Elizabeth Day, para o THE GUARDIAN
Talvez você não tenha ouvido falar em Tyler Clementi (foto), mas há motivos para que se lembre desse nome. Clementi era um estudante colegial americano gay de 18 anos que tirou a própria vida em 22 de setembro de 2010, saltando da ponte George Washington em Nova York. Três dias antes, seu colega de quarto na Universidade Rutgers, Dharun Ravi, havia supostamente usado uma webcam para espionar o encontro sexual de Clementi com outro homem, e usado o Twitter para encorajar outros colegas a assistirem.
Ravi, hoje com 20 anos, está sendo julgado nos Estados Unidos, acusado de 15 crimes. Se condenado, poderá pegar até dez anos de prisão.
Nos EUA, o caso passou a simbolizar tanto a banalização do bullying no ciberespaço quanto a separação cada vez menos clara entre privacidade pessoal e interação online. Mas para mim o aspecto mais perturbador do julgamento não foi a dura invasão de privacidade, apesar de terrível. Foi a indiferença descuidada com que os adolescentes envolvidos conversavam uns com os outros online.
Assim, a reação de Ravi à sexualidade de seu companheiro de quarto foi uma mensagem para um amigo: “FODA A MINHA VIDA/ Ele é gay” [tradução literal]. Quando Ravi descobriu que Clementi não era particularmente rico, enviou uma mensagem para outro conhecido: “Cara, eu odeio pobres”.
Várias outras interações desse tipo se seguem. Existem menções casuais a “veados” e “bichas”, os termos ofensivos usados como se fossem pouco mais pesados que um “smiley”. A linguagem preconceituosa e insultante é utilizada à vontade, aparentemente sem preocupação quanto ao conteúdo danoso do que está sendo dito.
Deixando de lado se este comportamento é bullying (e existe uma tese de que não é, diante de sua natureza esporádica e furtiva), o elemento mais preocupante é a surpreendente falta de empatia. Ravi e seus amigos não acreditam que o que estão fazendo possa prejudicar outros. Eles simplesmente trocam sarcasmos, tentando criar uma personalidade online popular e animada, que se define em oposição a algo que eles consideram assustador ou bizarro.
Não há nada novo no desejo adolescente de cultivar uma mentalidade de bando. Mas a novidade é que, com tanta sociabilização online, a consequência do que os jovens dizem não fica imediatamente clara para eles. No calor do momento, esses adolescentes parecem esquecer que seus comentários não são privados, mas ficam disponíveis para um consumo mais amplo. Isso tem implicações profundamente preocupantes para como as futuras gerações estão aprendendo a se comunicar.
Ravi teria dito todas essas coisas em um lugar público, onde pudesse ser ouvido pelo alvo de suas zombarias? Provavelmente não. Falar as palavras em voz alta exige um envolvimento mais ativo do cérebro e da boca. Se ele tivesse manifestado suas detestáveis opiniões em uma sala de aula, um colega menos ignorante o teria criticado? Esperamos que sim.
Mas existem menos salvaguardas sociais na rede, onde gravitamos naturalmente para pessoas de mentalidade semelhante e onde nossas reações muitas vezes são mecânicas. A necessidade de ser breve (140 caracteres no Twitter) faz que a sutileza muitas vezes se perca. E a natureza distanciadora de uma tela significa que, se alguém nos ofender, não saberá disso. A empatia — a capacidade de intuir os sentimentos de outra pessoa — depende muito de estímulos visuais.
Existe uma crença em certos setores de que se um comentário não foi feito de forma maliciosa não pode ser considerado assédio. Eu não acredito nisso. Só porque uma pessoa pode ter uma mente forte ou maturidade suficiente para suportar insultos ou agressões online não quer dizer que todo mundo seja igualmente sólido. Os adolescentes precisam aprender que a brincadeira de uma pessoa pode ser bullying para outra, especialmente se essa pessoa for, como Clementi, um adolescente tímido e meio solitário, que está apenas começando a compreender sua própria sexualidade.
Em um mundo virtual de interação sem rostos, o impacto é tão importante quanto a intenção.
É uma tragédia que Clementi tenha se suicidado. Seria horrível se não aprendêssemos nada com isso.
Fonte: Carta Capital
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