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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

As eleições e a alienação da mídia LGBT

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Texto publicado no blog "Eleições Hoje" sem assinatura
http://eleicoeshoje.wordpress.com/2010/10/27/as-eleicoes-e-a-alienacao-da-midia-lgbt/ 

Essas eleições ficarão conhecidas na história da democracia brasileira como uma das mais sujas. Isso porque nas últimas semanas, o cidadão brasileiro acompanha atônito uma guerra por votos que compreende desde acusações morais e armações políticas até alianças com grupos extremistas. No meio deste fogo cruzado, encontra-se a população LGBT, que é obrigada a ver seus direitos serem utilizados pelos candidatos como forma de angariar votos de parcelas reacionárias da população. É neste cenário que um poder importante para a causa LGBT vem mostrando suas fraquezas e mazelas: A mídia.

Quando Martin Luther King liderou o movimento pelos direitos dos negros na década de 60 nos EUA e proferiu a famosa frase “O que me preocupa não é o grito dos maus e sim o silêncio dos bons”, ele procurava acordar o povo para a passividade com a qual lhe davam com a opressão. Mesmo antiga a frase vem bem a calhar num momento em que o movimento pelos direitos dos LGBTs brasileiros demonstra passividade e desconhecimento em relação ao cenário político.

Mas a pergunta que fica no ar é: Esse contentamento com a realidade que lhes é imposta ou mesmo o conforto perante este “direito de migalhas”que os LGBTs brasileiros estão lidando é reflexo do quê?

Bem, como você já deve ter sacado, o tema deste post é a mídia. Mas desde já deixamos claro que nossa intenção não é acusar a mídia LGBT de má-fé (pelo menos é o que queremos acreditar).  Entretanto, em uma análise mais aprofundada dos últimos acontecimentos eleitorais, podemos dizer que a mídia LGBT faz parte deste processo de alienação do qual os LGBTs estão expostos.

Vamos aos fatos que nos levam a esta conclusão:

Há alguns posts atrás, nomeadamente o post “As eleições e o debate teocrático-moralista”, procuramos analisar a forma como alguns fatos dessas eleições foram se desenrolando, em especial, àquilo que se tratava dos direitos LGBTs.

Falamos das alianças eleitoreiras de Dilma com Crivella e Malta, e do apoio inesperado de Malafaia a Serra. Na época, para não sermos acusados de ser a favor de determinado candidato, decidimos não aprofundar nossa análise sobre a encruzilhada na qual a mídia colocou a candidata Dilma Rousseff. Expondo-a contra acusações morais e deixando o candidato Serra livre para receber os frutos de tais acusações.

O curioso é que o desenrolar destes fatos revelaram uma forma acrítica que a mídia LGBT têm de lidar com essas questões. Claro que a isso soma-se a força da mídia tradicional de “transformar” os acontecimentos, bem como o próprio posicionamento das pessoas que escrevem as matérias. Por isso, vamos acreditar que não houve por parte de alguns sites LGBTs a intenção de transformar a seu bel-prazer as informações, e que não existe nenhum interesse deles na divulgação dos fatos, a não ser única e exclusivamente a informação e o combate a homofobia.

Agora vamos aos acontecimentos:

O que tínhamos até o dia 12 outubro era: Dilma com o apoio de Crivella e Malta e uma suposta carta a ser divulgada para os cristãos.  E Serra com o apoio de Malafaia em vídeos na internet, e as declarações contra os direitos LGBTs de seu vice Índio Costa.

No dia 13 de outubro, Dilma deu uma entrevista coletiva em Teresina (PI), onde foi questionada sobre a União Civil entre pessoas do mesmo sexo – da qual disse ser favorável e fazendo confusão entre casamento civil e religioso – foi também questionada sobre a PL122 (disse ser favorável fazendo ressalva aos pontos que vão de encontro às religiões ) e sobre a suposta carta que seria entregue aos cristãos. Pois bem, de todos estes fatos, as manchetes (da mídia em geral e LGBT) atentaram para esta suposta carta aos cristãos. A defesa da candidata sobre a União Civil, e mesmo uma análise crítica em relação a declaração de Dilma sobre a PL122 não foram feitas. Não se questionou nem ao menos o fato de que na PL122 não há nenhum artigo que impeça a liberdade religiosa,  e que da mesma forma que pode ser que a candidata não tenha lido a PL122, pode ser também uma forma de acalmar os religiosos e os LGBTs. Enfim, o fato é que o “estardalhaço” foi feito sobre essa carta aos cristãos.

No dia seguinte, 14 de outubro, foi a vez de José Serra se dizer favorável a União Civil (fazendo a mesma confusão com casamento civil e religioso que Dilma), só que, olha que curioso, a declaração foi recebida como algo inédito pela mídia LGBT. Nem parecia que um dia antes, Dilma teria defendido com as mesmas palavras o direito a União Civil. Serra foi ovacionado pelo mesmo discurso que Dilma, no dia anterior, fora ignorada.

