Escolas que trabalham a diversidade sexual contam que curiosidade dos alunos aumentou após o veto ao material encomendado pelo MEC
Além de repercutir no Congresso, nos movimentos e nas redes sociais, a suspensão de todas as produções que compunham o kit contra a homofobia encomendado pelo Ministério da Educação (MEC) foi assunto em sala de aula. Professores que já trabalham a diversidade sexual com alunos contam que a polêmica despertou a curiosidade de crianças e adolescentes e foi usada para discutir o tema.
No colégio Magister, na zona sul de São Paulo, a "caixinha da sexualidade" do professor de filosofia Clayton Fernandes recebeu diversas perguntas sobre o kit. "Alguns perguntaram se os vídeos faziam propaganda das opções sexuais (argumento usado pela presidenta Dilma Rousseff para suspender o material), se eram de boa qualidade e até se não haveria corrupção, superfaturamento do kit", conta o professor.
As caixas ficam expostas nos corredores da escola e são usadas para que estudantes façam perguntas, sugiram temas e tirem dúvidas sem se identificar - a educação sexual está na grade curricular desde a 6ª série do ensino fundamental até a última do ensino médio. Fernandes recolhe os papéis e prepara as aulas de acordo com os questionamentos.
Com reportagens jornalísticas sobre o tema, o professor explica os conceitos de respeito às diferenças, homofobia, preconceitos e mostra diferentes opiniões e atitudes. "Eles conseguem identificar manifestações de preconceito e a se autocorrigir", destaca.
Os vídeos que vazaram na internet não foram mostrados em sala de aula, porque estão em análise pela equipe pedagógica do colégio. Fernandes é favorável ao material, mas avalia que a imposição de um kit pode não surtir efeito entre os jovens. "O material não deve ser construído de cima para baixo. O trabalho da diversidade sexual precisa ser desenvolvido em conjunto com os alunos", pondera.
Contra preconceitos
No Colégio Franciscano Nossa Senhora do Carmo (Franscarmo), uma instituição católica, homofobia não é tabu. A pedagoga Andressa Ruiz aborda o tema com naturalidade nas aulas de orientação sexual para a 8ª e 9ª série do ensino fundamental. "Trabalho a questão do respeito às diferenças. Não importa a religião, quando se fala em respeito e preconceito", afirma a orientadora educacional.
O kit contra a homofobia despertou a curiosidade dos alunos, e a professora irá selecionar trechos dos vídeos para discutir na aula da semana que vem. "Eles precisam ter clareza sobre os temas e quais são as implicações. As discussões aparecem na mídia, mas não são aprofundadas", comenta.
Além de reportagens, Fernandes e Andressa trabalham com dinâmicas de grupo, jogos sobre a sexualidade e exibem trechos de filmes. O professor de filosofia utiliza trechos do "Crianças Invisíveis", produção da Unicef feita por diretores de diversos países, inclusive o Brasil, para exemplificar como os pais interferem na educação dos filhos. "A homofobia, na grande maioria dos casos, é como se fosse princípios negativos herdados da família. Há episódios que mostram como a violência dos pais é passada para os filhos", explica Fernandes. E é justamente este ciclo que ele pretende quebrar na escola.
Fonte: Último Segundo
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