O primeiro jogo pelas semifinais da Superliga masculina entre Cruzeiro e Vôlei Futuro, vencido pela equipe mineira por 3 sets a 2, foi para o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O time de Araçatuba, que jogava fora de casa, encaminhou ao tribunal e à Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) um relatório com reclamações sobre o confronto. Em nota divulgada pela assessoria de imprensa, o clube alega a presença de um segurança aparentemente alcoolizado na porta do vestiário, tumulto nas arquibancadas e ofensas homofóbicas ao atleta Michael durante o confronto em Contagem, Minas Gerais.
O suposto comportamento preconceituoso da torcida gerou um protesto veemente por parte do jogador, que acredita que seu desempenho em quadra foi prejudicado.
- O ginásio estava superlotado e todos me chamando de “bicha”, “gay” e outras ofensas. Me sinto ofendido e constrangido pelo ocorrido; não eram só alguns torcedores de torcida de futebol, eram crianças, mulheres, o ginásio inteiro gritando e me ofendendo. Eu poderia ter jogado melhor se não tivesse passado por esse constrangimento. Me senti julgado pelo lado pessoal e não pelo profissional que sou. Acho que este tipo de acontecimento não deve passar em branco, realmente me fez muito mal. Acho que deve ser divulgado e discutido para que isso não ocorra com mais ninguém – disse Michael.
De acordo com o Vôlei Futuro, a cota de 50 ingressos fornecida pelo time mandante era insuficiente para a torcida visitante. Além disso, alegam que o Ginásio do Riacho, que recebeu a partida, estava superlotado, com torcedores em pé junto às grades. O Cruzeiro rebate as reclamações, afirmando que entregou ao clube de Araçatuba o número de bilhetes requisitados e que estavam presentes apenas os 2.200 torcedores que a estrutura comporta. No site da CBV, o ginásio aparece listado duas vezes: em uma citação, a capacidade informada é de 2.000 torcedores. Na outra, 2.100.
Em comunicado oficial, o Cruzeiro disse que o que se viu durante a partida foi uma “torcida animada que deu um show nas arquibancadas”, e que a tentativa de “desvirtuar essa vitória é característica de mau perdedor, que não valoriza e nem respeita o esforço do adversário”. A diretoria completa ainda que não incentiva ou apoia qualquer ato considerado preconceituoso.
O Cruzeiro completa a nota afirmando que as acusações do Vôlei Futuro têm o intuito de intimidar o clube e criar um clima hostil entre as delegações no segundo jogo das semifinais da Superliga, e que qualquer ato de vandalismo será encaminhado pelo departamento jurídico aos órgãos competentes.
Comandante do 39º Batalhão da Polícia Militar, em Contagem, capitão Aloisio informou que não foi registrado qualquer incidente no jogo, não houve superlotação e que o contingente presente ao ginásio era suficiente para garantir a segurança do público e das equipes. Ele reconhece que o público ficou acima do esperado, mas que isso não prejudicou o esquema de segurança. Apesar de não ter registrado tumulto na saída do time paulista, o capitão afirmou que, no próximo jogo, vai reforçar o contingente para que a segurança na saída do ginásio seja melhorada.
O próximo confronto entre as duas equipes será às 10h deste sábado, em Araçatuba, com transmissão da Rede Globo.
Confira a íntegra do release do Vôlei Futuro:
Na primeira partida da semifinal da Superliga Masculina 2010/2011 entre Sada Cruzeiro e Vôlei Futuro, em Contagem (MG) o que era para ser um grande espetáculo de voleibol para os amantes que acompanharam pelo canal SporTV acabou tornando-se um show de condutas antidesportivas para o time visitante.
Ao chegar no Ginásio a equipe se deparou com um segurança aparentemente alcoolizado na porta de entrada do vestiário. Em determinado momento tal funcionário chegou a puxar um dos dirigentes do clube para que ele não entrasse no vestiário de sua própria equipe, sem argumentos ou controle emocional.
