Em 2011 realizamos o IV Congresso da Associação Brasileira de  Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – a ABGLT. A partir  desse congresso, a maior rede brasileira e latino-americana LGBT passou a  ter 257 organizações afiliadas e um conjunto de resoluções políticas  que apontam desafios a sua base, sua organização e sua relação tanto com  o movimento de luta pela livre orientação sexual e identidade de  gênero, quanto com os demais movimentos, o Governo e a sociedade.
O  IV Congresso representou um divisor de águas para dentro da entidade.  Embora uma menor participação do que no III Congresso em número de  afiliadas, tivemos visivelmente a presença de mais lésbicas e mulheres  bissexuais, bem como de jovens representando suas organizações de base  e/ou presentes no Congresso, se dispondo a construção da ABGLT com a  suas diversas caras, ânimos, vontades e sonhos.
Um conjunto de elemento nos levou a essa, ainda, tímida mudança, que esperamos que só aumente na ABGLT.
Um  deles, sem dúvida, foi o esforço e trabalho feitos desde o último  congresso pelos Coletivos de Mulheres Feministas e de Juventude, que de  forma mais constante pautam a entidade em seu conjunto, forma e método  de direção e condução.
Tivemos ainda no IV Congresso um  momento político e histórico protagonizado por estes coletivos em  conjunto com as Negras/os e Travestis e Transexuais.
Apresentamos,  juntas, na plenária final, um manifesto contra-hegemônico. O fizemos,  fundamentalmente, para lembrar a todas que apesar de compormos as mesmas  fileiras entendemos e reconhecemos as contradições presentes na nossa  entidade e lembramos que é preciso, também todas, lutar para supera-las.
Entendemos  que essa hegemonia não diz respeito a pessoas e nem ativistas de  maneira específica ou isolada, mas a práticas que foram sendo  naturalizadas ao longo da história da entidade e do movimento e sobre a  qual entendemos ser necessário pautar e combater dentro e fora da ABGLT.
O  ano de 2012 é o momento para a ABGLT inaugurar um novo período com  novas e ousadas formas de lutar contra a homofobia. Centralmente é  necessário lutar contra a hegemonia que nossos opositores reais – em  especial as lideranças fundamentalistas religiosas - têm conseguido  construir no conjunto da sociedade, nas casas legislativas e nos  executivos.
Ademais, é necessário resignificar a  nomenclatura dada a esse grupo de conservadores, fascistas e nazistas,  classificá-los como a extrema direita que não só no Brasil, mas no leste  europeu, na França, nos países islâmicos tentam confundir a sociedade  atribuindo às religiões suas práticas e violências.
Para  este enfrentamento precisamos materializar uma estratégia que torne real  o desafio de tornar a maior entidade LGBT da América Latina uma  referencia de luta por direitos e por um projeto político emancipatório e  libertário ao máximo de LGBT brasileiras.
Não temos dúvidas que temos como dever e tarefa fundamental organizar o maior conjunto de LGBT possível em nossa base social.
Sabemos,  contudo, que isso só se dará se o conjunto de afiliadas estiverem  organizadas, mobilizadas e orientadas também para ajudar nessa tarefa.  Para além das organizações governamentais e não-governamentais a ABGLT  precisa ser conhecida e reconhecida pela população LGBT brasileira, que  precisa ter na nossa entidade uma referência de luta por seus direitos e  por uma transformação real da sociedade.
Essa estratégia  soma-se a um outro desafio que está colocado. Temos de ajudar a eleger,  em 2012, mais aliados e ativistas LGBT para as casas legislativas  municipais, bem como orientar para que tenhamos condições de influenciar  no máximo de candidaturas aos executivos municipais, que estarão em  processo de eleição.
Respeitando a diversidade de projetos  e correntes políticas presentes no conjunto das afiliadas da entidade e  do movimento, precisamos novamente lançar uma plataforma pela cidadania  LGBT a ser assinada pelas candidaturas como forma de compromisso  político com nossa população.
Nessa plataforma elencaremos  propostas de políticas públicas e de respeito a princípios fundamentais  como o a laicidade do Estado, o direito a não discriminação e a  promoção da diversidade sexual e da cidadania LGBT.
