Macedo -, dentro do CRC, a antiga Cadeia Pública do Carumbé, no bairro do mesmo nome, em Cuiabá.

O promotor de Justiça Célio Wilson de Oliveira disse, em entrevista, disse que o esquema só é possível com a participação de agentes penitenciários. As investigações continuam e o presidente do Sindspen foi convocado para prestar esclarecimentos sobre a situação. 


João Batista de Souza admitiu saber da existência esquema e que os agentes são praticamente obrigados a cooperar. Ele reafirmou que o presídio é comandando pelos presos e que os agentes ficam impotentes, diante da superlotação das alas e da falta de um local para isolar os detentos considerados perigosos. 


“Os agentes prisionais não podem fazer nada. A situação é muito mais grave do que pode parecer: não são apenas a extorsão, cobrança de dízimo. É cada vez mais difícil controlar toda essa situação. Na verdade, quem dá as ordens são os presos. Vivemos sob o perigo constante e o risco de rebelião é grande”, revelou o sindicalista. 


O agente contou que a administração do CRC também está ciente da situação, assim como a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh). Ele disse que, para evitar uma possível rebelião ou motim, as irregularidades são aceitas pelos responsáveis pelo sistema penitenciário, e os presos mandam e desmandam na carceragem. 


“Não é segredo esse poder dos presos dentro das unidades prisionais. Estamos com superlotação, temos o triplo que é permitido. Os agentes que vão contra e reclamam acabam sendo transferidos e vão para presídios distantes, longe das famílias. A Sejudh fica jogando a culpa nos gestores anteriores, que não fizeram o trabalho direito. Mas, também não o fazem na atualidade”, disse o agente.
 
O presidente do Sindspen disse, ainda, são os presos que escolhem qual agente é “autorizado” a cuidar de determinada ala. Agentes que se recusam a obedecer aos detentos acabam sendo denunciados e transferidos. 

“Para ter uma ideia do caos que vivemos, são os presos que escolhem os agentes que vão cuidar das alas. Não é qualquer agente que pode ter contato com os presos, sob o risco de morte. Por falta de um local para isolar os presos que fogem às regras, temos que tolerar e fazer vistas grossas. Quem não aceita é transferido”, disse.

Dízimo na cadeia


Na semana passada, o Ministério Publico Estadual (MPE) desarticulou um sistema de extorsão promovido por membros de igrejas evangélicas, dentro do Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC).

A operação foi em cumprimento a mandados de busca e apreensão, expedido pela 2ª Vara de Execução Penal da Capital. 


A ação foi motivada por várias denúncias de presos e de parentes, sobre a cobrança de dízimo.

Os denunciantes relatam que os presos que não contribuíam com as igrejas sofriam agressões, eram punidos com transferência para outras alas e até perdiam o direito de dormir em camas. 


O promotor aponta que as denúncias pesam contra três igrejas evangélicas: Universal do Reino de Deus, Assembleia de Deus e Deus é Amor. 
Ele informou que foram encontrados, aproximadamente, R$ 1,5 mil, com um representante da Igreja Universal. Por mês, a renda de cada igreja, dentro do presídio, é de R$ 15 mil. 

No material recolhido pelos investigadores estão boletos bancários com o nome da igreja, dinheiro, além de um extrato bancário em nome de um preso e o saldo de pouco mais de R$ 43 mil. 

A operação teve a participação de 50 policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Ronda Tática Ostensiva Móvel (Rotam), além do Ministério Público (MP) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). 


O Centro de Ressocialização de Cuiabá tem capacidade para abrigar 392 reeducandos, mas possui cerca de 1,1 mil, atualmente. 


Outro lado

MidiaNews entrou em contato com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), mas, até a edição da reportagem, não obteve resposta sobre as denúncias do presidente do sindicato.

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