Contestamos: pesquisa afirma que 1 a cada 10 gays no Brasil tem o HIV
Noticiamos na sexta passada, na coluna de Fofocas, a informação que saiu nos grandes jornais, com letras garrafais: “um a cada 10 gays tem HIV”, mas queríamos esperar mais informações do Ministério da Saúde, que realizou e divulgou a pesquisa que faz a afirmação divulgada durante o Congresso Brasileiro de Prevenção das DST, Aids e Hepatites Virais. Aguardamos também a resposta do CDC americano, citado pela pesquisa brasileira, que afirma que 9,1% dos homens que fazem sexo com homem possuem o vírus da AIDS por lá e que aqui os números seriam semelhantes. Tentamos contato também com a Dra. Ligia Kerr, da Universidade Federal do Cará para comentar os dados. Como recebemos vários emails de nossos leitores, preocupados com a notícia, resolvemos nos manifestar antes de receber as respostas.
Se você leu o parágrafo acima, já percebeu alguma mudança na notícia. O termo "homens que fazem sexo com homens" (HSH) engloba: travestis, gays, homens que só transam com outros homens mas não se consideram gays, além de bissexuais, garotos de programa, homens que se consideram héteros e que transam com outros homens, e todo tipo de homem que já teve contato sexual com outro, nos últimos 12 meses, como estabelece a pesquisa. O estudo que compara os dados com o público heterossexual tem diversas falhas, entre elas, a de que a coleta dos dados dos homossexuais foi conduzida por Centros de Testagens ou unidades do Sistema Único de Saúde, ou seja, em locais nos quais as pessoas vão para fazer o teste do HIV e representam uma parte específica da população que procura o SUS - muitas delas afirmam que foram lá porque desconfiavam que possuíam o vírus, diz a pesquisa. A pesquisa com os HSH é compara com dados dos heterossexuais de pesquisa feita em outro ambiente, em outro ano, por outra metodologia (foi usada uma pesquisa do IBGE, feita em 2008, Pesquisa sobre Comportamento, Atitudes e Práticas Relacionadas às DST e Aids na População Brasileira).
No estudo, cada “semente” ouvida pela pesquisa deveria indicar outros três, e assim chegou-se aos quase 4 mil entrevistados (Método de amostragem indicada pelo entrevistado – RSD). Ora, se a rede social de uma pessoa que tem o HIV inclui outros na mesma condição, a pesquisa pode ser exponencialmente fadada ao erro. Outro equívoco, além de dizer que eles representam a população gay, é que a pesquisa diz que os HSH tem formação educacional maior, então perguntamos: quais pessoas com nível superior que estariam dispostos a se identificarem em uma pesquisa, coletar sangue, e responder questões em uma unidade de saúde? Resposta: os que já acessam as unidades de saúde, ou seja, os que participam de grupos gays ou que possuem o HIV e recebem ou medicamento gratuito – o que explica a afirmação de que gays procuram mais os sistema público de saúde, apresentado na pesquisa. Conversamos com uma pessoa que acompanhou o mesmo estudo em Curitiba e ela informou da dificuldade de se achar pessoas para responderem as questões e que até redes sociais na internet foram utilizadas para encontrar pessoas que queriam responder a pesquisa. Ou seja, uma pessoa com HIV iria estaria mais disposta a participar de uma pesquisa sobre o tema do que uma pessoa que outra qualquer.
A comparação com dados dos EUA é mais irresponsável ainda. Lá, meio milhão de HSH foram diagnosticados com o HIV. Só que o CDC – Centers for Disease Control and Prevention - reconhece como homoeróticos apenas 2% da população, ou seja, 2% de 320 milhões. O próprio CDC afirma que a média correta de uso para numerar o universo HSH seria 7% da população, o que alteraria e muito os resultados, e isso está sendo corrigido por lá. Os 500 mil casos de HIV em HSH americanos representariam 12,8% dos gays do país, ou seja, mais de um a cada 10 - se homens que fazem sexo com homens fossem apenas 2% da população, o que não é verdade!
No Brasil, aplicados cálculos semelhantes, teríamos 9 milhões de HSH (2% de 180 milhões), que representam 33,5% dos registros de HIV no país, segundo dados do próprio Ministério (o Brasil teria 500 mil casos diagnosticados, 167 mil casos somente de HSH). Ou seja, dos 9 milhões de HSH brasileiros, 167 mil teriam o HIV, mesmo assim, teria uma incidência de 1 caso a cada 53 e não 1 a cada 10. Lembrando que consideramos como HSH, todos que já tiveram contato sexual com o mesmo sexo nos últimos 12 meses.