A equipe de Araçatuba tinha 50 ingressos para serem usados pelos jogadores reservas, dirigentes, assessoria de imprensa, ou seja, não tínhamos ingresso para a torcida do Vôlei Futuro assistir o jogo no Ginásio do Riacho, que possui capacidade média de 2.000 pessoas. Tais ingressos não foram suficientes nem para os familiares de nossos atletas, os quais mesmo com ingresso, não conseguiram assistir o jogo. Vale ressaltar que tais ingressos eram na arquibancada, junto com a torcida do Sada Cruzeiro que ainda será lembrada neste texto.
Era visível que havia excesso de lotação no ginásio, um grande número de torcedores assistiu à partida em pé das escadas que dão acesso às saídas do ginásio, obstruindo todas as passagens. Conforme regulamento do campeonato, é proibido que a torcida fique junto às grades, mas nada foi feito em Contagem, e não poderia, já que o policiamento local era inferior à necessidade de pessoas presentes.
Tratando-se da torcida do Sada Cruzeiro, esta atuou de maneira feroz e preconceituosa, mostrando ódio, aversão e discriminação a um dos atletas do Vôlei Futuro, deixando claro o manifesto de homofobia dentro do Ginásio. O coro era de forma organizada, crianças, homens e mulheres se juntaram para cometer o tremendo desrespeito e discriminação com o atleta Michael.
Na saída, mais um caso de desrespeito. Do Ginásio até o ônibus da equipe não havia segurança ou membro da organização da equipe adversária. Nossos atletas passaram pelos torcedores que se agrupavam para xingá-los e desrespeitá-los.
Além de tudo, alguns jogadores do Sada Cruzeiro deram entrevista dizendo que a torcida era maravilhosa, assim como algumas mídias e um blogueiro da Uol (Bruno Voloch), o qual chegou a dar nota 10 e dizer que a torcida era um exemplo a ser seguido.
Outras mídias simplesmente se omitiram diante dos fatos.
Lamentável e muito perigoso, pois é com esta intolerância celebrada que estamos lidando com as diferenças e principalmente com a formação e educação de crianças, adolescentes e adultos que presenciaram tais atitudes no ginásio ou na TV.
O relatório do jogo com as ocorrências foi encaminhado ao STJD e a CBV para que sejam tomadas as medidas cabíveis ao caso.
Transcrevemos abaixo o depoimento dado pelo jogador Michael, a algumas mídias, relatando a discriminação e as ofensas sofridas por ele no jogo ocorrido em Contagem (MG).
“No jogo em Contagem eram cerca de duas mil pessoas, o ginásio estava super lotado e todos me chamando de “bicha”, “gay” e outras ofensas. Me senti ofendido e constrangido pelo ocorrido; não eram só alguns torcedores de torcida de futebol, eram crianças, mulheres, o ginásio inteiro gritando e me ofendendo. O jogo foi transmitido pela TV e não só quem estava no ginásio pode ouvir, mas todos que assistiram ao jogo pela TV no Brasil inteiro, depois da partida as pessoas em Araçatuba e de diversos lugares vieram me perguntar o que tinha acontecido e se mostraram muito solidárias. Eu poderia ter jogado melhor se não tivesse passado por esse constrangimento e me senti julgado pelo lado pessoal e não pelo profissional que sou. Acho que este tipo de acontecimento não deve passar em branco, realmente me fez muito mal, acho que deve ser divulgado e discutido para que isso não ocorra com mais ninguém”, disse o atleta do Vôlei Futuro, Michael dos Santos.
Veja também a resposta oficial do Cruzeiro:
"O Sada Cruzeiro disputa a Superliga Masculina de Vôlei pelo quinto ano consecutivo. Seu projeto é sinônimo de seriedade e organização. Nesses cinco anos nunca houve problemas com nenhuma equipe visitante, nenhum incidente. Como bom mineiro, o Sada Cruzeiro se orgulha de receber muito bem seus adversários. Não só por acreditar que cordialidade e respeito fazem parte do embate esportivo, mas também pela índole de seus profissionais e dirigentes.
