Toda a mídia baiana e nacional noticiou. As redes sociais ferveram com a posse. A militância LGBT está em estado de êxtase. Paulett Furacão fez história ao se tornar a primeira transexual a assumir um cargo público no Governo da Bahia. E vai coordenar um núcleo especificamente criado para cuidar da agenda dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.
Paulett Furacão tem uma trajetória reconhecida na militância LGBT. Fundou e dirigiu a Associação Laleska d’Capri, cujo nome homenageia uma transexual assassinada no Nordeste de Amaralina, um dos maiores bairros negros de Salvador, onde é extremamente respeitada. Ela também tem experiência na administração pública, atuou em projetos sociais para inserção de adolescentes e jovens no mercado de trabalho antes de ser convidada pelo secretário Almiro Sena.
Foi recepcionista, educadora social e assistente da coordenação pedagógica, demonstrando como pode evoluir neste ambiente mesmo sem a formação superior que um sistema educacional transfóbico lhe negou. Também esteve conselheira estadual de proteção aos direitos humanos, contribuindo de forma voluntária na mesma Secretaria que hoje a empossa.
Paulett Furacão representa o olhar identitário sobre as políticas públicas para LGBT, que não avançaram quase nada no Governo Jacques Wagner. O que não implica que Paulett superará esse quadro, diante da pequena autonomia que o núcleo LGBT dispõe. Isso significa que se mantém a exigência de acompanhamento e pressão dos movimentos sociais.
O risco de que a indicação de Paulett amortize os enfrentamentos que o movimento LGBT da Bahia ensaia encarar com o governo é, portanto, efêmero. Se essa era a intenção do governo, escolheram a mulher errada. Dinâmica, Paulett deverá ser eficiente na pressão interna, enfrentando a transfobia, lesbofobia e homofobia institucionais.
E mesmo que seu trabalho seja obstruído, e o núcleo não tenha bom desempenho, a força simbólica da transexual negra abrindo a porta da Secretaria de Justiça e tomando posse de uma função pública já é, por só, uma ruptura. Trata-se de um marco histórico em uma Terra marcada pelas desigualdades, onde Paulett Furacão representa a face mais violentada de diversas discriminações somadas. Não se trata, portanto, de um fato qualquer e não deve ser relevado nem esquecido.
Nilton Luz é coordenador de organização da Rede Afro LGBT
Artigo originalmente publicado no blog da Rede Afro LGBT
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