Foi dito então que na população em geral o índice de prevalência do HIV é de 0,8% e que a pesquisa encontrou 10,5% entre os gays. Sendo que os dados heteros foram indicados pelo cálculo de dados epidemiológicos, como os do parágrafo anterior, e o entre gays foi feito pela pesquisa polêmica.
O dado de 1 para 10, dito pelo Ministério no Congresso Brasileiro de Prevenção das DST, Aids e Hepatites Virais, realizado em Brasília entre quarta e sábado, refere-se aos casos verificados na pesquisa em questão. Ou seja, uma a cada 10 pessoas que fizerem sexo com pessoas do mesmo sexo no último ano e foram indicadas por pessoas que utilizam o SUS tem o HIV. Isso também não diz que pegaram o vírus por uma relação homossexual, e menos ainda que são gays.
A pesquisa inclui as cidades: Manaus, Recife, Salvador, Curitiba, Itajaí, Santos, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande e Distrito Federal. Como não apresentaram os dados específicos de cada cidade, só podemos especular que em algumas delas trouxeram dados viciados, por conta da dificuldade de encontrar voluntários e pelo método de indicação, já que uma pessoa que tem HIV conhece outras pessoas com o HIV e participam mais de pesquisas deste tipo.
Sem querer tirar a credibilidade da pesquisa, podemos afirmar que ela foi irresponsável em sua divulgação, uma vez que os próprios dados dos últimos boletins epidemiológicos contestam o que foi afirmado e a comparação com dados norte americanos e brasileiros foi infeliz. Infelizmente, a afirmação que foi parar em sites como o da Sociedade Brasileira de Epidemiologia e capas de jornais, o que só aumenta o estigma sobre os homossexuais. A baixa auto-estima e o preconceito se alimentam de notícias assim. É totalmente mentirosa a afirmação de que 1 a cada 10 homossexuais possuem o HIV, se não levadas em conts as condições da pesquisa.
Foi uma afirmação leviana e nada condizente com a política de prevenção brasileira que entende que prevenção e auto-estima andam juntas. A pesquisa se refere aos HSH pesquisados e está claramente mal conduzida e comparada de forma errônea com dados do IBGE e dos EUA. Aguardamos a manifestação do Ministério da Saúde e do Centers for Disease Control and Prevention dos EUA, e da pesquisadora responsável para elucidar nossas dúvidas e outras de nossos leitores.
O dado de 1 para 10, dito pelo Ministério no Congresso Brasileiro de Prevenção das DST, Aids e Hepatites Virais, realizado em Brasília entre quarta e sábado, refere-se aos casos verificados na pesquisa em questão. Ou seja, uma a cada 10 pessoas que fizerem sexo com pessoas do mesmo sexo no último ano e foram indicadas por pessoas que utilizam o SUS tem o HIV. Isso também não diz que pegaram o vírus por uma relação homossexual, e menos ainda que são gays.
A pesquisa inclui as cidades: Manaus, Recife, Salvador, Curitiba, Itajaí, Santos, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande e Distrito Federal. Como não apresentaram os dados específicos de cada cidade, só podemos especular que em algumas delas trouxeram dados viciados, por conta da dificuldade de encontrar voluntários e pelo método de indicação, já que uma pessoa que tem HIV conhece outras pessoas com o HIV e participam mais de pesquisas deste tipo.
Sem querer tirar a credibilidade da pesquisa, podemos afirmar que ela foi irresponsável em sua divulgação, uma vez que os próprios dados dos últimos boletins epidemiológicos contestam o que foi afirmado e a comparação com dados norte americanos e brasileiros foi infeliz. Infelizmente, a afirmação que foi parar em sites como o da Sociedade Brasileira de Epidemiologia e capas de jornais, o que só aumenta o estigma sobre os homossexuais. A baixa auto-estima e o preconceito se alimentam de notícias assim. É totalmente mentirosa a afirmação de que 1 a cada 10 homossexuais possuem o HIV, se não levadas em conts as condições da pesquisa.
Foi uma afirmação leviana e nada condizente com a política de prevenção brasileira que entende que prevenção e auto-estima andam juntas. A pesquisa se refere aos HSH pesquisados e está claramente mal conduzida e comparada de forma errônea com dados do IBGE e dos EUA. Aguardamos a manifestação do Ministério da Saúde e do Centers for Disease Control and Prevention dos EUA, e da pesquisadora responsável para elucidar nossas dúvidas e outras de nossos leitores.
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