Por Dyogenes Costa
Foto Divulgação
Salvador, 28/08/2009 - É notória uma aversão do Diretor do Sistema Metrópole de Comunicação, Mário Kertész, em relação aos homosexuais.
Seus pronunciamentos homofóbicos se tornaram clichês diários, chamando a atenção da comunidade GLSBT e sendo pauta inúmeras vezes na imprensa local, que sempre sinalizou tamanha apologia ao preconceito e intolerância do radialista.
Como se não bastasse, a antiga revista Metrópole, em quase todas as suas edições – se é que não pode dizer todas – foram citadas questões de paródias, sátiras e inversões de sentidos relacionados aos homossexuais.
Hoje, com o Jornal Metrópole, a coisa não é diferente. Parece que a homofobia de Kertész se proliferou com os profissionais que estão à frente do jornalismo da sua empresa ou então ser homofóbico(a) é um critério a favor na hora da contratação.
Pior que isto é ver uma redatora-chefe - Ana Paula Ramos – permitir um comentário infeliz de um grupo de Pesquisa (CUS) da UFBA, sem prévia entrevista com seu dirigente, o professor Leandro Colling.
O comentário causou um desconforto com a área acadêmica e repúdio dos envolvidos, além daqueles que se identificam com a pesquisa desenvolvida pelo grupo.
A nota foi publicada no dia 24 de julho de 2009, na página 2, o Jornal da Metrópole:
No ‘CUS’ do mundo. Que a Bahia é uma terra onde qualquer absurdo é possível, todos estão cansados de saber, mas um grupo da Faculdade de Comunica¬ção da Ufba resolveu ajudar a nos inscrever ainda mais nessa van¬guarda do “vale-tudo”. Trata-se do grupo de pesquisa Cultura e Se¬xualidade, fundado em 2008 pelo professor doutor Leandro Colling, que resolveu adotar uma sigla nada ortodoxa: ‘CUS’. O grupo, de nome peCUliar, foi aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa na Bahia (Fapesb) e vem recebendo dinheiro governamental para manter o CUS na cadeira, estudando e dedicando-se a identificar e analisar a representação dos personagens homossexuais nas teleno¬velas da Rede Globo e no teatro baiano.
O professor Leandro Colling encaminhou a seguinte correspondência:
Ao publisher do Jornal da Metrópole, Mário Kertész
À redatora-chefe do Jornal da Metrópole, Ana Paula Ramos
Na edição do último dia 24 de julho, na página 2, o Jornal da Metrópole publicou uma nota que ironiza, desrespeita e considera “um absurdo” o fato de ter sido criado um grupo de pesquisa em Cultura e Sexualidade que adotou a sigla CUS. Em função disso, nós, integrantes do referido grupo, gostaríamos de repudiar a referida nota e esclarecer os seguintes aspectos:
- a comunidade acadêmica e as demais pessoas que já tiveram acesso aos trabalhos publicados e/ou apresentados pelos integrantes do CUS (em eventos locais, nacionais e internacionais) , ao invés de considerarem a existência do grupo como um “absurdo”, têm destacado a sua importância e a qualidade do trabalho que vem sendo desenvolvido. O grupo é formado por dez alunos e alunas de graduação da UFBA e da UFRB e duas mestrandas do Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura e Sociedade, ou seja, todos são pesquisadores em formação. O grupo, um dos poucos do tipo existentes no Brasil, foi criado há menos de dois anos no interior do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, sediado na Facom/UFBA. Apesar disso, parte da produção do grupo já está disponível no site http://www.cult. ufba.br/pesq_ cult_sexualidade .htm;
- nesse mesmo site, os interessados em conhecer o trabalho do grupo poderão entender porque adotamos a sigla CUS. Não se trata apenas de uma provocação. Defendemos que as pesquisas inovadoras precisam provocar sim, mas nosso nome tem, na verdade, outros propósitos. O grupo estuda determinadas correntes teóricas, ainda pouco difundidas no Brasil, que possuem a proposta de positivar determinados insultos normalmente atribuídos à comunidade LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros) . Além disso, se realmente estudarmos as relações entre cultura e sexualidade, perceberemos como a cultura (e as forças – políticas, “científicas” e religiosas - que a movem) foram, ao longo dos tempos, atribuindo sentido, uso e escolhendo quais partes dos nossos corpos devem ou não ser erógenas e sexuais. Quando isso fica claro, o estranhamento com o nome CUS perde força, pois o ânus passa a ser um órgão como qualquer outro do corpo humano, que merece ser pesquisado em todas as suas variantes, para além dos aspectos biológicos ou médicos;
- em função disso, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), ao invés de ser questionada, deveria ser elogiada por ter entendido e apoiado o projeto de pesquisa do grupo, que analisa a representação de personagens LGBTT nas telenovelas da Rede Globo e no teatro baiano. Aliás, cumpre lembrar que a Fapesb apóia projetos que foram aprovados por três pareceristas especializados. O apoio da Fapesb tem sido fundamental para estruturar e qualificar o grupo, especialmente por possibilitar a compra de livros nacionais e importados que não existem nas bibliotecas públicas da Bahia. Com certeza, com a formação desses novos pesquisadores, em um futuro próximo, ouviremos falar muito sobre o CUS.
Por fim, destacamos que estamos à disposição para qualquer esclarecimento.
Atenciosamente,
Leandro Colling
Coordenador do CUS
Reforçando o repúdio, a Diretoria da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura – ABEH, reenviou o e-mail abaixo:
Ao publisher do Jornal da Metrópole, Mário Kertész
À redatora-chefe do Jornal da Metrópole, Ana Paula Ramos,
Prezado Senhor, Prezada Senhora,
A existência de grupos de pesquisa nas universidades que se ocupam com o estudo da sexualidade, tenham eles o nome que tiverem, não é mais uma novidade no Brasil. Nas diversas universidades do país, existem grupos de pesquisadores ocupados com o estudo dos múltiplos aspectos que envolvem a sexualidade humana, e os resultados dos trabalhos desses grupos têm sido sistematicamente publicados em periódicos acadêmicos e livros, através dos quais se pode constatar a seriedade do trabalho dos pesquisadores. Torna-se curioso ver um órgão de imprensa ironizar o trabalho de um desses grupos, pela interpretação que faz do seu nome, sem prévia entrevista com seu dirigente, o professor Leandro Colling, para conhecimento da proposta e projetos do grupo, o que se espera sempre de um órgão de imprensa. Se a função de informar cabe aos órgãos de imprensa, a interpretação a priori, sobretudo aquela formulada com preconceito, deve ser substituída pela coleta de declarações e informações tomadas por seus jornalistas. Não há escândalo em nomear de CUS um grupo de pesquisa na universidade, sabendo-se que, no próprio campo no qual seus estudos se desenvolvem e seguindo certas de suas orientações teóricas, o jogo semântico de inversão e criação de significações e sentidos procura realizar a crítica dos tabus, preconceitos, convenções morais, representações ideológicas, o que inclui a paródia, a sátira, a inversão de sentidos. A imprensa não pode fazer da desinformação a sua missão, mas o contrário.
Atenciosamente,
Diretoria da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura - ABEH (Antonio Eduardo de Oliveira - Presidente; Alípio Sousa Filho - Primeiro Secretário; Cinara Nahra - Segundo Secretário; Durval Muniz de Albuquerque - Tesoureiro)
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