Sharlene Rosa |
Os pré-candidatos não buscaram apenas legendas de bandeiras libertárias, como o PV. Há filiados a siglas conservadoras como o PR do senador evangélico Magno Malta (ES), que no ano passado ameaçou renunciar se o Congresso aprovasse a lei anti-homofobia, com o argumento de que o projeto de lei estimula "a criação de um terceiro sexo".
"O senador Magno Malta e eu nos damos muito bem. Ele elogia minha atuação, já me visitou aqui na cidade. Acho que um dia ele vai entender melhor o nosso movimento", diz a travesti Moa Sélia, que disputará o terceiro mandato de vereadora no município capixaba de Nova Venécia. Moa já foi presidente da Câmara Municipal e preside o PR municipal. "Aos poucos, a gente vai se impondo perante a sociedade e até no meio político" diz ela, eleita pela primeira vez com o slogan "a diferença que faz".
Segundo Moa, o PR ainda discute a possibilidade de lançá-la candidata à prefeitura. "Vou sempre pregar o reconhecimento dos LGBT, mas minha primeira bandeira é a moralização, o combate à corrupção. Trabalhar a questão LGBT no interior depende de Brasília. Não adianta criar leis municipais se não tiver respaldo no Congresso."
Eclético. Assim como Moa, o candidato a vereador Sillvyo Luccio Nóbrega, da pequena cidade de Pacatuba, no Ceará, transexual, foi acolhido por uma legenda conservadora, o PSDC, democrata cristão. "O partido não tem nada a ver com minha plataforma, mas, no meu município, é aberto, eclético e eu faço parte do diretório municipal", afirma. Uma das bandeiras do ativista de 48 anos é o acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) de pessoas do sexo feminino que, como Sillvyo, gostariam de fazer a cirurgia para assumir o sexo masculino. "Essas cirurgias praticamente não acontecem, não existem equipes multidisciplinares", lamenta. "Ter um amigo gay é bem humorado, ter uma amiga lésbica é ser sem preconceito. Mas ter um amigo transexual masculino, gestor público e candidato a vereador é muito forte. Não importa o número de votos. O importante é que sejamos candidatos e nos tornemos visíveis", diz Sillvyo.
Presidente da Diversidade Tucana, grupo que reúne militantes e simpatizantes da causa gay no PSDB, o funcionário público Marcos Fernandes disputa uma vaga na Câmara Municipal paulistana. É correligionário do presidente da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso, deputado João Campos (GO), que nas últimas semanas liderou a reação à ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, defensora da descriminalização do aborto, e ao ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, católico fervoroso, que defendeu a ofensiva de comunicação do governo na guerra ideológica contra os evangélicos e sua influência na nova classe média.
"Não enfrento problemas no partido e tenho sido muito bem recebido em várias comunidades, inclusive por evangélicos. Não vejo entre os fiéis a mesma resistência da cúpula das igrejas", diz o pré-candidato tucano.
Marcos disputou uma vaga de vereador em 2008, mas reconhece que fez uma campanha "totalmente segmentada" para o meio LGBT. Agora, ampliou o público e as propostas. "Este ano vamos tratar o tema da diversidade, da geração de emprego e renda, educação, capacitação, saúde, cultura. Tenho uma preocupação, por exemplo, com os adolescentes mais afeminados, que sofrem mais bullying", diz o tucano, que adotou o slogan "São Paulo mais diferente e menos desigual".
'Em geral'. A geração de emprego também é um dos temas centrais da campanha da travesti Sharlene Rosa (PT), de 34 anos, que disputa uma vaga de vereadora em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. "Sou do movimento LGBT e também combato o preconceito em geral, contra o idoso, o deficiente. No caso do emprego, quero dar atenção à população que está na prostituição mas gostaria de seguir outro caminho", diz Sharlene. Ela cobra da presidente Dilma Rousseff um aceno aos homossexuais.
"Entendo que o PT sofre pressão da bancada evangélica, mas acredito que a Dilma vai tomar o rumo certo e olhar para a população LGB", diz Sharlene. E sonha: "Quem sabe, nas próximas eleições, não posso entrar na cota feminina do partido?"
Segundo Toni Reis, o momento atual é de incentivo às candidaturas LGBT, mas o movimento continuará a apoiar os "aliados", que serão incluídos em uma lista mais ampla. Em 2008, fizeram parte da lista de aliados, entre outros, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), o ex-prefeito de Salvador Antonio Imbassahy (PSDB), além de Fernando Gabeira (PV), Jandira Feghali (PC do B), Solange Amaral (PSD) e Alessandro Molon (PT). "Não é nossa intenção afrontar os valores evangélicos e não queremos candidatos corporativistas. Não basta ser LGBT para a gente votar. A pessoa deve ter um histórico de luta e também propostas. Orientação sexual não é pauta política."
Fonte: Estado de São Paulo
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