A TARDE
ENTREVISTA Leandro Colling
PEDRO FERNANDES
Começou ontem e vai até amanhã o Stonewall 40+ o que no Brasil?, promovido pelo grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade da Universidade Federal da Bahia, coordenado pelo professor Leandro Colling. O evento recebe pesquisadores e militantes da causa LGBT no Cinema do Museu para discutir estudos e avanços da luta pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros no Brasil, a partir dos 40 anos do marco internacional da militância, a rebelião no bar novaiorquino Stonewall Inn,em1969.
Para falar sobre os temas e objetivos do evento, ATARDE entrevistou seu coordenador, Leandro Colling, que desenvolve pesquisa sobre as relações entre gênero, cultura e sexualidade, falou sobre o estágio da militância no País e sobre como a TV contribui de forma ambígua para as discussões sobre a igualdade de direitos
A rebelião no Stonewall Inn é um marco para a luta pelos direitos LGBT.Deque formaela se refletiu na militância no Brasil? É possível dizer que o reflexo foi um pouco tardio e bem controverso. O Stonewall foi em 1969 e só em 1978 tivemos a fundação do primeiro grupo no Brasil, o Somos. A criação do Somos é associada ao surgimento do movimento homossexual no Brasil, hoje nomeado de movimento LGBT. Ao mesmo tempo em que os grupos americanos influenciaram e ainda influenciam, como nas estratégias de “sair do armário” e de afirmação de identidade, no início alguns grupos brasileiros faziam o possível para não “copiar” o movimento americano.
A Regina Facchini, uma das palestrantes do encontro, diz que o Somos e o jornal Lampião, inicialmente, questionavam o uso da palavra gay, para não se ligar ao movimento americano. Eles usavam bicha ou guei.
Os estudos LGBTe a luta pelos direitos se encontram em estágios muito díspares em relação aos resultados políticos, sociais e legais pretendidos? Os estudos LGBT no Brasil também ainda são incipientes, ainda que já tenhamos vários trabalhos e pesquisadores muito reconhecidos nacional e internacionalmente.
Nos últimos anos é que temos visto um aumento do número de estudos nessa área na universidade brasileira. Os pesquisadores sofrem ainda obstáculos para conseguir financiamento.
Nossos temas ainda são considerados menores.
Enquanto isso, no exterior, existem várias universidades com departamentos de estudos gays e lésbicos.
Mas, ainda assim, acho que os estudos estão mais desenvolvidos do que as conquistas no marco legal no Brasil. Temos muita dificuldade de aprovar leis como a que criminaliza a homofobia e outras que concedem os mesmos direitos dos heterossexuais à comunidade LGBT.
De que modo a TV tem contribuído para a discussão dos direitos LGBT? A mídia ajuda e prejudica ao mesmo tempo. Ajuda quando trata os temas com seriedade, respeito, humanização.
Prejudica quando recai na chacota, no riso perverso, na valorização de algumas mortes em detrimento de outras (visível, por exemplo, quando uma travesti é assassinada ou quando um apresentador de tevê é assassinado).
Eu tenho me preocupado em como as telenovelas têm criado uma representação dos gays e lésbicas nos mesmos moldes das representações da vida dos casais heterossexuais.
Penso que está em construção um novo “estereótipo” gay, o que faz com que apenas os gays de classe média, brancos, que querem casar e ter filhos, masculinizados, apreciadores de bons vinhos, na moda e malhados sejam aceitos. Eu considero essas representações tão problemáticas quanto as da “bicha louca e afetada” dos programasdehumor.
Você defende que "todo trabalho acadêmico é político".
É possível ter uma visão livre de preconceitos quando se pesquisa sob a luz da militância?
Nessa frase eu defendo que não existe essa separação tão clara entre quem é militante e quem é pesquisador. O pesquisador também é militante, mas em outros termos, com outras estratégias. A tentativa deve ser sempre estar livre dos preconceitos, mas isso nem sempre é visível em alguns trabalhos. Por exemplo, não deixa de ser preconceituoso para com os gays afeminados os rasgados elogios de vários pesquisadores e militantes para com os personagens gays ditos“ normais” das telenovelas brasileiras. Os gays afeminados devem ter direito à fechação.
