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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O que venho dizer ou relato de um seminario histórico

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O que venho dizer aqui pode abrir algumas feridas, pode mexer em certos brios, pode despertar a fúria dos mais ortodoxos. O que venho dizer é fruto da memória de um historiador e Gay que escolheu dedicar uma parte da sua vida e do pouco conhecimento que conseguiu adquirir para uma causa comum. O que venho dizer foi o que vi, ouvi, percebi. Digo tudo isso porque sou mais um baiano que já foi testemunha e vitima de homofobia e que resolveu se unir a tantos outros para não morrer e nem ser violentado.

Desde 2007, o GLICH de Feira de Santana teve a idéia de reorganizar o Fórum Baiano LGBT, é muito bom resgatar o passado para lembrar que de 2004, ano da primeira fundação , até 2007, este Fórum era completamente inoperante e inexistente, foi somente com a refundação que tivemos a capacidade de reconhecer que o movimento LGBT baiano tinha uma outra forma de ser e de existir, os que viveram o I Seminário de Fortalecimento do Fórum Baiano LGBT, viram nascer uma esperança, mudou-se uma lógica de décadas que relegava ao segundo plano os agrupamentos LGBT do interior em detrimeito do mérito histórico e exclusivo de uma única entidade metropolitana, encerrou-se a idéia de que grupo LGBT deveria ter firma reconhecida e CNPJ, viciando-se em editais e convênios, escancaramos a existência velada de racismo e machismo dentro da própria militancia LGBT baiana, seja pelo silenciamento de mulheres e negros, seja pela pouca importancia dada aos homossexuais da periferia e das lésbicas que não tinham nenhum interesse em se institucionalizar, por fim, a militancia LGBT da Bahia conseguiu acabar com a idéia de que a Universidade é um lugar distante e alheio às demandas da sociedade e deu um voto de confiança aos LGBT´s universitarios interessados em interferir e contribuir na construção de um movimento forte e qualificado.

O primeiro desafio que esta articulação histórica teve foi em 2008, sem dúvida, o maior que tivemos.  A I Conferencia Estadual LGBT  foi para nós, iniciantes, um desafio atras do outro. Nela aprendemos na prática a dialogar com o Governo, aprendemos a arte do advocacy, aprendemos a confiar uns nos outros e não mais nos vermos como inimigos, mesmo que alguns insistissem na inimizade e na critica pela critica, aprendemos a dividir tarefas e cumpri-las, o Colegiado do Fórum foi aparando as arestas e conseguiu organizar, em pareceria com o governo e outras entidades filiadas ou não ao Fórum, 17 Conferencias territoriais, a Bahia foi o Estado com o maior numero de Conferencia e foi exemplo de organização e qualidade técnica. Tive a oportunidade de acompanhar todas estas conferencias, observei cada programação, analisei cada relatório e posso dizer, com certeza, que estavam completamente equivocados aqueles que pensavam que mobilizar as mulheres e homens LGBT, heterosexuais, governo, legislativo e executivo dos mais distantes municipios espalhados nesta terra era megalomania   Nesta época provamos que nosso kovimento não era amados e aventureio que queriam dominar o mundo. Venho dizer aos que chamaram o Fórum Baiano LGBT de talibaianos, rebeldes e revolucionários. De fato somos e os resultados positivos da rebeldia vemos hoje.

Venho dizer que nada melhor que o tempo para curar as feridas e dar maturidade, nada mais agradável ver, em 2010, Grupos que na Conferencia estavam apenas em seu início e atualmente já são institucionalisados ou desempenham um papel de grande relevancia em seus municipios e reconhecem este historico momento para a vida da sua cidade. Em 2010 tivemos novas paradas do orgulho LGBT em muitos municipios, o movimento LGBT ba Bahia ganhou cara nova na mídia, a juventude LGBT se fez presente em jornais e revistas, a nossa grande Keila Simpson e sua historia virou um livro e foi exaltada por Caetano Veloso e, principalmente, o governo do Estado da Bahia declarou prioridade a agenda LGBT ao decretar a instalação do Comite LGBT do Estado.

Venho dizer que o Seminário de Santo Antonio de Jesus era como previamos: um divisor de águas.

1- O GGB e entidades próximas que por opção haviam se retirado, em 2007, do Fórum, solicitaram refiliação e foram aprovadas por aclamação pela plenária presente. Este momento foi emocionante, a mesa diretora dos trabalhos aplaudiu de pé a reinserção destas entidades Históricas nesta grande articulação e acredito que este é o início de um novo tempo no nosso movimento e no dialogo geracional e político na vida dos LGBTs baianos.

2- Alias, Vida é um nome que não mais sairá da nossa memória, agradeço a companheira Edileuza Bruno Vida pela participação no nosso Seminário e esperamos contar com a ajuda do seu grupo, apenas ressalto que em 2007, sabíamos muito bem que este Fórum seria disputado, foi na disputa que conseguimos entrar e eu realmente espero que ele continue assim. Saiba que voce foi a grande protagonista de uma mudança necessária, por suas intervenções o nosso Regimento será reformulado e isto só irá nos fortalecer. Acreditamos na disputa de idéias e de projetos porque fazemos um movimento sério que se respalda em critérios acordados democraticamente e eu espero que continue assim.

3- A mesa sobre feminismo e lesbianianidade foi uma aula e um momento histórico, esta foi mais uma prova de que a Universidade e o movimento LGBT baiano continua em diálogo profícuo e operante. Aprendemos a relativizar conceitos e olhar de um outro modo para o movimento organizado. Como sempre, o posicionamento dos estudantes da teoria queer desestabilizou as nossas velhas convenções, nos fez refletir sobre o mundo de possibilidades que a sexualidade pode adquirir em nossas vidas. Sem dúvida, o movimento LGBT baiano tem o direito e o dever de conhecer a teoria queer, não como literatura proibida pelo Index Inquisidor que rejeita outros olhares, mas com o intuito de aprender, dialogar e divergir com as idéias e os métodos apresentados.

4- Por fim, saimos de SAJ com o sentimento de dever cumprido, As entidade que compõe o novo colegiado mostram a renovação do nosso movimento, empoderar outros sujeitos evita o personalismo e o acumulo de poder nas mãos de uns poucos, não queremos perpetuar esta tradição, queremos sim, ver gente nova operando coisas renovadas para que a luta contra o machismo, o racismo e contra a homofobia e suas formas correlatas ganhe novos métodos e novas abordagens. 

Venho dizer que a Tarsila Cavalcanti e o grupo OHGA e a cidade de Alagoinhas serão os nossos anfitriões em 2011, venho dizer que a Ricardina sai do Colegiado do Fórum Baiano LGBT com o sentimento de dever cumprido, Venho dizer que agora sou mais um militante comum, que ainda se coloca a inteira disposição deste novo, competente e qualificado Colegiado. Venho dizer que agora o Fórum Baiano LGBT é o maior Fórum de entidades LGBT do Brasil, Venho dizer que tenho muito orgulho de ver e registrar com voces parte desta história.

Que fique na nossa memória essas palavras que venho dizer, que fique na história aquilo que temos construindo juntas e juntos

Ricardo Santana
KIIIIIIIIU!

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