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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Stonewall: três dias de debates, performances e muito sucesso

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Na mesa redonda que abriu o Stonewall 40 + o que no Brasil?, no dia 15.09, Regina Facchini (Unicamp), Edward MacRae (UFBA), Keila Simpson (ABGLT) e o debatedor Luiz Mott (GGB) fizeram um panorama sobre os estudos e movimentos LGBT no Brasil pós-Stonewall. MacRae e Facchini estabeleceram comparações entre o início do movimento homossexual no Brasil em 1978, com o Grupo Somos (SP), e o ativismo dos anos 90, bastante atrelado ao surgimento da epidemia HIV/AIDS. Além disso, os dois também refletiram sobre a escassez de bibliografias sobre ativismo gay no Brasil até a primeira metade da década de 90 e a atual multiplicação de pesquisas sobre homossexualidades. “Mas, ainda há um predomínio de estudos da área médica”, ressaltou Regina. Atuante no movimento trans desde o início dos anos 90, quando ele se organiza, Keila falou da centralidade da luta por cidadania e da necessidade de resignificar a identidade travesti na sociedade brasileira.

Na mesa seguinte, os estudos, políticas e direitos sobre o corpo e a saúde LGBT foram debatidos por Fernando Seffner (UFRGS), Wilton Garcia (UBC) e Berenice Bento (UFRN). Seffner falou sobre a interlocução do movimento LGBT com a questão da saúde pública no país nos últimos 30 anos, especialmente no caso do HIV/Aids. “É preciso enfatizar a capacidade do movimento LGBT em trazer respostas à doença e a estigmatização que a cerca”, ressaltou o pesquisador. Para discutir questões sobre o corpo, Wilton trouxe o exemplo das produções cinematográficas, com destaque para o longa-metragem brasileiro Elvis e Madona, do diretor Marcelo Laffitte, que tem previsão de estréia para novembro deste ano. Berenice refletiu sobre a forma como o Estado lida com a questão da autonomia dos indivíduos sobre seus corpos e defendeu ainda a relação entre “o fazer político” e a produção de conhecimento. “É preciso pensar as conexões e rupturas entre a militância e a academia, pois a teoria não simplesmente produz a prática mas, a teoria é também prática”, afirmou.

Marcadores da diferença
No segundo dia do evento, a mesa redonda com o tema “Estudos, políticas e os marcadores sociais da diferença na comunidade LGBT no Brasil pós-Stonewall” reuniu Júlio Simões (USP), Osmundo Pinho (UFRB) e Larissa Pelúcio (Unesp/Pagu). Ao narrar histórias de algumas pesquisas das quais participou, Júlio promoveu uma discussão - a partir de marcas como vestuário, modos de dançar e elementos gestuais - sobre os estilos de corporalidades que são considerados desejáveis ou não em espaços de paquera LGBT. Larissa também recorreu à própria experiência como pesquisadora, especificamente um estudo realizado na Espanha com travestis brasileiras que saíram do país para atuar no mercado sexual espanhol, para defender que: “sem que consideremos seriamente o que as pessoas têm a dizer sobre si mesmas e como têm entendido sua realidade, corremos  risco de produzir categorias analíticas pouco eficientes”.

Enquanto isso, Osmundo tomou como exemplo o Programa de Intervenção Homo-Bi, realizado pelo Gapa entre 1995 e 1998, para refletir sobre as intersecções entre identidades sexuais, raça/cor, classe e territórios identitários. Esses pontos também estiveram presentes nas considerações de Nilton Luz (Fórum Baiano LGBT), que comentou as conquistas e dificuldades enfrentadas pelo movimento no combate à homofobia e na luta por visibilizar as questões LGBT. Para o ativista, “é preciso firmar alianças e parcerias entre os diversos movimentos sociais, buscando pontos de contato entre as diferentes lutas”.

Desafios atuais
Em seu debate final, o Stonewall 40 + contou com a participação de Suely Messeder (UNEB/Diadorim), Richard Miskolci (UFSCar) e Deco Ribeiro (Escola Jovem LGBT), que tiveram a tarefa de discutir “Novas perspectivas e desafios políticos atuais”. Para Suely, os movimentos e as pesquisas estão encarando fenômenos que exigem um total desprendimento das dicotomias, a exemplo da intersexualidade, representada no filme XXY. “Uma vez conquistada a visibilidade, precisamos agora de uma transformação cultural”, defendeu Ribeiro. Segundo ele, ao estimularem expressões culturais de jovens LGBT, espaços como a Escola Jovem de Campinas oferecem terreno para tal mudança.

Já Miskolci contestou a idéia de uma atual divisão entre dois grupos chamados de “identitários” e “queer”, defendida por alguns integrantes do movimento social organizado. Ele explicou que a política queer não aponta para nenhuma separação e sim apela a uma experiência comum a lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e outr@s. “Transformar esta experiência em força política de resistência é um objetivo tanto da proposta original queer como dos hoje chamados LGBT”, argumentou Richard para uma platéia interessada e engajada no debate.

Para Leandro Colling coordenador do Stonewall 40 + o que no Brasil?, o evento superou todas as suas expectativas: "em especial, quem acompanhou os três dias teve a oportunidade de ver as discussões sendo continuadas de uma mesa para a outra. Os trabalhos acadêmicos e especialmente as políticas do movimento LGBT foram avaliadas e criticadas e a festa foi um sucesso total, com apresentações totalmente ligadas com as discussões". 

Durante os três dias de evento, o Stonewall recebeu uma média de 130 pessoas por mesa redonda. Além disso, o público marcou presença na programação paralela do evento, lotando o bar Âncora do Marujo e a Creperia La Bouche para bater um papo com a professora da UNESP Larissa Pelúcio e assistir performances de Scarlet Cabochard Sangalo, Ginna de Mascar e da mestra de cerimônias do Stonewall Valerie O’rarah. O Bahia Café Aflitos, palco da festa de encerramento, recebeu aproximadamente 600 pessoas na última noite do evento.

Fonte: CUS 

Em breve, disponibilizaremos algumas fotos dos eventos.

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