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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Homofobia: o preconceito nas escolas

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Pesquisa revela que 87% da comunidade escolar tem preconceito contra os homossexuais

Nas escolas públicas brasileiras, 87% da comunidade – sejam alunos, pais, professores ou servidores – têm algum grau de preconceito contra homossexuais. O dado faz parte de pesquisa divulgada recentemente pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e revela um problema que estudantes e educadores homossexuais, bissexuais e travestis enfrentam diariamente nas escolas: a homofobia. A Agência Brasil produziu uma interessante abordagem sobre o tema, que o FOCO REGIONAL reproduz nesta e na próxima edição.

O levantamento da FEA-USP foi realizado com base em entrevistas feitas com 18,5 mil alunos, pais, professores, diretores e funcionários, de 501 unidades de ensino de todo o país. "A violência relacionada a armas, gangues e brigas, é visível. Já o preconceito a escola tem muita dificuldade de perceber porque não existe diálogo. Isso é empurrado para debaixo do tapete e impera a lei é a do silêncio", destaca a socióloga e especialista em educação e violência, Miriam Abramovay (foto).

Um estudo coordenado por ela e divulgado este ano indica que nas escolas públicas do Distrito Federal 44% dos estudantes do sexo masculino afirmaram que não gostariam de estudar com homossexuais. Entre as meninas, o índice é de 14%. A socióloga acredita que isso não ocorre apenas no DF, mas em todo o país. "Significa que existe uma forma única de se enxergar a sexualidade e ela é heterossexual. Um outro tipo de comportamento não é admitido na sociedade e consequentemente não é aceito no ambiente escolar. Mas a escola deveria ser um lugar de diversidade, deveria combater em vez de aceitar e reproduzir", defende.

A coordenadora geral de Direitos Humanos do Ministério da Educação (MEC), Rosiléa Wille, também avalia que a escola não sabe lidar com as diferenças: "Você tem que estar dentro de um padrão de normalidade e, quando o aluno foge disso, não é bem compreendido naquele espaço."

Desde 2005 o MEC vem implementando ações contra esse tipo de preconceito, com o programa Brasil sem Homofobia. As principais estratégias são produzir material didático específico e formar professores para trabalhar com o tema. "Muitos profissionais de educação ainda acham que a homossexualidade é uma doença que precisa ser tratada e encaminham o aluno para um psicólogo. Temos pressionado os governos, nas esferas federal, estadual e municipal, para que criem ações de combate ao preconceito", explica o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis.

As piadas preconceituosas, os cochichos nos corredores, as exclusões de atividades escolares e até mesmo agressões físicas contra alunos homossexuais têm impacto direto na autoestima e no rendimento escolar desses jovens. Em casos extremos, eles preferem interromper os estudos. "Esse aluno desenvolve ódio pela escola. Para quem sofre violência, independentemente do tipo, aquele espaço vira um inferno. Imagina ir todo dia a um lugar onde você vai ser violentado, xingado", alerta o educador Beto de Jesus, representante na América Latina da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo (ILGA).

Especialistas acreditam que, para combater a homofobia na escola é preciso encarar o desafio em parceria com o poder público. "Todos os municípios e estados precisam destampar a panela de pressão, fazer um diagnóstico para poder elaborar políticas públicas", recomenda
Miriam Abramovay.

Para Rosiléa Wille, o enfrentamento do preconceito não depende apenas da escola, mas deve ser um esforço de toda a sociedade. "A gente está tendo a coragem de se olhar e ver onde estão as nossas fragilidades, perceber que a forma como se tem agido na escola reforça a rejeição ao outro. Temos uma responsabilidade e um compromisso porque estamos formando nossas crianças e adolescentes. Mas o Legislativo, o Judiciário, a mídia, todas as instâncias da sociedade deveriam se olhar também."

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