Precisamos  garantir o compromisso político com a instalação do Tripé da Cidadania  LGBT (Coordenação, Plano e Conselho) nas propostas do máximo de  candidaturas possíveis. Com esse Tripé conseguiremos estruturar estados e  municípios para o combate a homofobia e retiraremos das organizações  LGBT o papel de prestadoras de serviços ao Estado.
O ano  de 2012, ano em que a ABGLT presidirá o Conselho Nacional LGBT, também  será o de reelaboração do Plano Nacional LGBT, a partir das diretrizes e  propostas aprovadas na II Conferência Nacional LGBT.
Teremos  o árduo trabalho de acompanhar a elaboração de um plano que tenha  metas, ações orçamentárias e comprometimento político real com a sua  execução.
Para isto vamos precisar ter condição de  dialogar exaustivamente com as demais redes nacionais da sociedade civil  que compõe o Conselho Nacional LGBT, bem como o conjunto de  Ministérios, afim de que este plano supere o primeiro em termos de  combate estrutural a homofobia no Brasil e promoção da cidadania da  nossa população.
Vimos, no Conselho Nacional LGBT, durante  o processo de construção da Conferência, os tensionamentos que tivemos  quando o Governo tentou maquiar a não execução de parte do I Plano  Nacional LGBT. Sabemos que os representantes governamentais estão no  papel deles de mostrar o que fizeram, assim como nós no nosso de cobrar  constantemente por essas políticas.
Precisamos de um Plano  Nacional LGBT que fuja dos discursos de intenções e coloque-se como um  instrumento político de transformação da ausência de direitos e da  violência homofóbica presente no cotidiano de um conjunto de brasileiras  e brasileiros.
Ainda em 2012, teremos o desafio de dar  passos na construção de uma ABGLT que seja do tamanho do Brasil. Para  isso, sabemos, é necessário avançar estruturalmente na organização da  nossa entidade. Precisamos para 2012 pensar de maneira aprofundada e  madura cada ponto da tão esperada reforma estatutária da ABGLT. Mais do  que delegar a direção da entidade este papel, precisamos pensar em cada  afiliada a ABGLT que queremos, estatutariamente, construída.
Atualizar  estruturalmente a entidade nos dará ainda mais condições de sermos  representativas ao conjunto de forças e afiliadas que a compõe, ao mesmo  tempo que dará conta de trazer para nossas fileiras lutadoras e  lutadores que ainda estão de fora da nossa articulação nacional.
Cada  tarefa precisa ser encarada de maneira conjunta, coletiva e determinada  pela militância da ABGLT. A construção de uma entidade plural,  democrática e participativa depende de cada uma e cada um de nós.
Finalizamos com a certeza de que novos ventos e novos tempos virão a maior entidade LGBT da América Latina.
Vida longa a ABGLT e até a vitória contra a lesbofobia, transfobia e homofobia!
  * Irina Bacci, militante do CFL(SP) e Secretária-Geral da ABGLT. Keila  Simpson, militante da ATRAS(BA) e Vice-Presidenta Trans da ABGLT. Victor  De Wolf, militante do GDN(RJ) e membro da Diretoria da ABGLT. Vinícius  Alves, militante da Beco das Cores(BA) e da Comissão Política da  Juventude da ABGLT

3 comentários:
gente temos que prestigiar e melhorar ainda mais a visibilidade da ABGLT aqui em vitória-E estamos unidos na ong pois precisamos de cidadania e dignidade já. A ABGLT tem trabalhado e brilhado no senado, na câmara e no judiciário e no executivo também .
precisamos da ABGLT EM TODO Brasil de norte a sul!!a luta nossa para melhorar a aqualidade de vida da população lgbt deste Brasil. a luta sempre com a ABGLT. TAMOS NA LUTA E PRECISAMOS DA NOSSA CIDADANIA DE FATO.
AQUI EM VITÓRIA-ES ESTAMOS ANTENADOS NA ABGLT E TODA SUA ESTRUTURA E VISIBILIDADE NO BRASIL NA CAUSA LGBT.UNIDOS SEMPRE PRECISAMOS DE MAIS QUALIDADE DE VIDA A POPULAÇÃO LGBT E LUTA PARA O CASAMENTO IGUALITÁRIO.
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