POR FERNANDO MOLICA
O DIA
Rio - Documento da Pastoral de Católicos na Política com duras críticas ao Programa Nacional de Direitos Humanos divide políticos ligados à Igreja. A nota diz que o PNDH é autoritário e enquadra os direitos humanos “num projeto ideológico, intolerante, que fez retroceder o país aos tempos de ditadura”. A Pastoral é ligada à Arquidiocese do Rio e às dioceses do Estado.
Dom Filippo Santoro (foto), bispo de Petrópolis e líder da Pastoral, enviou a nota para vários políticos. Eles têm até hoje para se manifestar sobre o texto; o silêncio será considerado uma forma de aprovação.
Radical-socialista
A nota, prevista para ser lida amanhã na Arquidiocese, diz que o PNDH é “uma cartilha de estilo radical-socialista que está sendo implantada na Venezuela, no Equador e na Bolívia e que tem em Cuba o seu ponto de referência”.
Pontos criticados
O documento condena propostas como legalização do aborto, união civil entre homossexuais e proibição de símbolos religiosos em prédios públicos. Afirma que o PNDH quer controlar a imprensa.
Foco em Brasília
Assessor especial de Sérgio Cabral e membro da Pastoral, Luiz Carlos Pugialli elogiou a nota em e-mail para Dom Fillipo. Sugeriu apenas que o documento deixe claro que o programa é do governo federal e não do governo estadual.
Defesa de Cabral
No e-mail, Pugialli ainda defende Cabral: o Instituto Juventude pela Vida, formado por católicos leigos, critica o governador por ele ter admitido o direito de interrupção de gravidez indesejada.
Petistas irritados com a nota
A nota desagradou alguns políticos ligados à Pastoral, principalmente os do PT, que tentam negociar mudanças com Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio. Apesar de criticar o PNDH, o deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) enviou para Dom Filippo sugestões de alterações no texto.
Leia a íntegra do documento contra o Programa Nacional de Direitos Humanos proposto pela Pastoral de Católicos na Política da Arquidiocese do Rio e do Leste 1
NOTA
A Pastoral de Católicos na Política da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro e do Leste 1 se manifesta por meio desta Nota sobre a proposta de implementação do Programa Nacional de Direitos Humanos 3 proposta pelo Governo.
1. O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) suscita graves preocupações não apenas pela questão do aborto, do casamento de homossexuais, das adoções de crianças por casais do mesmo sexo, pela proibição de símbolos religiosos nos lugares públicos, pela transformação do ensino religioso em história das religiões, pelo controle da imprensa, a lei da anistia, etc, mas, sobretudo, por uma visão reduzida da pessoa humana. A questão em jogo é principalmente antropológica: que tipo de pessoa e de sociedade é proposto para o nosso país.
2. No programa se apresenta uma antropologia reduzida que sufoca o horizonte da vida humana limitando-o ao puro campo social. Dimensões essenciais são negadas ou ignoradas: como a dignidade transcendente da pessoa humana e a sua liberdade; o valor da vida, da família e o significado pleno da educação e da convivência. A pessoa e os grupos sociais são vistos como uma engrenagem do Estado e totalmente dependentes de sua ideologia.
3. Os aspectos positivos, que também existem, e que constituíram grandes batalhas da CNBB e de outras importantes organizações da sociedade civil, são englobados dentro de um sistema ideológico que não respeita a concepção de vida humana da grande maioria do povo brasileiro. Por isso, são de grande valia os pronunciamentos de tantos setores da sociedade, que mostraram profunda preocupação com as consequências da aplicação desse Programa.
4. Nesta 3ª edição do PNDH, estamos diante de uma cartilha de estilo radical-socialista, que esta sendo implantada na Venezuela, no Equador e na Bolívia, e que tem em Cuba o seu ponto de referência.
5. Trata-se de um projeto reduzido de humanidade destinado a mudar profundamente a nossa sociedade.
6. Vida, família, educação, liberdade de consciência, de religião e de culto não podem ser definidos pelo poder do Estado ou de uma minoria. O Estado reconhece e estrutura estes valores que dizem respeito à dignidade última da pessoa humana, que é relação com o infinito e que nunca pode ser usada como meio, mas é um fim em si mesma. A fonte dos direitos humanos é a pessoa e não o Estado e os poderes públicos.
7. O programa do Governo é um claro ato de autoritarismo que enquadra os direitos humanos num projeto ideológico, intolerante, que fez retroceder o país aos tempos de ditadura.
8. Diante desse instrumento de radicalização, somos todos interpelados face às ameaças que dele derivam à eficácia de valores vitais, como os da vida, da família, da pessoa, do trabalho, da liberdade e da Justiça.
9. Os membros da Pastoral de Católicos na Política da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro e do Leste 1, posicionam-se fortemente contra tal programa e desejam ver bem discutidas estas propostas de modo a transformá-las, de ameaça que são, em um esforço útil a todo o Povo Brasileiro.
0 comentários:
Postar um comentário