O professor da Ufba coordena o Stonewall 40 + o que no Brasil?, que acontece até amanhã
PEDRO FERNANDES
Começou ontem e vai até amanhã o Stonewall 40+ o que no Brasil?, promovido pelo grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade da Universidade Federal da Bahia, coordenado pelo professor Leandro Colling. O evento recebe pesquisadores e militantes da causa LGBT no Cinema do Museu para discutir estudos e avanços da luta pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros no Brasil, a partir dos 40 anos do marco internacional da militância, a rebelião no bar novaiorquino Stonewall Inn,em1969.
Para falar sobre os temas e objetivos do evento, ATARDE entrevistou seu coordenador, Leandro Colling, que desenvolve pesquisa sobre as relações entre gênero, cultura e sexualidade, falou sobre o estágio da militância no País e sobre como a TV contribui de forma ambígua para as discussões sobre a igualdade de direitos
A rebelião no Stonewall Inn é um marco para a luta pelos direitos LGBT.Deque formaela se refletiu na militância no Brasil? É possível dizer que o reflexo foi um pouco tardio e bem controverso. O Stonewall foi em 1969 e só em 1978 tivemos a fundação do primeiro grupo no Brasil, o Somos. A criação do Somos é associada ao surgimento do movimento homossexual no Brasil, hoje nomeado de movimento LGBT. Ao mesmo tempo em que os grupos americanos influenciaram e ainda influenciam, como nas estratégias de “sair do armário” e de afirmação de identidade, no início alguns grupos brasileiros faziam o possível para não “copiar” o movimento americano.
A Regina Facchini, uma das palestrantes do encontro, diz que o Somos e o jornal Lampião, inicialmente, questionavam o uso da palavra gay, para não se ligar ao movimento americano. Eles usavam bicha ou guei.
Os estudos LGBTe a luta pelos direitos se encontram em estágios muito díspares em relação aos resultados políticos, sociais e legais pretendidos? Os estudos LGBT no Brasil também ainda são incipientes, ainda que já tenhamos vários trabalhos e pesquisadores muito reconhecidos nacional e internacionalmente.
Nos últimos anos é que temos visto um aumento do número de estudos nessa área na universidade brasileira. Os pesquisadores sofrem ainda obstáculos para conseguir financiamento.
Nossos temas ainda são considerados menores.
Enquanto isso, no exterior, existem várias universidades com departamentos de estudos gays e lésbicos.
Mas, ainda assim, acho que os estudos estão mais desenvolvidos do que as conquistas no marco legal no Brasil. Temos muita dificuldade de aprovar leis como a que criminaliza a homofobia e outras que concedem os mesmos direitos dos heterossexuais à comunidade LGBT.
De que modo a TV tem contribuído para a discussão dos direitos LGBT? A mídia ajuda e prejudica ao mesmo tempo. Ajuda quando trata os temas com seriedade, respeito, humanização.
Prejudica quando recai na chacota, no riso perverso, na valorização de algumas mortes em detrimento de outras (visível, por exemplo, quando uma travesti é assassinada ou quando um apresentador de tevê é assassinado).
Eu tenho me preocupado em como as telenovelas têm criado uma representação dos gays e lésbicas nos mesmos moldes das representações da vida dos casais heterossexuais.
Penso que está em construção um novo “estereótipo” gay, o que faz com que apenas os gays de classe média, brancos, que querem casar e ter filhos, masculinizados, apreciadores de bons vinhos, na moda e malhados sejam aceitos. Eu considero essas representações tão problemáticas quanto as da “bicha louca e afetada” dos programasdehumor.
Você defende que "todo trabalho acadêmico é político".
É possível ter uma visão livre de preconceitos quando se pesquisa sob a luz da militância?
Nessa frase eu defendo que não existe essa separação tão clara entre quem é militante e quem é pesquisador. O pesquisador também é militante, mas em outros termos, com outras estratégias. A tentativa deve ser sempre estar livre dos preconceitos, mas isso nem sempre é visível em alguns trabalhos. Por exemplo, não deixa de ser preconceituoso para com os gays afeminados os rasgados elogios de vários pesquisadores e militantes para com os personagens gays ditos“ normais” das telenovelas brasileiras. Os gays afeminados devem ter direito à fechação.
O professor da Ufba coordena o Stonewall 40 + o que no Brasil?, que acontece até amanhã
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