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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Unesp suspende alunos de Assis suspeitos de criar 'rodeio das gordas'

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Dois estudantes irão cumprir suspensão de 5 dias em março de 2011.

Alunas obesas teriam sido humilhadas em jogos estudantis no interior de SP.


Pichações em paredes do câmpus em Assis fizeram referência à agressão
A Universidade Estadual Paulista decidiu suspender por cinco dias os dois estudantes suspeitos de criar, difundir e incentivar o “rodeio de gordas”, que consistia em agarrar e montar em alunas obesas durante os jogos entre alunos da Unesp, em outubro, em Araraquara, no interior de São Paulo. Eles foram punidos nesta quinta-feira (16) pela comissão processante da direção da Faculdade de Ciências e Letras do Campus de Assis da Unesp, por divulgar esse material discriminatório e ofensivo às alunas na internet usando o nome da universidade.

Na avaliação da comissão, houve "ato atentatório à integridade física e moral de pessoas" por parte dos estudantes da Unesp de Assis. O conteúdo foi divulgado dois dias após o encerramento do  Interunesp, que ocorreu entre os dias 9 e 12 de outubro. A punição aos dois alunos será aplicada somente no próximo ano letivo, em março de 2011, quando os universitários terão de ficar cinco dias sem poder frequentar as aulas.

Um dos alunos punidos é do curso de engenharia biotecnológica e o outro cursa ciências biológicas. Eles foram citados pela Unesp como suspeitos de criar a "brincadeira" e a comunidade “Rodeio de Gorda Araraquara 2010” no Orkut. O G1 não conseguiu localizar os alunos para comentar o assunto.

O processo administrativo disciplinar contra os dois alunos de Assis foi instaurado em 28 de outubro e concluído em 9 de dezembro, após denúncias de bullying a universitárias consideradas acima do peso serem publicadas na imprensa. Elas contaram ter sido agredidas e humilhadas no Interunesp em Araraquara.

Segundo relatos das vítimas e testemunhas, no "rodeio das gordas", alunos se aproximavam das garotas fazendo perguntas, como se fossem paquerá-las. Depois, agarravam as garotas, de preferência obesas, e tentavam ficar sobre elas o máximo de tempo possível, como se estivessem em um rodeio. Ao menos 50 estudantes teriam participado do "jogo", segundo estudantes que participaram do Interunesp informaram a reportagem.

Os agressores usaram a comunidade no Orkut para incentivar que os estudantes cronometrassem o tempo que mantinham a garota presa e para sugerir premiações para quem ficasse mais tempo sobre a menina. Há relatos de que os estudantes gritavam, dizendo "pula, gorda bandida".
 
ProcessoOs dois alunos foram ouvidos no processo disciplinar da Unesp no dia 9 de novembro. A assessoria de imprensa da Unesp não deu detalhes dos depoimentos deles na época. Em nota, a Unesp informou no mês passado que “decidiu instaurar processo disciplinar para que sejam tomadas as medidas cabíveis em relação a fatos que teriam envolvido membros de seu corpo discente em jogos organizados por entidades estudantis".

A Unesp afirmou ainda na mesma nota do mês passado que “repudia práticas de desrespeito entre membros de sua comunidade, mas, a fim de assegurar o cumprimento da lei e das disposições do Estatuto da Universidade, inclusive no que se refere à preservação do direito de defesa dos envolvidos, a Administração não se pronuncia sobre procedimentos administrativos desse tipo durante o andamento de seus trabalhos”.

O processo disciplinar previa, no caso de uma punição aos alunos, advertência, suspensão ou até expulsão da instituição.
 
Ministério PúblicoO Ministério Público e a Polícia Civil em Araraquara também investigam o caso. Eles receberam a denúncia do “rodeio” por meio de cópias do site de relacionamentos, que atualmente saiu do ar, e com uma matéria de jornal sobre o jogo.

Procurada no mês passado para comentar o assunto, a promotora Noemi Corrêa, informou por e-mail que o Ministério Público instaurou inquérito civil para apurar a responsabilidade da Unesp e da Liga Interunesp nos fatos. “A prática denominada Rodeio das Gordas caracteriza uma violação dos Direitos Humanos, ante o preconceito com relação às pessoas que não se enquadram no padrão de peso imposto pela mídia e pela sociedade”, disse a promotora.

“Estamos ainda na fase de investigação, tentando localizar alunos que participaram e alunas vítimas”, informou a promotora Noemi. A Promotoria poderá decidir se a investigação resultará num termo de ajustamento de conduta, numa ação civil pública ou no arquivamento.

Além disso, há um inquérito policial instaurado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) para apurar a conduta criminosa, que caracteriza a prática, por exemplo, de constrangimento ilegal, injúria e vias de fato.

Por telefone, o delegado Jesus Nazaré Romão, da DIG, afirmou em novembro ao G1 que iria ouvir os dois alunos citados pela Unesp na sindicância. “Por enquanto, eles são os únicos suspeitos e vou pedir para ouvi-los”, disse Romão.

Romão também apura crime de ato obsceno cometido nos mesmos jogos. Imagens do evento feitas por telefones celulares e postadas na internet mostram alunas enfileiradas baixando calças, shorts e saias. As jovens ficam de calcinhas, algumas sem, rebolando e exibindo o corpo. Outros alunos filmam a cena, que se repete ao som de uma bateria e na contagem regressiva de 10 a 1.

As gravações foram feitas dentro de um ginásio de esportes em Araraquara e mostram uma espécie de “bunda-lê-lê”. Nos títulos dos vídeos hospedados no Youtube, eles são batizados de “bundão”.
 
VítimasA advogada Fernanda Nigro, da organização não-governamental de direitos humanos Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Sexualidade (Neps), que acompanha o caso, diz ter identificado duas alunas que teriam sido vítimas do “rodeio das gordas”. Uma é estudante do curso de letras e outra de psicologia no campus da Unesp em Assis.

“Elas estão com medo. Estou conversando com elas para elas falarem”, afirma Fernanda, que irá perguntar às universitárias se elas pretendem mover alguma ação por dano moral contra os agressores. “O número de vítimas pode aumentar.”

Segundo a comissão processante da Unesp de Assis, os depoimentos dessas alunas citadas pela advogada não permitiram caracterizar as circunstâncias do "Rodeio das Gordas" em Araraquara.

Fonte: Folha Online

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