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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Gay católico vai a Aparecida ver Papa e espera mudanças na igreja

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Luiz Ramirez posa diante de imagem católica na casa dos pais, em São Paulo (Foto: Raul Zito/G1)
Homossexuais católicos têm fé de que o Papa Francisco faça algum pronunciamento sobre a relação entre os gays e a igreja durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que será realizada no Rio de Janeiro na próxima semana. Alguns irão ao encontro do pontífice em Aparecida (SP) e outros realizarão atividades paralelas como encontros e debates.
O filósofo Luiz Ramires Neto, 53 anos, conhecido como Lula, integra a Pastoral da Diversidade. Católico, ele assumiu ser gay quando ainda estava na universidade, onde estudava filosofia como preparação para ser padre. "Acabei me afastando da igreja. Ninguém me disse para sair, mas achei que seria mais coerente me afastar um pouco. Não que eu tenha perdido a fé, tenha deixado de fazer minhas orações e ir à missa com meus pais."
Em entrevista ao G1, Dom Geraldo Majella explicou que a igreja não proíbe a participação de homossexuais e que não exigirá de ninguém o abandono imediato das práticas homossexuais, já que considera "não ser fácil passar de um caminho para outro sem que haja uma conversão interior".
Acho que será difícil a Igreja Católica rever questões morais e anunciar mudanças significativas durante um evento como a Jornada Mundial da Juventude
Roberto Francisco Daniel, padre excomungado após declarar apoio aos homossexuais
A vinda do Papa Francisco para a JMJ trouxe o assunto à tona, apesar do debate ser antigo e da Igreja Católica sempre se posicionar contrária a esse comportamento, há uma expectativa de que o pontífice trate do tema em um de seus proncunciamentos no Brasil.
Lula Ramirez ao lado dos pais católicos em São Paulo (Foto: Raul Zito/G1)Lula Ramirez ao lado dos pais católicos em São
Paulo (Foto: Raul Zito/G1)
Porque essa relação [homossexual] não serve para a igreja? Porque parece uma depravação? Estamos falando de amor. Não estamos falando de violência. Porque esse meu amor vale menos?"
Valéria Melki,
da ONG Católicas pelo Direito de Decidir
Essa é a opinião do padre Roberto Francisco Daniel, que foi excomungado depois de declarar apoio aos homossexuais, em Bauru (SP). "Acho que será difícil a Igreja Católica rever questões morais e anunciar mudanças significativas durante um evento como a Jornada Mundial da Juventude. Não acho que este seja momento para ele apresentar alguma mudança essencial. Ele vai apoiar as manifestações que aconteceram no Brasil, mas não vai mudar nada em termos de regras morais da igreja."
Daniel disse ainda que o Papa "foi voto vencido quando a Igreja Católica argentina discutiu o casamento igualitário. Ele votou a favor do casamento [homossexual], mas ele tem uma cabeça com pé no chão, é realista. Ele tem outros desafios como arrumar a casa do Vaticano."
O padre afirmou ainda que "ele [Papa Francisco] tem um discurso parecido com o da Igreja Católica da década de 1960, 1970 e 1980, sobre a teologia da libertação. Enquanto isso, os jovens pertencem a movimentos mais espiritualistas, de renovação carismática. Não sei como eles receberão a mensagem dele."
Tradição de exclusão
Para Valéria Melki, 46 anos, da coordenação da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, o catolicismo fanático não aceita as diferenças. "A exclusão se trata de uma posição oficial católica, da mais alta hierarquia católica. Há uma tradição na vida católica de opiniões nem sempre convergentes. Quando o papa fala, ele fala pela igreja, mas não significa que ele fala por todos os católicos. Se a gente pensar na igreja como o povo de Deus, o papa não fala por eles."
Valéria acredita que o Papa Francisco pode até ter uma opinião diferente da apresentada pela Igreja Católica, mas que "ele não pode expressar a opinião de uma ala da igreja, super conservadora, e dizer que isso representa a todos. As conquistas dos homossexuais como iguais, não são aberrações. Essas religiões cristãs, não só os católicos, mas também os evangélicos, sacralizam a homofobia. Essas pessoas se sentem fortalecidas para serem homofóbicas."
Ela questiona a igreja católica sobre seu amor não significar algo tão importante para a religião como é para a vida dela. "Sou católica, homossexual, fui batizada, fiz primeira comunhão, mas não faço parte dessa sociedade que me exclui, que o tempo todo me diz que o meu amor não vale, minha fé não vale, que minha relação pessoal não serve. Não frequento a igreja, apenas quando vou a casamentos. Não sou praticante porque a própria igreja me impede."
Valéria vai completar 9 anos de relacionamento com sua companheira. "Temos uma relação de profundo respeito, de solidariedade. Porque essa relação não serve para a igreja? Porque parece uma depravação? Estamos falando de amor. Não estamos falando de violência. Porque esse meu amor vale menos?"
Um Deus contra os homossexuais
Segundo Valéria, "quem tem mais dificuldade de respeitar os homossexuais são as [igrejas] monoteístas, os que têm um único caminho, um único Deus, pois não entendem as diversidades. As religiões de matriz afros têm mais facilidade, as de origem oriental acabam sendo mais receptivas às diferenças, com compaixão e amor ao próximo."
Ela disse que é importante que jovens possam entrar em contato com outras formas de catolicismo. "A alta hierarquia católica diz que homem e mulher foram criados para procriação. Há vários religiosos que pensam de outra maneira. A ideia é mostrar que é possível ser católico sem viver com essa homofobia institucionalizada."
Valéria espera que a vinda do Papa Francisco faça com que a Igreja Católica una mais as pessoas. "O meu Deus não é o mesmo Deus do Papa João Paulo II, do Bento XVI e do Francisco, não é um Deus rançoso. Não vejo o mesmo Deus como eles veêm. Eu vejo um Deus que é amor puro, que acolhe, que recebe, um Deus que está pensando no bem de todas as pessoas e não um Deus punitivo."
Fonte: G1

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