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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Homossexuais enfrentam homofobia crescente no Azerbaijão

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Manifestantes protestam contra a competição anual de música Eurovision em Baku, capital do Azerbaijão
O concurso musical Eurovision conta com inúmeros seguidores gays. Mas a homofobia é comum no país anfitrião deste ano, o Azerbaijão, onde os homossexuais têm que ser discretos e temem ataques violentos. Ainda assim, os habitantes dizem que os fãs gays do Eurovision que forem a Baku não precisam temer por sua segurança --porque o regime não quer problemas.

“Gays”, diz o azerbaijano. “Detesto! Não conheço nenhum e nem quero conhecer. Para nós, não são pessoas”.


O homem, que não quis ser identificado pelo nome, não é desinformado. Tem terceiro grau completo e é simpático à democracia e ao Iluminismo europeu. E também é muçulmano. Um muçulmano secular, moderno, segundo ele, mas que odeia os gays.

 
O concurso musical Eurovision, que neste ano ocorre na capital do Azerbaijão, tem um grupo enorme de seguidores homossexuais em torno do mundo. Mas a homofobia é enorme no Azerbaijão, onde muitas pessoas consideram a palavra “gay” um insulto, e o governo usa acusações de homossexualidade para desacreditar membros da oposição, independentemente de sua sexualidade.
Jornalistas críticos ao regime foram filmados em segredo enquanto se masturbavam e depois "expostos" como gays em noticiários no canal de televisão Lider, que é pró-governo. O presidente do partido de oposição Frente Popular, Ali Karimili, também foi acusado de homossexualismo, o que, segundo o governo, o torna inadequado para ser político.
Há ataques contra homossexuais, mas as vítimas raramente dão queixa, com medo das autoridades corruptas.

“Anos infelizes”

O famoso artista e poeta Babi Badalov deixou seu país natal do Azerbaijão há muito tempo. Ele diz que não tem a menor intenção de voltar a esse “país estúpido”. “Amo a cultura e a tradição, mas simplesmente quero esquecer os anos infelizes de sofrimento que passei lá”, diz ele. Após o Azerbaijão se tornar independente, em 1991, a liberdade de religião foi concedida e foi acompanhada de um aumento nos ataques homofóbicos, diz ele. “Desde então, a homofobia cresceu entre a maioria da população xiita. E não há um final à vista.”
No início dos anos 80, Badalov mudou-se para a cidade russa de São Petersburgo. Apesar de a cidade aprovar uma lei contra a “propaganda gay e pedófila” no início do ano, os homossexuais azerbaijanos acham que a Rússia está muito à frente de seu próprio país em termos de direitos de gays e lésbicas. "A nova lei é uma resposta aos fortes protestos da comunidade gay e lésbica em São Petersburgo”, diz Ruslan Balukhin, ativista de direitos dos homossexuais do Azerbaijão. “Em Baku, esses protestos nem existem. Um rumor sobre uma possível parada de orgulho gay durante o Eurovision já gerou uma tempestade de indignação e revolta na população.”

Discrição

Apesar de o Azerbaijão ter abolido uma lei da era soviética criminalizando a atividade homossexual em 2000 e muitos gays e lésbicas poderem viver e trabalhar na capital em relativa paz, os homossexuais têm que ser discretos em público. Além de uma área de paquera no centro, não há locais oficiais de encontro, eventos ou organizações. Alguns homossexuais proeminentes falam de sua orientação sexual, mas a maior parte continua firmemente escondida.
A intolerância nas áreas rurais é ainda maior do que nas cidades, levando muitos gays e lésbicas das províncias a fugirem de suas regiões opressivas, por vezes perigosas. É raro homossexuais contarem sobre sua orientação sexual para suas famílias, e muitos levam uma vida dupla cuidadosamente orquestrada --e com bons motivos. Em 2006, a Associação Internacional Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersex (Ilga), um grupo com sede em Bruxelas, informou sobre o caso de uma transexual azerbaijana que foi brutalmente torturada pelo próprio pai por anos quando este descobriu que ela tinha trabalhado como prostituta.
“Se a minha família descobrisse, me mataria ou me queimaria viva”, disse uma lésbica. Sua resposta é típica de muitos homossexuais do país quando questionados sobre como agem em público.
Ataques contra as minorias sexuais podem ser motivados pela religião, falta de educação ou atitudes conversadoras. “Mas o pior é a ignorância”, diz Balukhin.

“Completamente seguro”

Em um restaurante no centro de Baku, o autor Alekper Aliyev conversa com um atendente falante e exuberante. No fundos do subsolo, há uma espécie de sala privada, uma área com paredes de pedra e duas mesas pequenas. No ambiente, música de elevador. Aliyev usa um boné de beisebol e um casaco com capuz, passa a impressão de ser educado e urbano de forma bem discreta.
O autor causou escândalo no Azerbaijão em 2008 com seu livro “Artush and Zaur”, que conta uma história de amor envolvendo dois homens. Isso por si só seria o suficiente para causar comoção no país. Mas Aliyev acrescentou um algo mais: Zaur é azerbaidjano, mas Artush é armênio. O Azerbaijão e a Armênia são inimigos amargos devido a uma disputa territorial pela região de Nagorno-Karabakh. O romance causou enorme revolta no Azerbaijão, onde foi proibido.
Quando perguntado se os gays estrangeiros visitando Baku para o Eurovision precisam temer por sua segurança, Aliyev diz: “Não, podem se sentir totalmente seguros. Não porque os azerbaijanos sejam tolerantes, mas porque o governo autoritário não quer problemas”.

Ele conta que o clã do presidente Ilham Aliyev --com quem ele compartilha o último nome-- vai “lidar com” qualquer um que provoque os gays. Ele explica que o Azerbaijão quer se apresentar como um país secular de mente aberta e acrescenta sarcasticamente “com dezenas de prisioneiros políticos, mas com minorias sexuais 'livres'”.
O autor está preocupado com a radicalização crescente da religião no país. “É tão perigoso para nós protestarmos contra o Islã quanto contra o governo”, diz ele. “O Azerbaijão está se tornando parecido como o Irã.”

Imensa influência

De fato, a influência do vizinho Irã é imensa. Aliyev diz que o presidente Aliyev, que é ateu, gosta de cultivar uma imagem secular do país. Vestir lenço na cabeça é proibido nas escolas do Azerbaijão, não há programas religiosos na televisão e, ocasionalmente, mesquitas são fechadas. “No Sul, nossos compatriotas enviam os filhos a escolas iranianas e permitem que façam a faculdade por lá”, diz Aliyeb.
Na quarta-feira, o Irã acusou o governo do Azerbaijão de insultar o Islã porque ia permitir uma “parada gay”, de acordo com a agência de notícias semioficial Fars. De fato, nunca houve esse tipo de manifestação no país e nada havia sido planejado para o Eurovision. Na realidade, Teerã está irritada porque o Azerbaijão, rico em petróleo, fechou um acordo de armas de vários bilhões de dólares com o arqui-inimigo do Irã, Israel, em fevereiro, e aparentemente prometeu permitir que as forças aéreas israelenses tenham acesso a várias bases militares no Azerbaijão --que os israelenses poderiam usar em um ataque contra as instalações nucleares do Irã.
Acontece que nunca houve a menor chance de um evento de orgulho gay coincidir com o Eurovision, como diz Ruslan Balukhin, o ativista. “Precisaríamos de licença da prefeitura para isso --e não a obteríamos.”
Fonte: Annette Langer, da Der Spiegel
Em Baku (Azerbaijão) 
Tradutor: Deborah Weinberg

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