Quanto aos fatos relatados pela equipe Vôlei Futuro, sobre a primeira partida das semifinais no Ginásio Poliesportivo do Riacho, em Contagem, refutamos as acusações e suspeitamos que tais "denúncias" sejam uma nítida manobra no sentido de intimidar a nossa equipe e nossa torcida no jogo da volta em Araçatuba, no próximo sábado.
Adiantamos nesta oportunidade que a diretoria do Vôlei Futuro será responsabilizada e acionada nos competentes tribunais, caso haja algum ato de vandalismo contra a delegação do Sada Cruzeiro, em virtude do clima que se pretende criar com tais denúncias infundadas. Desde já cumpre-nos informar que o departamento jurídico do Sada Cruzeiro já está trabalhando no sentido de tomar as devidas providências.
Todo o Brasil, que assistiu à partida pelo SporTV e Esporte Interativo, e os 2.200 torcedores que estavam presentes podem atestar que o que viram foi uma bonita festa e uma torcida animada que deu um show nas arquibancadas e ajudou a equipe em todos os momentos. Em quadra, as duas equipes cumpriram aquilo que se espera delas e fizeram um bonito jogo. O resultado obtido por nossa equipe foi dentro de quadra, graças à luta, competência e qualidade dos nossos atletas e comissão técnica. Tentar desvirtuar essa vitória é característica de mau perdedor, que não valoriza e nem respeita o esforço do adversário.
Sobre a torcida, a equipe Sada Cruzeiro não incentiva e nem apoia atos considerados como preconceituosos. Ao contrário, sempre pede que todos sejam tratados com respeito.
Após a partida, funcionários da equipe Sada Cruzeiro viram vários atletas do Vôlei Futuro, como Leandro Vissotto, Mário Jr e Michael tirando fotos e dando autógrafos para os torcedores, em sua maioria crianças e mulheres, num clima comum a um jogo de vôlei. Nenhuma confusão.
O Vôlei Futuro teve acesso aos seus 50 ingressos solicitados, e eles foram entregues antes do jogo.
A diretoria do Vôlei Futuro foi muito bem recebida no ginásio e encaminhada à tribuna de honra pela direção do Sada Cruzeiro e pelo secretário de Esportes de Contagem. Os dirigentes do Vôlei Futuro escolheram ficar mais abaixo, próximo do banco de reservas. No andamento da partida houve sim reclamação por parte deles de que algumas pessoas de pé estavam atrapalhando a visão da quadra. Foi oferecido um outro lugar aos responsáveis pela equipe paulista, que não quiseram. Este fato inclusive foi presenciado pela Sra Cilda D'Angelis (da Unidade Técnica de Voleibol de Quadra da CBV), que estava no local, junto com o Sr Sérgio Negrão (Gerente de Competições Quadra da CBV).
A empresa de segurança “Anjos da Guarda”, que segundo a direção do Vôlei Futuro teria profissionais alcoolizados trabalhando no ginásio, é respeitada em sua área de atuação, presta serviços para o Sada Cruzeiro e para a própria CBV, atuando em jogos da Liga Mundial. Nos últimos 20 anos tem cuidado dos eventos envolvendo as seleções principais de vôlei do Brasil, em âmbito nacional.
É necessário ressaltar que nunca houve nenhum tipo de problema com esses profissionais nas partidas do Sada Cruzeiro, muito pelo contrário. O responsável pela empresa, Afonso Oliveira, está estarrecido com as acusações sem fundamento. O que pode ser corroborado pelos dirigentes da Federação Mineira de Vôlei e da própria CBV, que estavam no local.
A equipe Sada Cruzeiro considera que neste momento o foco dever ser a preparação para os playoffs das semifinais da Superliga."
Fonte: Globoesporte.com
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