A carta aos cristãos saiu, e como se esperava, era tão evasiva quanto as declarações de Dilma. Uma carta que defendia a liberdade religiosa, mas que ao mesmo tempo reafirmava a necessidade de manter o estado laico. Nenhum alarde maior foi feito sobre isso.

Foi quando Serra trouxe para sua propaganda eleitoral, Silas Malafaia – Uma das lideranças mais homofóbicas do país. Começaram então a surgir boatos de que Serra teria prometido um Ministério e a concessão de um canal de televisão ao pastor,  o que também provocou uma troca de acusações entre Malafaia e Edir Macedo (bispo da Universal). Os vídeos de Silas Malafaia e de seu discurso contra os direitos gays, nomeadamente contra a PLC 122, foram publicados na internet.

Enquanto isso, nosso blog fez uma análise dos discursos utilizados por Serra e Dilma em seus programas eleitorais – “Mensagem de Dilma e Serra no programa eleitoral “– onde pode-se observar que, enquanto Dilma tem um discurso inclusivo, Serra apresenta um discurso em favor do que ele considera “pessoas de bem da sociedade”, que vem seguido, de mensagem de pastores evangélicos (como pode ser observado no vídeo acima).

No dia 21, Tony Reis divulga o posicionamento da ABGLT em favor da candidatura de Dilma Rousseff, explicitando 13 motivos que ele teve para tal posicionamento.

E no dia 26, a população LGBT leva um golpe. José Serra, em encontro promovido pela Assembléia de Deus, declara abertamente que, se aprovada no Congresso, ele iria vetar a PL122, por essa restringir a liberdade de expressão dos pastores de “combater a prática homossexual”. Disse ainda que, se eleito, não terá dificuldade de fazer maioria no congresso para evitar a aprovação da lei. Quando questionado, ainda, sobre a União Civil entre pessoas do mesmo sexo, ele preferiu “lembrar que a tentativa de controle social da mídia pode levar a situações de interferência na liberdade religiosa dos brasileiros” (Folha Online).


Pois bem, depois disso, a notícia até demorou para aparecer em alguns sites LGBTs, entretanto já tinha se tornado discussão nas redes sociais. Muitos eleitores de Serra declararam voto nulo. Alguns portais LGBTs se mostraram decepcionados com o tucano (apesar de tal acontecimento ter sido previsível). Mas o que nos deixou perplexos, foi a maneira de outros portais LGBTs lidarem com a notícia. Se por um lado alguns persistiam no apoio a Serra, outros chegaram a igualar as declarações do candidato às declarações de Dilma (que, ao contrário de Serra, nunca disse que vetaria a PL122).

Essa forma de lidar com os acontecimentos envolvendo os LGBTs fez nós nos questionarmos sobre o porquê de alguns meios de opinião pública LGBTs serem tão alienados, ao ponto de levarem um assunto tão sério como eleições, da mesma forma que um torcedor leva seu time. Um posicionamento correto, enquanto mídia, deve ser de informação e juntamente com análises críticas e desprovidas de qualquer omissão, se tornar uma opinião. Mas jamais servir como meio de proteção de um candidato, em detrimento de acusações a outro. Principalmente quando o que está em jogo são os direitos de uma população.

Esperamos que por trás disso tudo, não estejam (como sabemos que tem na mídia tradicional) interesses pessoais. Esperamos que quando um site ou canal se propõe a servir os LGBTs que seja crítico e que seu foco seja na conquista da cidadania para esta parcela da população. É lógico que um meio de comunicação pode ter um posicionamento (na verdade é impossível ser completamente imparcial), mas esperamos que, no que se refere a política e conquista de direitos, fatos não sejam deturpados, omitidos, ou interpretados deliberadamente. Por tudo isso, queremos acreditar que o que ocorre não se trata de má-fé e nem de interesses obscuros, mas sim de pura alienação.

P.S. O que não impede que esses mesmos meios passem a ser mais críticos e responsáveis em relação as notícias que vinculam.

1 comentários:

Eu: Alemberg Santana disse...

Não é a primeira vez que a religião entra no debate político brasileiro, em 1985, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso, sentiu o gosto amargo da Fé, ao ser evasivo, quando lhe perguntaram, num debate político, transmitido pela TV, se ele acreditava em Deus. Jânio Quadro, seu adversário político da época, venceu a eleição para prefeito de São Paulo, com o “santo” voto dos eleitores conservadores. Nos últimos dias, católicos e evangélicos têm se mobilizado contra a candidatura de Dilma Roussef e José Serra, pela presidência do Brasil, por causa de várias declarações deles em defesa ou contra a legalização do aborto e do casamento gay. Desde então, presidenciáveis e eleitores entraram em uma verdadeira guerra santa e isso é bom, muito bom. Assim, pela primeira vez, a necessidade de separar o Estado da Religião tornou-se evidente e entrou na pauta do dia pela porta da frente. [...]

Ao contrário da maioria, não acho que Deus entrou na eleição, acho sim, que através dessa eleição a sociedade brasileira entrou na discussão mundial, até onde podemos permitir que Deus entre nas nossas leis, normas e regras.

>>>Texto completo no meu Blog<<<

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