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| A Reforma Política é um tema cada vez mais discutido | 
(Para repercussão interna aos movimentos negro e LGBT)
A recente onda conservadora começou com a visibilidade das agressões a gays brancos e de classe média em todo o  país e em especial em São Paulo, consolidou-se com os avanços do início do ano, e  se aprofundou com a reação das bancadas fundamentalistas evangélica e  católica, em especial do Poder Legislativo. A hegemonia do movimento LGBT, que até  então se contentava com os programas do Executivo (executada por ONG’s de gays e  algumas poucas de travestis), viu a derrota da principal política pública  operada no governo e teve que disputar os projetos de nosso interesse no Congresso.
De novo, erra. O recuo programático observado no novo projeto substitutivo dos PLC 122 - operado em reuniões secretas  com os inimigos da causa LGBT cujos presentes não têm coragem de vir a público defender - foi detido pelos próprios parlamentares. A Rede Afro LGBT  manifesta maior tranqüilidade ao saber que as imprescindíveis conversas com os parlamentares evangélicos serão precedidas por uma tática (e não o  contrário), e que o novo projeto não vai abrir mão de criminalizar a indução ao ódio  e equiparar a homofobia ao racismo. Somos negros gays, lésbicas,  bissexuais, travestis e transexuais, conhecemos o sofrimento causado por ambas as  discriminações, e sabemos que não há hierarquia entre elas. A lei também precisa  reconhecer isso.
Mas achamos que o movimento LGBT não pode parar por aí. Nossos princípios sempre nos alertam que a disputa  institucional, por mais importante e às vezes prioritária que seja, não pode guiar a estratégia de superação da lesbofobia, transfobia e homofobia. E não é diferente agora.
Primeiro, achamos fundamental que o movimento social esteja unificado na defesa do Estado laico. O movimento LGBT  deveria ser o primeiro a chamar a todos e a construir uma plataforma unificada. E  alguns vão inclusive dizer que estamos fazendo. Afinal, várias paradas LGBT têm tematizado a luta contra os fundamentalistas. Será mesmo? Afirmar que  deus não é homofóbico não ajuda a conter os religiosos conservadores. Ao  contrário, leva o debate para o terreno deles. Contradição incontornável, essa parcela  do movimento LGBT quer reivindicar um Estado laico em nome de deus...
Outro argumento poderia se referenciar nos fenômenos das marchas e mobilizações da era informatizada. Estaria mais  próximo de nos convencer de que o tema está sendo debatido, mas não que se  trata de uma estratégia do movimento LGBT aliado a outros movimentos  sociais. Essas marchas são movimentações quase que independentes, embora  inclusivas, sem orientação de grandes entidades ou personalidades, com uma pauta difusa,  apelo na classe média e movimentação bastante fugaz. São fundamentais no novo  momento político, onde o engessamento das entidades as tirou das ruas, e  defendemos que as organizações devem participar ativamente delas sem procurar  dirigi-las. E ainda mais daquelas como a Marcha pelo Estado Laico, construídas por diversos movimentos sociais no Rio de Janeiro.
Mas as marchas não cumprem nem cumprirão o papel das organizações do movimento, de pensar e agir estrategicamente  com objetivos de curto e de longo prazo. Quais seriam, então, as táticas de  curto prazo? Acreditamos que o movimento LGBT deve aliar dois debates que  estão ocorrendo em paralelo: o Estado laico, defendido pelos movimentos  sociais, e a Reforma Política, ainda discutida apenas no âmbito do Congresso. E a  defesa da laicidade do estado cai com uma luva no debate da reforma! Que tal se  fossem tematizadas nas paradas LGBT, levando a discussão para as escolas,  associações comunitárias, sindicatos e espaços de sociabilidade em geral?
Coordenação Nacional da Rede Afro LGBT 

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