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sábado, 16 de outubro de 2010

Fábio Ribeiro escreve sobre o 8º ENUDS

1 comentários
8º ENUDS – UNIVERSO PARALELO

Entre os dias 08 a 12 de outubro aconteceu na cidade de Campinas, Estado de São Paulo, a 8ª edição do Encontro Nacional Sobre Diversidade Sexual (ENUDS). O evento reuniu mais de quinhentas pessoas, na maioria estudantes universitários e pesquisadores das diversas áreas do conhecimento, que debateram sobre questões que permeiam as diversidades sexuais no Brasil. 

Durante as discussões houveram algumas temáticas que estiveram frequentemente em pauta, pude identificar algumas, tais como, relação movimento social LGBT e academia, como aproximar estes dois espaços, identificar pontes que unam a prática e teoria. Nesta discussão foi problematizado se o movimento universitário e acadêmico, se constituem como um movimento social, como afirma Maria da Glória Gohn, movimentos sociais podem ser identificados como “ações coletivas de caráter sócio-político e cultural que viabilizam distintas formas da população se organizar e expressar suas demandas ( 2003, p.13)”, característica que com certeza encontramos no ENUDS. Sendo assim, a questão colocada é, como estabelecer o diálogo que permita uma articulação entre os diversos movimentos sociais que militam na questão LGBT acadêmicos e não acadêmicos. 

A Teoria Queer, também, fez parte das discussões que marcaram o ENUDS, muitas pessoas ainda não conheciam esta teoria, que foi explicitamente exposta numa oficina ministrada pelos Professores Leandro Colling e Richard Miskolci. Além desta oficina, a Teoria Queer permeava quase todas as discussões expostas por expositores das mesas e alguns oficursos. Nas falas haviam sempre o questionamento do binarismo, da heteronormatividade e da resinificação de conceitos relacionados as identidades. Foi notório o quanto alguns dos estudiosos desta teoria, buscam, no momento, uma aproximação com o Movimento LGBT extra-academia, no intuito de que este utilize-se de alguns conceitos da Teoria Queer para contribuir na atuação da militância. 

Acredito que vale a reflexão sobre o que esta teoria tem a contribuir com o movimento LGBT, pois ela questiona e tenta buscar formas de romper com o binarismo e a hierarquia que coloca a heterossexualidade como a orientação sexual suprema, assim como o gênero masculino macho, como o superior em relação as outras identidades de gênero mais femininas e performáticas. Esta teoria permiti questionar a constituição da sexualidade e das relações de poder que estas estabelecem, questões estas as quais podem ser facilitadas o entendimento a parti da reflexão à luz da Teoria Queer. 

A questões de gênero e classe, foram muito pontuadas, principalmente na mesa do Feminismo e do Mercado. Sem pretender me aprofundar em algumas problemáticas geradas em ambas as mesas, citarei pelo menos dois momentos os quais acredito serem relevantes e que fez parte de outras discussões. O primeiro foi o exemplo citado pela Professora Mirian Adelman, de como o Movimento Feminista obteve pontos favoráveis após ter unido os discursos por meio de uma práxis, ou seja, movimento sociais e discursos acadêmicos juntos, influenciando nas discussão e efetivação de políticas públicas. Assim, seria algo a ser analisado a possível aproximação do Movimento LGBT ao movimento acadêmico para construírem juntos a busca da superação da opressão gerada pelas homofobias, machismo e sexismo. 

Outro ponto foi a intervenção da Mulher Lésbica, que poetizou no intervelo de uma das mesas, fazendo um protesto pelo reconhecimento da liberdade de seu corpo. 

Em meio as discussões ainda houve outras relacionadas a financiamentos e autonomia dos movimentos, sobre isto, vale recordar uma intervenção da Regina Faccine, na mesa sobre Feminismo, onde ela rebateu uma afirmação de que o Movimento LGBT recebe muitas verbas Estatais, chamando a atenção de que existem uma serie de outros movimentos sociais que recebem muito mais, e que na verdade os LGBT ainda são colocados como de “segunda Ordem, grifo do autor”. 

No último dia do evento nas discussões “rumos e perspectivas”, todos as discussões citadas acima foram abordadas pelos participantes como um resumo e avaliação do evento. Tod@s fizeram suas pontuações e sugeriram mudanças e reflexões sobre as diversas questões apontadas durante todo o evento, estas se transformaram em propostas e moções que constarão em relatórios futuros que os organizadores deverão disponibilizar. 

Um aspecto deveras importante a ser ressaltado é algo mais subjetivo que acontece no ENUDS. As relações interpessoais e os comportamentos de quem participa deste evento, a “Bolha” como pontuam alguns. Fazendo referência ao filme “A Praia” que se cria um Universo Paralelo, assim acontece no ENUDS. Uma especie de mundo a parte, que nos permite a libertação dos modelos normativos sociais constituídos, permiti-nos a superação de uma ditadura fundamentalista patriarcal imposta no cotidiano. Na verdade não há como descrever o algo. É um momento que deve ser experimentado, sentido, permite uma re-significação, libertação de nossos corpos uma subversão que permite fazer com o que é mal dito seja bem dito e vice-versa. 

Por fim, queria apontar uma materialidade, consequência do evento. No último dia uma das representantes da comissão Organizadora, conhecida como Janes, passou toda a madrugada escrevendo dezenas de placas com frases alusivas a luta contra as discriminação e preconceito, isso porque ela queria que toda a UNICAMP soubesse que os quatro dias anteriores aconteceu algo naquele espaço, que mudou a vida dela, e creio a de muitos outros, que ao chegar em seus espaços cotidianos não serão mais os mesmo seres. Espero que assim como a Especialíssima Janes possamos externar tudo que aconteceu nestes quatro dias de “Universo Paralelo”, que possamos fazer um pouco daquela bolha contagiar o cotidiano. 

Em 2011, ENUDS na Bahia, esperamos tod@s com muito Axé.

Fábio Ribeiro (na foto, na Unicamp durante o ENUDS)
Presidente do GLICH
Coordenador Geral da APGFS

1 comentários:

Simone disse...

Fabio, qual o endereço da lista do enudsbahia que esta rolando?
Simone Gonçalves

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